Os indicadores de saúde são melhores quando existe alfabetização em saúde satisfatória

Um estudo recém-publicado pelo periódico Annals of Internal Medicine analisou o conjunto das pesquisas mais relevantes sobre o impacto que tem um baixo grau de alfabetização em saúde e concluiu que este é um problema que está associado a piores indicadores de saúde, uso menos eficiente dos serviços de saúde e dificuldades para entender e seguir as orientações médicas.

Cerca de cem pesquisas foram avaliadas e os resultados apontaram que pobres níveis de alfabetização em saúde têm associação com os seguintes índices:

– mais internações hospitalares;

– mais atendimentos em serviços de emergência;

– menos exames de mamografia preventivos e menos vacinação para gripe;

– menos habilidade em demonstrar que as medicações estão sendo usadas de forma apropriada;

– menor capacidade para interpretar bulas de medicamentos e rótulos de alimentos ou mensagens de promoção de saúde;

– pior estado de saúde e maior mortalidade entre os idosos.

Um dos principais objetivos da comunicação em saúde é proporcionar que indivíduos e comunidades melhorem comportamentos relacionados ao processo saúde-doença, por meio do compartilhamento de informação. Isso pode resultar no incremento da alfabetização em saúde da população, que pode ser definida como a capacidade de obter, processar e compreender informação básica em saúde necessária à tomada de decisões apropriadas e que apoie o correto seguimento de instruções terapêuticas. Estima-se que, nos Estados Unidos, anualmente, são gastos entre US$ 106 bilhões e US$ 236 bilhões anuais por conta do baixo nível de alfabetização em saúde e suas consequências, como a não procura de ajuda médica quando necessária, a dificuldade em assumir hábitos de vida saudáveis e erros no uso de medicações.

A comunicação em saúde tem sido definida como a “principal moeda do Século 21” nesse setor e, nos Estados Unidos, vem sendo encarada como a mais importante área na interface entre ciência e sociedade neste século, fazendo parte dos objetivos do Healthy People 2010, a agenda oficial de saúde pública do governo americano. No Brasil, deliberações das Conferências Nacionais de Saúde apontaram informação, educação e comunicação como elementos estratégicos para consolidação do Sistema Único de Saúde (SUS) e para a conquista da cidadania plena no Brasil.

Quando se fala em comunicação pública da ciência, alguns autores criticam o uso do termo “alfabetização científica”, e a mesma crítica pode ser estendida ao termo “alfabetização em saúde”. O termo alfabetização reflete o modelo anglo-saxão de comunicação em ciência, também conhecido como modelo de déficit, centrado no indivíduo, pelo qual o público é uma entidade passiva com falhas de conhecimento, com fluxo de informação numa única direção. Por outro lado, o termo cultura científica traz uma contextualização mais sistêmica, saindo do foco do indivíduo como mero depósito de informação, para uma visão mais ampla de que cultura em saúde é uma condição da sociedade.

Novos conceitos poderiam ser utilizados em substituição ao de alfabetização em saúde, como é o caso de entendimento público da saúde, assim como consciência pública da saúde, ambos chamando a atenção de que cultura em saúde vai além do processo de aquisição de informação, e envolve a construção de uma sociedade com visão crítica das diversas dimensões que envolvem o conhecimento.

* Ricardo Teixeira é doutor em Neurologia e pesquisador do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Dirige o Instituto do Cérebro de Brasília.

** Publicado originalmente no blog do autor ConsCiência no Dia-a-Dia.