Obesidade: lidando com o preconceito

Quando o ato de se alimentar em público passa a ser uma preocupação para crianças e adultos obesos, podemos imaginar o quanto a obesidade interfere na vida das pessoas, estigmatizando e fazendo-as sofrer por causa deste grave preconceito.

“A obesidade é vista como um estigma, que caracteriza um estilo de vida desregrado. Em muitos casos, a doença é entendida como um problema moral, uma falha de conduta ou como sinal de desorganização da vida pessoal”, diz a endocrinologista Ellen Simone Paiva.

“Com a experiência de quase três décadas no atendimento a pacientes obesos, já ouvi e vivenciei situações que comprovam que a obesidade traz muitas dificuldades, que vão além da esfera da saúde, dificultando o convívio social, impondo entraves à carreira e comprometendo a auto-estima do obeso, trazendo muito sofrimento”, afirma Ellen Paiva.

Todos os fatos reforçam situações cotidianas de estresse e sofrimento para as pessoas obesas. “É só conversar com um paciente obeso por mais tempo. Eles já criaram uma couraça para enfrentar os problemas criados pelo preconceito em seu dia a dia, tais como a dificuldade de encarar um vendedor de uma loja de roupas, que, antes mesmo de ouvir a solicitação do cliente obeso, já diz que não tem a numeração extra-grande ou ainda o constrangimento de não ir ao cinema ou ao teatro, porque as salas de entretenimento não oferecem lugares seguros e confortáveis para eles”, conta Ellen Paiva.

Com todos os fatores negativos vividos no dia a dia, é compreensível o surgimento de associações de obesos, à exemplo da norte-americana Naafa (Associação Nacional para o Avanço da Aceitação dos Gordos), que busca defender os direitos de cidadão e do ser humano do obeso.

“Eles não aguentam mais serem recusados por seguradoras de saúde, serem sinônimos de diabetes e doenças do coração, correrem o risco de pagar mais caro por passagens aéreas e serem alvo de gozação nas escolas. É importante o esclarecimento da sociedade, para que as pessoas compreendam que a obesidade é uma doença crônica e ainda sem cura, que está longe de ser uma fraqueza de caráter ou um desleixo com a vida pessoal”, argumenta a endocrinologista.

* Publicado originalmente no site O que eu tenho.