Os perigos da interação medicamentosa

Ao tomar mais de um remédio concomitantemente, as pessoas devem ficar atentas aos problemas causados pela chamada interação medicamentosa – que causa efeitos colaterais por conta da interação entre os componentes dos remédios ingeridos por um indivíduo.

“De acordo com a Fundação Oswaldo Cruz, esse tipo de interação entre dois ou mais medicamentos pode levar à morte em torno de 24 mil pessoas no País. Uma pesquisa detalhada, feita pelo órgão norte-americano Food and Drug Administration (FDA, cuja atividade é similar à feita pela Anvisa, no Brasil), chegou a aproximadamente 106 mil mortes por ano nos EUA”, alerta o médico Paulo Celso Budri Freire, idealizador do Portal “Saúde Direta”, uma iniciativa que visa a ser uma ferramenta de apoio para auxiliar os médicos a ficarem alertas para possíveis interações entre medicamentos usados pelos pacientes atendidos.

Números subestimados

O número de casos no Brasil de interação medicamentosa (IM) pode estar subestimado, diz Freire. “Principalmente se formos comparar com o número indicado pelo FDA. Isso porque aqui no Brasil o número de pessoas que se automedica é muito maior e até pouco tempo atrás qualquer pessoa podia comprar antibióticos sem receita no balcão da farmácia”, completa o especialista.

A literatura médica indica um risco de 15% de possibilidade de interação entre medicamentos – com danos para a saúde do indivíduo – quando se toma três remédios paralelamente, diz Freire. E esse risco sobe para 80% de chances quando se consomem seis medicamentos concomitantemente. Acima de oito remédios diferentes, esse risco é certo, são 100% de chances de interação medicamentosa (IM), explica o médico.

“Se formos considerar que uma boa parte da população de idosos tem necessidade do que chamamos de ‘multifarmácia’, ou seja, tomam vários medicamentos por conta de condições de saúde diversas, é possível afirmar que muitos indivíduos estão sofrendo com IM. Ainda mais se você adicionar a essa equação o fato de que os profissionais médicos que atendem esses indivíduos não necessariamente conversam, e podem não saber a totalidade de medicamentos ingeridos por seus pacientes”, completa o especialista que lembra ainda que o Portal “Saúde Direta” conta com protocolos de atendimento, o que pode facilitar a indicação dos tratamentos aos pacientes.

Um prontuário eletrônico automatizado – que diminui os riscos dos pacientes e farmacêuticos se confundirem com o medicamento indicado –, que também faz parte do projeto liderado por Freire, pode evitar a troca de remédios na hora da compra. “Só isso diminuiria em até 80% os riscos dessas trocas de medicamentos e possíveis efeitos colaterais no público idoso”, afirma Freire.

Com um prontuário eletrônico é possível também criar um histórico de cada paciente atendido. E a partir desse histórico de saúde dos pacientes, os médicos também podem verificar se aquele indivíduo está correndo risco de ser vítima de uma interação medicamentosa (um evento que tem mais de 155 mil variações). “É impossível para os médicos decorarem todas essas interações e as opções são a consulta de livros em português ou acessar sites em inglês, onde os medicamentos podem estar indicados com outros nomes”, diz Freire.

Mas além da população idosa, alerta o médico, pessoas de qualquer idade podem ter problemas com IM. “Um antibiótico pode influenciar na ação de um anticoncepcional, por exemplo. E com isso, a ‘pílula’ pode falhar, ou seja, por conta da IM pode ocorrer uma gravidez não planejada. Esse é apenas um dos problemas que é possível citar. Como eu disse, são mais de 150 mil possibilidades de interações e consequente reações adversas”, aponta Freire.

* Publicado originalmente no site O que eu tenho.