Jornalista e cidadão sustentável

André Palhano é o responsável pela Virada Sustentável, evento que reuniu 750 mil pessoas em São Paulo. Pela iniciativa, o jornalista recebeu o prêmio Cidadão Sustentável.

O jornalista André Palhano é um cidadão sustentável. Graduado pela Pontifícia Universidade de São Paulo (PUC-SP) e especialista em jornalismo econômico já passou pelas redações de Veja, Folha de S.Paulo, Rádio Jovem Pan e Agência Estado. Trabalhou como repórter, editor e colunista. Recentemente ganhou outro tipo de destaque na mídia: recebeu o prêmio Cidadão Sustentável, na categoria Meio Ambiente. A premiação, uma iniciativa do Catraca Livre e da Rede Nossa São Paulo, foi conquistada por conta do grande evento Virada Sustentável. André está à frente desse movimento de educação para a sustentabilidade, que utiliza a arte e o lúdico como ferramentas principais. Na segunda edição, realizada em junho, o evento reuniu mais de 600 atrações e atividades distribuídas em 149 locais da Grande São Paulo, somando público aproximado de 750 mil pessoas.

Confira a entrevista com André Palhano.

Você criou e idealizou a Virada Sustentável, um evento cultural com foco em sustentabilidade. A Virada também funciona como um laboratório de práticas sustentáveis, que acontece só em São Paulo, mas existem projetos em andamento em Curitiba, Recife e Santiago do Chile. Como esta ideia surgiu e como você conseguiu articular tanta gente interessante?

A ideia surgiu ao percebermos que há dois equívocos comuns associados ao tema. Um é a sustentabilidade estar ligada apenas às questões da natureza, como florestas, biodiversidade ou água. Quantas vezes ouvi: “eu moro na cidade, nem gosto de mato, de bicho…”. Mostrar que o conjunto de temas é bem mais amplo e que, sim, inclui questões urbanas (mobilidade, diversidade, cultura de paz, consumo consciente. etc.), nos pareceu um desafio bastante interessante. Outro equívoco é a sustentabilidade estar associada apenas a coisas ruins: restrição da qualidade de vida, catástrofes, desconforto. Ou seja, medo. O que mostramos é exatamente o contrário, que sustentabilidade na verdade é algo bastante positivo. Daí a escolha por usarmos a arte e as atividades lúdicas como principais ferramentas de comunicação, sempre com um viés inspirador. No lugar do medo, entra o desejo.

Sobre articular tanta gente bacana, a impressão que sempre tivemos é a de uma manivela que estava, há muito tempo, emperrada: no começo é difícil girá-la, você faz uma tremenda força, mas, a partir do momento em que ela desemperra, ganha uma força própria muito poderosa, que nem depende mais de você. O que fizemos foi catalisar essa força em um evento de caráter realmente coparticipativo, com a presença de dezenas de organizações da sociedade civil, governos e empresas.

Um dos grandes destaques da última Virada Sustentável, realizada em junho em São Paulo, foi o Pimpy My Carroça. Conte um pouco sobre a iniciativa e sua relação com a sensibilização e mobilização das pessoas para as questões relativas ao consumo e ao descarte de resíduos.

O Pimp My Carroça é um projeto maravilhoso do artista Mundano, que merece todos os créditos pelo projeto. A ideia foi tirar, por meio da arte, os carroceiros da invisibilidade à qual estão submetidos nas grandes cidades. Quantas pessoas sabem a importância desses carroceiros na minguada coleta seletiva de São Paulo? Quantas sabem como funciona uma cooperativa, uma mesa de separação? Quantas já estiveram num lixão? O consumo consciente é a base de uma sociedade sustentável, e impacta transversalmente vários temas associados. Ninguém aqui está falando de deixar de consumir, de comprar coisas bacanas, mas sim desse evidente exagero ao qual chegamos, de achar que nossa felicidade está necessariamente associada à capacidade de comprar coisas.

Em sua opinião, como a Virada Sustentável pode contribuir para a mudança de paradigmas? É um despertar para o assunto ou é mais profundo do que isso?

Acho que a Virada é apenas mais uma iniciativa na direção de uma grande mudança de paradigma na sociedade, possivelmente sem precedentes, que é a percepção de que vivemos todos numa mesma “casa”, ainda que seus quartos e salas sejam bastante diferentes. As redes sociais estão aí para provar isso: nunca estivemos tão conectados, tão cientes de nossas diferenças, tão abertos a aceitar e entender o que é diferente. Bom, se vivemos todos juntos, que tal tornar essa casa cada vez mais aconchegante, mais limpa, mais inteligente? O grande despertar é esse: “poxa, podemos fazer isso respeitando nossas diferenças, aperfeiçoando os modelos que adotamos para viver?”. Gosto muito da frase do Victor Hugo que diz que não há nada mais poderoso do que a força de uma ideia cujo tempo chegou. É disto que estamos falando.

Você conquistou recentemente o prêmio Cidadão Sustentável, iniciativa do Catraca Livre e da Rede Nossa São Paulo. O que isto significa pessoalmente e no contexto macro da sustentabilidade? 

Foi uma honra muito grande ganhar o prêmio na categoria Meio Ambiente, competindo com tanta gente importante. É sem dúvida um reconhecimento pelo trabalho na Virada. Fiz questão de ressaltar, no entanto, que se trata de uma votação popular, que acaba privilegiando as pessoas com maior exposição na mídia. Foi por este motivo que dediquei publicamente meu prêmio a duas pessoas que estavam no começo das votações e que, se fosse eu o único eleitor, seriam os vencedores: Rose Marie Inojosa, da UmaPaz, e Bello Monteiro, da SOS Mata Atlântica. Pelo conjunto da obra, eles são os verdadeiros cidadãos sustentáveis de São Paulo. (Envolverde)