Eficiência energética e quebra de paradigmas

Foto: http://www.shutterstock.com/
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Existem limitações ambientais que devem ser consideradas, e a questão energética nos demonstra esta realidade com clareza. A população do planeta terra superou os 7 bilhões de habitantes. A população dos Estados Unidos da América oscila em torno de 300 milhões de habitantes.

Dividindo 7 bilhões por 300 milhões encontramos o número 23,3 ou 24. Ou seja, a população do planeta terra é aproximadamente 24 vezes maior do que a população americana. Logo não é possível que aproximadamente 4% da população mundial, situada nos Estados Unidos, seja responsável por mais de 70% dos gastos energéticos do planeta.

Ou que o consumo de energia dos Estados Unidos, com aparelhos de ar-condicionado seja maior do que o consumo de energia para todas as finalidades de aproximadamente 1,4 bilhão de habitantes da China. Este paradoxo poderia ser facilmente equacionado. Poderia se dizer que o crescimento econômico e o desenvolvimento futuro equalizariam o consumo energético.

Por isto se discute a questão do aquecimento global que afeta os países ricos e sua monstruosa poluição de ar e não se discute o saneamento que afeta os pobres com qualidade de água, falta de tratamento de esgoto e má gestão de resíduos sólidos…

E é por isto que todas as iniciativas da ONU acabam sem sucesso, quando se coloca um europeu, diante de um sul-americano e diante de um africano, sustentabilidade para o europeu é aquecimento global, para o sul-americano, sustentabilidade são itens operacionais vinculados com tratamento de água, gestão de resíduos e monitoramento atmosférico e para o africano sustentabilidade é se preocupar com a próxima refeição.

Nicholas Stern que foi presidente do Banco Mundial sabia bem disto…e não sei se era americano ou europeu, mas estes dois continentes tem a mesma percepção de sustentabilidade e Nicholas Stern aprendeu na prática e muito bem…

Pois bem, esta é a questão. O planeta não suportaria, nem teria recursos para ampliar em 24 vezes a produção de energia, por mais alternativas e renováveis que fosse as fontes energéticas por melhor que fossem os programas de otimização, racionalização e eficiência no uso de energia por instituições, empresas e consumidores individuais.

Obviamente a questão da eficiência energética tem importância singular. É preciso tornar a utilização da energia racional e eficiente ao máximo possível, por parte de todos. E para isto existem tecnologias e empresas capacitadas e dedicadas ao desenvolvimento de metodologias apropriadas para a melhoria da eficiência energética.
A eficiência energética pode ser resumida pelo parâmetro conhecido como Razão de Energia Líquida (REL) que relaciona a energia obtida por um processo em função do gasto energético considerado do mesmo processo.

Mas a questão fundamental é a mudança de padrões. A mudança de paradigma, de uma ou outra forma, talvez precise passar pela mudança do conceito de bem-estar e felicidade.

Partindo de uma sociedade extremamente consumista, da qual ninguém questiona a qualidade de vida e o conforto material, para padrões mais compatíveis com as quantidades de recursos disponíveis e com critérios mais justos de distribuição das riquezas.

Definitivamente, o planeta Terra não suportaria o aumento de 24 vezes na produção de energia. O mesmo raciocínio talvez possa ser estendido para o consumo de várias matérias-primas naturais que servem se base para transformações industriais importantes.

* Dr. Roberto Naime, colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.

* Publicado originalmente no site EcoDebate e retirado do site Mercado Ético.