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Agricultores de Maurício deixam os químicos de lado

Kritanand Beeharry está orgulhoso de sua produção. Foto: Nasseem Ackbarally/IPS

Port Louis, Maurício, 27/2/2013 – O mauriciano Kritanand Beeharry pôde cultivar milhares de plantas de melancia sem utilizar fertilizantes químicos. O agricultor se orgulha de sua plantação de meio hectare em Soreze, perto de Port Louis, capital de Maurício. “Veja isto, estão fortes e mais desenvolvidas. É por causa da compostagem” (fertilizante orgânico), disse à IPS.

Já passou quase um mês desde que o governo se associou com produtores privados de compostagem para oferecer aos agricultores um subsídio de 30% na compra de fertilizantes produzidos com dejetos domésticos. Um crescente número de fabricantes já nota os benefícios. ‘É como o esterco que usávamos há muito tempo”, observou Beeharry, que “não esteve disponível por décadas, porque a criação de animais diminuiu e não tivemos outra opção a não ser os químicos que prejudicaram nosso solo”, explicou.

O Plano de Subsídios para o Compost, oferecido pelo governo desde o dia 1º deste mês, que permite os agricultores paguem US$ 50 a menos por tonelada de fertilizante orgânico elaborado pela firma Solid Waste Recycling. Roopesh Beekharry, diretor do Fundo para o Bem-Estar dos Pequenos Agricultores, que administra o subsídio, informou que 525 dos 12 mil produtores de Maurício já aproveitaram o desconto.

“E o número cresce a cada dia”, disse Beekharry à IPS, acrescentando que confia em um interesse ainda maior a partir de março. No total, cerca de dois mil agricultores compraram o fertilizante orgânico desde que a unidade foi inaugurada, em junho de 2012, segundo a Solid Waste Recycling.

O produtor de tomate Kripalou Sunghoon, da localidade de Triolet, afirmou que o subsídio chegou na hora certa, pois os preços dos fertilizantes químicos só aumentavam. Estes custam entre US$ 750 e US$ 800 a tonelada, enquanto a compostagem representa a alternativa mais barata, custando entre US$ 175 e US$ 200 a tonelada. “Já não podemos comprar químicos. A compostagem subsidiada baixará o custo de nossos insumos, além de dar nova vida ao solo”, resasltou o agricultor.

Os benefícios da produção orgânica não são novos para Manoj Vaghjee, presidente da Fundação de Recursos e Natureza, organização não governamental que promove a agricultura sustentável nesta ilha. A organização capacita, há cinco anos, produtores em agricultura biológica e no uso de compostagem. Vaghjee assegurou que, graças à compostagem, as plantas crescem mais fortes e resistem melhor aos insetos e às pestes, enquanto os produtores obtêm melhores colheitas. “Nossos aprendizes obtiveram entre 30% e 40% a mais de quiabo, milho, mandioca, abóbora e berinjela graças à compostagem”, disse à IPS.

O fertilizante orgânico também fortalece as raízes e previne a erosão do solo, segundo o engenheiro agrícola Eric Mangar, do Movimento para a Autossuficiência, organização não governamental pelo desenvolvimento rural. Por outro lado, “os químicos afetam o solo e reduzem a resistência das plantas a doenças e pestes”, afirmou à IPS. Além disso, “contaminam os rios e os lagos, bem como as reservas de água subterrânea, e também afetam a qualidade dos vegetais”, pontuou. Porém, a compostagem também recebe algumas críticas.

Raffick Dowlut, da Unidade de Pesquisa e Extensão Agrícola, informou que fez estudos nos quais constatou que o adubo orgânico elaborado a partir de lixo doméstico continha uma quantidade relativamente menor de nutrientes em comparação com os fertilizantes químicos. Contudo, admitiu que a “compostagem melhora a natureza física, química e biológica do solo, bem como sua fertilidade, ao contrário dos químicos”.

Por sua vez, o agrônomo Ramesh Rajkumar aconselha os produtores a não mudar drasticamente de fertilizante. Ele sugere o uso de uma mistura de compostagem e químicos, pois estes últimos fornecem minerais para as plantas. “A fertilidade do solo fica prejudicada pelo uso excessivo de químicos por um longo período. Devem ser usados lentamente”, destacou.

A usina de reciclagem da Solid Waste Recycling evita que cerca de cem mil toneladas de lixo sejam lançadas a cada ano no único depósito de lixo da ilha, na localidade de Mare Chicose, segundo Patrick Maurel, chefe-executivo da empresa. Se fossem despejadas ali, “contaminariam a água subterrânea e as reservas hídricas, além de liberar metano, que polui o ar”, disse Maurel à IPS.

Com 1,3 bilhão de habitantes, Maurício produz cerca de 1,2 mil toneladas de lixo por dia, equivalentes a 400 mil toneladas por ano, e o governo gasta US$ 16 milhões com sua coleta e transporte, segundo o Ministério de Governo Local. Citando um estudo de 2002 da Universidade de Maurício, Maurel disse que quase 90% do lixo era de recicláveis, e que 55% poderia ser transformado em compostagem e usado na agricultura.

Por sua vez, Beeharry destacou que o uso de fertilizante orgânico é uma melhora sob qualquer ponto de vista. “Quando nos preocupamos com o meio ambiente, nos preocupamos com os recursos naturais, a terra, a água, o ar. Isto não só ajuda para uma produção melhor, como nos garante alimento diário, agora e no futuro”, enfatizou. Envolverde/IPS