Encontrar e cultivar as boas companhias

amizade

Nessa vida urbana corrida, passamos dias, semanas, meses e até anos sem visitar amigos. Em tempos de conexões rápidas e ao alcance de um clique no celular, já nos habituamos a “conversar” via redes sociais, mensagens de texto e outros aplicativos disponíveis e cada vez mais populares.

Sou daquela geração que circulava de ônibus, brincava na rua, almoçava na casa ao lado e pegava carona no jantar do vizinho da esquina, que residia numa casa com quintal e que, além de flores, dispunha também de árvores frutíferas.

Comia pitanga, ameixa, abacate, limão, manga, laranja in-natura, e de acordo com os meses do ano mais propícios para cada uma delas. Que delícia era subir, por exemplo, na ameixeira, escolher a fruta madura e degustá-la ali mesmo, sentado no galho mais próximo e sob o cúmplice olhar dos amigos.

Uma parcela expressiva de crianças deste século pouco sabe sobre a origem das frutas. Pensam que elas são fabricadas pelos supermercados, e muitas só as conhecem como polpa pronta para virar suco.

No final de semana passado, a convite de uma amiga querida, estive em Florianópolis, e lá pude vivenciar a pureza das relações de amizade, e cultivar o “velho” hábito de ir às casas de amigos. No intervalo de 48 horas apareci de “bicão” autorizado em uma celebração de aniversário num quase sítio bucólico que tinha uma praia “particular” no seu quintal; almocei um sensacional churrasco no apartamento de uma amiga que conheço há mais de trinta anos e encerrei as visitações degustando uma pasta com molho de berinjelas preparada com ternura por um casal de amigos com um charmoso sotaque italiano.

Em boas companhias, experimentei sensações de alegria, felicidade, confiança, amizade, gratidão, solidariedade e percorri lugares belíssimos sob a batuta do guia turístico “amigo de fé, irmão e camarada” desde corredores da faculdade. Tudo isso aconteceu ao vivo, com o calor de abraços, sorrisos e daquela energia insubstituível.

Por mais que muita gente considere que a vida acontece no Facebook, o bom é investir nos encontros ao vivo. Porque essas são as oportunidades que temos para ficar olho-no-olho, sentir o pulsar dos corações e compartilhar com amigos de longa data e com aqueles recém-conquistados os nutrientes que nos fazem crescer e superar os desafios da nossa existência. Por aqui fico, até a próxima.

Leno F. Silva escreve semanalmente para Envolverde. É sócio-diretor da LENOorb – Negócios para um mundo em transformação e conselheiro do Museu Afro Brasil. É diretor do IBD – Instituto Brasileiro da Diversidade, membro-fundador da Abraps – Associação Brasileira dos Profissionais de Sustentabilidade, e da Kultafro – rede de empreendedores, artistas e produtores de cultura negra. Foi diretor executivo de sustentabilidade da ANEFAC – Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade. Editou 60 Impressões da Terça, 2003, Editora Porto Calendário e 93 Impressões da Terça, 2005, Editora Peirópolis, livros de crônicas.