Campanha contra jornalistas em seu ponto mais crítico

Nações Unidas, 27/2/2012 – A quantidade de jornalistas presos chegou, em 2011, ao seu ponto máximo em 15 anos no mundo. Governos, organizações insurgentes e o crime organizado utilizam táticas novas e tradicionais para o controle da informação, segundo um estudo anual apresentado no dia 21. O objetivo principal é dissimular os crimes, silenciar a dissensão e reduzir o poder dos cidadãos, diz o informe “Ataques à imprensa em 2011”, elaborado pelo Comitê para a Proteção dos Jornalistas.

O Comitê identificou 179 jornalistas, editores e repórteres fotográficos atrás das grades em 1º de dezembro de 2011, 34 a mais do que em 2010, segundo o diretor-executivo da organização, Joel Simon. O Irã é, pelo segundo ano consecutivo, o país com mais jornalistas presos, com 42. Em seguida estão Eritreia com 28, China 27, Birmânia 12 e Vietnã com nove.

“A situação piorou no Irã, com uma contínua repressão aos meios de comunicação este mês depois de dez novas prisões de jornalistas em janeiro, que foram documentadas pelo Comitê”, informou Simon à IPS. “O governo também restringiu os informes adversos usando tecnologia sofisticada para bloquear sites, interferindo em sinais via satélite e proibindo publicações”, acrescentou.

Na América, embora as autoridades continuem detendo jornalistas por breves períodos, em 1º de dezembro não havia um só atrás das grades por motivos vinculados ao seu trabalho. As prisões também foram diminuindo gradualmente na Europa e na Ásia central, onde apenas oito jornalistas foram levados à prisão. Trata-se do menor número em seis anos.

Por outro lado, o censo 2011 registrou um aumento alarmante da quantidade de jornalistas presos sem que fossem condenados ou submetidos ao devido processo. Foram colocados 65 atrás das grades sem que se revelasse publicamente nenhuma acusação, muitos deles em prisões secretas às quais não têm acesso nem advogados e nem familiares. Em alguns casos, governos como os da Eritreia, Síria e Gâmbia negaram a existência destes jornalistas presos.

A investigação do Comitê de Proteção dos Jornalistas também mostra que a impunidade em todo o mundo continua muito alta, pouco abaixo de 90%, e permaneceu amplamente inalterada nos últimos cinco anos.

Na Líbia, onde o Comitê registrou apenas um jornalista morto entre 1992 e 2010, outros cinco foram condenados em 2011. Tanto na Síria como na Tunísia foi registrada a primeira morte de um jornalista desde que o Comitê iniciou sua contagem em 1992. No Bahrein, dois jornalistas morreram quando estavam em custódia devido ao que o governo chamou de “complicações médicas”, apesar de acusações generalizadas quanto a ambos terem sido torturados.

Em 2011, cerca de 40% dos repórteres morreram na cobertura de manifestações de rua, muitas delas durante a série de levantes populares que sacudiram o mundo árabe. “Os jornalistas, em particular os independentes, os blogueiros e os jornalistas ‘cidadãos’ desempenharam um papel enorme” na Primavera Árabe, ressaltou à IPS o subdiretor do Comitê, Robert Mahoney. “Aproveitaram o poder das mídias sociais e abraçaram a nova tecnologia para transmitir notícias e informação que há apenas alguns anos seriam impossíveis de serem reportadas, e muito menos publicadas. Alguns foram detidos e outros assediados por causa de seu trabalho. Outros pagaram com suas vidas”, afirmou Mahoney.

“Por exemplo, no Egito as autoridades tentaram conter a inundação de notícias e imagens que saíam da Praça Tahrir bloqueando o serviço de telefonia celular” e também realizando um apagão da internet em todo o país, contou Mahoney. “Porém, as notícias continuaram fluindo. A tarefa de informar também teve um papel importante no conflito líbio, mas ali o custo em matéria de vidas de jornalistas foi alto: em 2011 houve pelo menos cinco jornalistas assassinados”, acrescentou.

Na Síria, o regime aplicou um efetivo apagão aos meios de comunicação em março de 2011, proibindo os jornalistas de informarem ou entrarem no país, e detendo os repórteres locais que tentavam cobrir os protestos contra o governo de Bashar al-Assad. Em novembro do ano passado, o repórter cinematográfico Ferzat Jarban foi o primeiro jornalista assassinado na Síria em razão do trabalho que realizava, desde que o Comitê começou a realizar registros detalhados.

“Os jornalistas na Síria estão em um grande perigo, porque informar e analisar de modo independente é a última coisa que deseja o governo”, alertou Mahoney à IPS. O governo sírio negou à maioria dos jornalistas estrangeiros acesso ao país e, aos que permitiu que entrassem, restringiu fortemente. “Quem quer fazer suas reportagens tem que evitar os guardas sírios (e isto é difícil e perigoso para suas fontes) ou entrar em segredo no país, normalmente a partir da Turquia. Cruzar a fronteira clandestinamente é muito perigoso. Quem é pego pela patrulha síria está liquidado”, explicou Mahoney. “Os mais afetados pela campanha síria contra a imprensa são os jornalistas locais”, acrescentou.

Há duas semanas, 14 jornalistas, blogueiros e ativistas pela liberdade de imprensa do Centro Sírio para a Mídia e a Liberdade de Expressão foram presos, e no último ano outros seis foram assassinados, enquanto muitos outros fugiram do país. Envolverde/IPS