Falta de água pode afetar crescimento econômico mundial

Sempre ouvimos falar que a água é essencial para a vida do ser humano, mas sua disponibilidade está além da esfera biológica, e afeta também o campo econômico. É o que salienta um novo relatório da consultoria Frontier Economics e do banco HSBC, que afirma que a escassez hídrica poderá prejudicar o crescimento econômico mundial nas próximas décadas. A saída é investir em uma melhor distribuição, saneamento, tratamento e economia de água para todos.

De acordo com o documento, até 2050 as dez bacias hidrográficas mais populosas do mundo – dos rios Ganges, Yangtzé (Rio Azul), Indo, Nilo, Huang He (Rio Amarelo), Huai, Níger, Hai, Krishna e Danúbio – terão capacidade para gerar 25% do PIB global; atualmente, as regiões que compreendem essas bacias geram 10% do PIB global.

No entanto, isso só acontecerá se houver uma mudança no processo de manejo hídrico dessas bacias, caso contrário este crescimento ficará sob a ameaça de um consumo insustentável de água. Se isso acontecer, o texto prevê a escassez de água em pelo menos sete das dez bacias, incluindo a dos rios Ganges, Amarelo e Níger.

“Assumia-se até agora que a água sempre estaria disponível. As pessoas estão percebendo que isso agora não é assim”, comentou Nick Robins, diretor do Centro de Excelência em Mudanças Climáticas do HSBC.

Por isso, o relatório sugere que é necessário um maior investimento nos recursos de água doce e um melhoramento no tratamento, na economia de água e em como a água é usada na agricultura, na indústria e nas residências.

Além disso, o documento indica que os desenvolvedores de políticas devem entender a relação entre a água, a produção de alimentos, a energia e as mudanças climáticas e procurar formas de atrair investimentos para aperfeiçoar a infraestrutura hídrica.

“As descobertas mostram que o futuro das bacias hidrográficas é fundamental para o crescimento econômico. Ações rápidas e colaborativas em todo o mundo são necessárias. O relatório também enfatiza a forte lógica econômica de melhorar o acesso a água doce e saneamento, em um momento em que a ajuda total ao acesso a água e saneamento diminuiu”, observou Douglas Flint, presidente do HSBC.

Mas o texto aponta que, se há necessidade de investimentos, há também muitas possibilidades de ganho com isso. O relatório diz que investir no acesso universal a água resultaria em um ganho econômico mundial anual de US$ 220 bilhões. Os países poderiam ter um retorno de US$ 5 para cada US$ 1 gasto, embora na América Latina esse retorno possa chegar a US$ 16, e alguns países africanos poderiam receber todo esse retorno em três anos.

“(Os investimentos em água) são ativos de longa vida bastante seguros, então não há muito risco aí. Mas você realmente precisa dar aos investidores garantia de que os ativos estão a salvo”, declarou Robins.

O próprio HSBC está investindo na questão, e dará US$ 100 milhões nos próximos cinco anos para a WaterAid, a EarthWatch e o WWF para combater problemas hídricos. “Essa parceria resultará em 1,1 milhão de pessoas recebendo acesso a água potável e 1,9 milhão melhorando sua higiene e saneamento em Bangladesh, Índia, Nepal, Paquistão, Nigéria e Gana”, disse Barbara Frost, CEO da WaterAid.

O programa anterior de cinco anos do banco se focava nas mudanças climáticas, mas Robins explicou que a mudança de foco não é uma grande alteração, pois os dois temas estão intimamente ligados.

“A água é a forma pela qual as mudanças climáticas são expressas. Você tem a ruptura dos padrões climáticos tradicionais; áreas secas ficam mais secas, enquanto áreas úmidas ficam mais úmidas; e há também eventos climáticos extremos. A água é o coração da adaptação às mudanças climáticas”, concluiu.

* Para obter uma cópia do relatório, entre em contato com Paul Cullum da Frontier Economics: [email protected] ou 44 (0) 20 7031 7000.

** Publicado originalmente no site CarbonoBrasil.