‘A imprensa não é opinião pública’ - Entrevista com Marina Silva

Marina Silva. Foto: WWF Brasil
Marina Silva. Foto: WWF Brasil

O novo partido de Marina Silva é Rede – “não rede da internet”, ela explica, “mas rede humana”– e foi na internet que ela coletou 780.500 votos para sua oficialização. A caminho de uma entrevista organizada nesta semana pela agência EFE, situada na Avenida Paulista, ela ouviu os alto falantes dos grevistas clamando pelo “fim do monopólio da imprensa na mão de algumas 13 famílias, queremos democracia”. A respeito do cerceamento à imprensa que faz escola em países latino-americanos como Equador, Venezuela e Argentina, Marina respondeu à pergunta do Observatório:

“Qualquer pessoa que defende a democracia é radicalmente contrária a qualquer tipo de cerceamento à liberdade de imprensa. É inaceitável o que alguns governos tentam fazer para coibir a exposição pública de suas fragilidades e descompromissos programáticos, ou impedir que surjam tribunas para críticos a suas iniciativas políticas.”

“Por outro lado, também é justo condenar aqueles que deliberadamente manipulam informações para criar situações de dificuldades para quem não é alinhado com seus interesses ou com suas orientações políticas. A imprensa não é opinião pública. Ela procura expressar opinião pública.”

“Essa abordagem que acabo de fazer, no entanto, pode, em breve, deixar de fazer sentido com a elevação da expansão da internet e seu acesso a ela. À medida que cada um de nós assume o poder da mídia que nos é ofertado pela internet, as possibilidades de controle da informação se reduzem drasticamente.”

“Com esse ferramental tecnológico, mesmo em países com governos centralizadores como a China, as pessoas sempre encontrarão brechas para expor suas ideias contrárias ao pensamento oficial.”

Cores e símbolos

“Em razão disso, creio que bandeiras como o fim do monopólio da imprensa tendem a se tornar extemporâneas. O foco hoje para defender o acesso universal à informação deve ser a garantia do direito de todo e qualquer cidadão ter acesso à internet. Ela deve ser um ambiente de todos e não de alguns.”

“Isso por si só quebra o paradigma do controle, uma vez que a internet, por seu DNA, não admite controle.”

E acrescentou Marina, sobre a manifestação que ocorria do lado de fora:

“Os atos promovidos pelas centrais sindicais em 11 de julho são decorrência das grandes manifestações que ocorreram em junho, sem a chancela das formas clássicas de mobilização (sindicatos, partidos, centrais sindicais). Esse personagem indefinível forneceu ‘licença política’ para antigas organizações voltarem às ruas com suas cores, símbolos e pauta de reivindicações. Ele foi capaz de provocar as instituições do poder a se moverem para dar respostas imediatas a alguns de seus questionamentos. Resta saber se as centrais sindicais terão capacidade de provocar o mesmo tipo de reação.”

* Norma Couri é jornalista.

** Publicado originalmente no site Observatório da Imprensa.