Sonhos, frustrações, limites e realidade para a sustentabilidade

Amor perfeito, paraíso perfeito, mundo perfeito. Quantas vezes nos iludimos com tais promessas!

Desde pequeninos somos estimulados a fantasiar a perfeição. As meninas costumam brincam de bonecas e casinhas, como se fossem de verdade, e sonham com príncipes encantados. Os meninos brincam de carrinho e de bola, como se fossem o mais bem-sucedido dos pilotos de automobilismo ou jogadores de futebol. Essas brincadeiras são convenientes para reforçar papéis culturais, nem sempre os mais adequados, que se esperam de meninos e meninas, mas também são úteis para estimular nossos sonhos! E como é bom e importante sonhar para nos retirar de uma realidade nem sempre a mais desejada e nos projetar para um outro mundo, perfeito! Seria um desastre se nossas crianças passassem a não mais acreditar nos sonhos, se nós próprios, adultos, resolvêssemos viver só de realidade! São os sonhos que nos impulsionam para querer ser diferentes do que somos hoje, querer ser melhores, num mundo melhor. Eles nos permitem acreditar que é possível, que vale a pena lutar! O perigo é se descolar de tal forma da realidade que os sonhos se transformam numa realidade ilusória, e a pessoa se desconecta do mundo.

À medida que crescemos, no confronto com a realidade, nossos sonhos vão sendo triturados como num moinho, mas para a nossa sorte, a cada sonho que se desfaz, logo é substituído por outro e mais outro, pois, assim como nosso corpo material precisa de comida, nosso corpo espiritual também precisa de utopias. O processo de ajustar nossos sonhos à realidade nem sempre se dá de forma tranquila. Sonhamos com um mundo onde o meio ambiente seja respeitado e exista justiça social, e o que mais vemos à nossa volta é destruição e descaso ambiental, fome, miséria, violência, exclusão social. Não que não existam boas práticas e bons exemplos de sustentabilidade, mas o fato é que os maus exemplos ainda os suplantam. Além disso, o mau tem a péssima mania de se sobressair ao bem.

A realidade pode ser muito dura – e geralmente é – em parte por que existe uma enorme distância entre querer e fazer, sonhar e realizar, e também por que não somos sozinhos, mas em rede. Assim como nossas escolhas influenciam aos demais, os demais também nos influenciam. Enquanto alguns se importam com a dor alheia, outros são insensíveis, enquanto uns se preocupam em deixar um mundo melhor para as próximas gerações, outros parecem viver como se não fosse existir um amanhã.

Ainda assim é importante continuar sonhando, acreditando que é possível, e nos empenhar com determinação para fazer o melhor que pudermos, e quando as frustrações nos alcançarem, é importante estabelecermos limites do quanto podemos suportar. Não deveria existir nenhuma vergonha em ceder um pouco a fim de se alcançar o consenso do que é possível e suportável, ainda que isso signifique abrir mão de nossos sonhos, pelo menos um pouco, para nos ajustarmos aos sonhos dos outros, pois a sustentabilidade não é um sonho que se sonhe só. Para virar realidade, a sustentabilidade precisa ser sonhada por todos.

* Vilmar Sidnei Demamam Berna é escritor e jornalista, fundou a Rebia – Rede Brasileira de Informação Ambiental e edita, deste janeiro de 1996, a Revista do Meio Ambiente (que substituiu o Jornal do Meio Ambiente) e o Portal do Meio Ambiente. Em 1999, recebeu no Japão o Prêmio Global 500 da ONU para o Meio Ambiente e, em 2003, o Prêmio Verde das Américas.