A vida começa aos 45

Mulheres possuem células-tronco ovarianas que podem produzir novos óvulos. Foto: Reprodução/Internet

Células-tronco ovarianas capazes de produzir novos óvulos representam uma esperança para mulheres mais velhas que sonham com a maternidade.

Quando se trata de reprodução, para os homens é tudo fácil. Praticamente até o fim da vida, a maioria tem uma ampla reserva de esperma. Mulheres não são tão sortudas. Elas nascem com um estoque de óvulos que tipicamente acaba quando elas alcançam a meia idade. Isto pode estar prestes a mudar, no entanto. Pesquisadores confirmaram que mulheres possuem células-tronco ovarianas, e que elas podem produzir novos óvulos.

Células-tronco têm a habilidade de se dividir continuamente e de se transformar em diferentes tipos de células. Células-tronco de adultos podem produzir uma variedade de tipos de células, além das que formam o tecido no qual se encontram.

Em 2004, Jonathan Tilly da Escola de Medicina de Harvard e seus colegas descobriram células-tronco em ovários de ratos. Desde então, tem sido demonstrado que essas células-tronco ovarianas podem desenvolver óvulos, ser fertilizadas e produzir filhotes de rato perfeitamente saudáveis. Mas pesquisadores têm relutado em acreditar que algo similar poderia ser possível em humanos.

Provar que este era o caso, na verdade foi difícil. Tecido ovariano humano – especialmente de doadoras jovens e saudáveis – não é fácil de achar. A grande descoberta de Tilly veio quando ele descobriu que um ex-colega, Yasushi Takai, da Universidade de Medicina de Saitama, no Japão, tinha em seu freezer tecido ovariano saudável de 30 pacientes que haviam mudado de sexo.

Usando uma sofisticada técnica de separação de células, os pesquisadores desenvolveram uma forma de identificar células-tronco ovarianas que funcionam tanto para ratas quanto para humanas. Eles então pegaram as células-tronco ovarianas, rotularam-nas com uma proteína verde fluorescente e as colocaram de volta em uma fatia de ovário humano (enxertada em uma rata viva, para que funcionasse de forma similar a um ovário normal). As células verdes brilhantes em seguida produziram uma safra de óvulos humanos novinha em folha, de acordo com as descobertas publicadas esta semana na revista Nature Medicine.

Fertilização no exterior

Fertilizar esses óvulos para pesquisa é proibido nos Estados Unidos. A Autoridade Britânica de Fertilização Humana e Embriologia, no entanto, permite em certos casos. Então, no próximo mês, Tilly vai levar parte da sua equipe para Edimburgo para colaborar com Evelyn Telfer, que desenvolveu uma técnica para cultivar óvulos humanos desde uma fase precoce. Ela possui uma licença para fertilizá-los experimentalmente.

A descoberta pode revolucionar o tratamento da infertilidade para mulheres de várias formas. Para início de conversa, a pesquisa mostrou que, em ratas, até mesmo ovários mais velhos continham células-tronco. E quando estas células são colocadas em um ovário mais jovem, elas geram óvulos saudáveis. Isto levanta a hipótese de que, um dia, mulheres de idade mais avançada poderiam ter filhos biológicos. Atualmente, muitas mulheres acima de 45 têm que se contentar em fazer fertilização in vitro usando o óvulo de uma mulher mais jovem.

Alternativas

Outros tratamentos estarão à disposição mais cedo. A Ova Science, uma empresa especializada em fertilidade em Boston, que tem os direitos exclusivos de explorar a pesquisa de Tilly em células-tronco ovarianas de mamíferos, começará a oferecer um novo tratamento em julho. Este usa as células-tronco de uma mulher para lhe fornecer óvulos com mais energia ao criar novas mitocôndrias – organelo existente dentro das células fornecendo a elas energia. Elas também podem ficar mais escassas e menos produtivas com a idade. Estudos anteriores mostraram que aumentar mitocôndrias pode aumentar drasticamente o sucesso de fertilizações in vitro. Quando se trata de reprodução, tudo ainda vai ser mais fácil para os homens por algum tempo. Mas, mulheres estão alcançando-os.

* Publicado originalmente no site Opinião e Notícia.