Escravidão e racismo nunca mais

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Steve McQueen conseguiu mostrar em cores e numa segura direção e condução de “efeitos especiais”, toda a brutalidade da escravidão norte americana no imperdível “12 Anos de Escravidão”, filme baseado em fatos reais.

Algumas cenas de açoite são difíceis de acompanhar, em função da violência e da gratuidade dos castigos impingidos por um escravagista completamente desorientado, que mantém uma relação destrutiva com a esposa ciumenta, mas que o desqualifica em público com a mesma tranquilidade que agride Patsey, a escrava preferida do marido.

Para resistir ao regime desumano, Platt, que até ser enganado e vendido, era livre, morava em New York, tinha família e era um exímio violonista, constrói outro ser, que demonstra não sabe ler nem escrever e, dessa forma, sobrevive.

Durante os 12 anos em que ficou submetido ao regime escravo, Platt jamais se descolou de Solomon Northup, seu verdadeiro nome, nem de sua personalidade. Soube aproveitar uma chance quando percebeu numa conversa que um carpinteiro free lance tinha críticas à escravidão e o persuadiu a escrever uma carta a seus amigos a fim de comprovar que era livre.

Até a reconquista de sua identidade, Solomon percorreu os diversos caminhos da injustiça e pagou o preço por não abrir mão de sua dignidade. Diferente dele, naquele período, milhões de escravos sucumbiu, e passados quase dois séculos, o mais desolador é a existência, nos dias de hoje, de práticas análogas ao trabalho escravo ou degradante, sob a justificativa de que esses regimes são adotados para garantir competitividade.

É importante ver o filme para nos conscientizarmos de que a sociedade praticou essa e tantas outras atrocidades aos seres humanos, e que em pleno Século XXI, em determinadas situações, agimos com a mesma crueldade. Por aqui, fico. Até a próxima.

Serviço:
12 Anos de Escravidão | Drama | direção de Steve McQueen | 14 anos | 133 minutos | Estados Unidos
Oscar de melhor filme, de melhor roteiro adaptado e de melhor atriz coadjuvante para Lupita Nyong’o.

Leno F. Silva escreve semanalmente para Envolverde. É sócio-diretor da LENOorb – Negócios para um mundo em transformação e conselheiro do Museu Afro Brasil. É diretor do IBD – Instituto Brasileiro da Diversidade, membro-fundador da Abraps – Associação Brasileira dos Profissionais de Sustentabilidade, e da Kultafro – rede de empreendedores, artistas e produtores de cultura negra. Foi diretor executivo de sustentabilidade da ANEFAC – Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade. Editou 60 Impressões da Terça, 2003, Editora Porto Calendário e 93 Impressões da Terça, 2005, Editora Peirópolis, livros de crônicas.