De bem com sua memória - parte 4

Na sua opinião, aprender e lembrar são sinônimos de um mesmo processo? Hoje sabemos que não, aprender e lembrar são fenômenos distintos, embora interdependentes. Se para lembrar eu preciso antes aprender, para aprender eu preciso antes lembrar de uma série de outras informações já residentes na minha memória e estabelecer comparações e associações entre elas.

Os conhecimentos atuais de como nosso cérebro aprende e memoriza revelam um processo realizado, basicamente, em quatro etapas: codificação, armazenamento, recuperação e esquecimento.

De todas essas etapas, a primeira é a mais admirável, a mais importante e a que menos conhecemos. A codificação é o primeiro contato do cérebro com a informação, seja ela da natureza que for (visual, auditiva, táctil, olfatória ou gustativa), traduzindo-a em impulso eletroquímico que é a linguagem pela qual nossos neurônios conversam entre si.

Sabemos que quanto mais elaborada for a codificação, mais forte será a lembrança (a importância da emoção na memorização) e que a recuperação da informação depende do contexto e do estado em que estávamos quando a codificamos pela primeira vez. Eu explico no final.

Para ficar de bem com sua memória, essas são as regras de hoje: 1) Repita para lembrar, procure se transportar para o ambiente e o estado (alegria, tristeza, atenção, surpresa, descrença, etc.) em que você se encontrava quando recebeu aquela informação pela primeira vez, nem que seja só com a imaginação; 2) Use e abuse de exemplos do mundo real, seja para você guardar, seja para repassar uma informação para outra pessoa; 3) A introdução é a alma do negócio! Os diretores de Hollywood sabem muito bem que os três primeiros minutos são essenciais para o arrebatamento da audiência e o consequente sucesso financeiro de um filme. Para os profissionais das comunicações, você ganha ou perde a batalha pela atenção do seu público nos primeiros trinta segundos de sua apresentação! 4) O ambiente torna a codificação mais elaborada, portanto, explore o ambiente no momento de codificar uma informação.

* Marco Antônio Arruda é médico neurologista e membro da Academia Brasileira de Neurologia.

** Publicado originalmente no site Saúde em Pauta.