Ele, Ela, e LGBT ou Unissex?

Sinalização "Ele" e "Ela" pode ganhar terceira opção. Foto: Reprodução/Internet

Criação de banheiros para homossexuais gera polêmica e divide opiniões.

As tradicionais plaquinhas de sinalização “Ele” e “Ela” podem ganhar a companhia de letreiros do tipo “LGBT” ou “Unissex”. Dois casos que vieram a público recentemente incitaram a polêmica em torno do assunto. Bastou o cartunista Laerte dizer que iria à Justiça após sofrer preconceito ao tentar entrar travestido num banheiro feminino para o vereador paulistano Carlos Apolinário (DEM) propor uma lei que exige a criação de um banheiro unissex em estabelecimentos de uso público na cidade de São Paulo. Já em Londrina, no Paraná, a divulgação de que alunos homossexuais do Colégio Estadual Vicente Rijo têm a opção de usar um banheiro alternativo dividiu opiniões na cidade.

Laerte, que desde 2010 passou a se vestir publicamente com roupas de mulher, foi proibido de usar o banheiro feminino da Pizzaria e Lanchonete Real, no Sumaré, na Zona Oeste de São Paulo, após uma cliente, cuja filha estava no banheiro, reclamar da presença do cartunista. “O que a mulher queria dizer com: ‘Eu tenho crianças’? Qual o problema de a menina ver uma travesti no banheiro? As pessoas pensam que os outros andam pelados dentro do banheiro”, disse Laerte em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo. “O banheiro é um tabu que precisa ser encarado de maneira menos apaixonada”, completou.

Já o vereador Carlos Apolinário pensa diferente. À revista Carta Capital ele condenou o uso misto do banheiro: “Assim, qualquer cidadão do sexo masculino, que disser que está se sentindo mulher naquele dia, pode entrar no banheiro feminino. Às vezes, pode ser até um cidadão sem-vergonha, mau-caráter, que nem tem essa opção sexual.”

Na escola de Londrina, os alunos homossexuais passaram a poder utilizar o banheiro dos professores como alternativa após dois deles terem relatado constrangimento no sanitário masculino. A Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (AGLBT), no entanto, não concorda com a medida e solicitou a suspensão do banheiro alternativo junto ao secretário estadual da Educação, Flávio Arns, e ao Ministério Público do Paraná. “Entendemos que a criação de um terceiro banheiro para homossexuais num colégio estadual é uma solução simplista para uma questão complexa. A medida promove a segregação e reforça o estigma, o preconceito e a discriminação, em vez de trabalhar a inclusão social e a questão do respeito às individualidades”, diz o ofício encaminhado às autoridades.

Outra polêmica envolvendo banheiros e educação aconteceu em 2008, quando a Universidade do Estado do Rio de Janeiro permitiu que travestis e transexuais usassem o toalete das mulheres. Na ocasião, a Universidade estabeleceu uma série de normas em prol da comunidade gay, como a adoção do nome social de travestis e transexuais na lista de chamada das aulas e a garantia aos homossexuais de que seus parceiros os acompanhem em consultas, exames e internações no Hospital Universitário Pedro Ernesto.

No ano passado, a escola de samba carioca Unidos da Tijuca, assim como o colégio de Londrina, também foi criticada por criar um banheiro só para homossexuais em sua quadra, cuja indicação é “Banheiro Arco-Íris”. À época, a escola informou que criou o banheiro por uma demanda dos gays que frequentavam a agremiação e não se sentiam à vontade em usar os banheiros comuns. O toalete especial, que permanece em funcionamento, também serve como um grande camarim para homossexuais, transformistas e travestis.

O presidente da AGLBT, Toni Reis, é contra a criação de banheiros para homossexuais, mas concorda que espaços onde ocorram troca de roupas – como camarins – sejam separados.

“Camarim é diferente porque as pessoas trocam de roupa. Mas, banheiro público é onde você vai fazer necessidades fisiológicas. Este espaço pode ser unissex. Não existem três gêneros, são apenas dois. E cada pessoa se identifica com o que acha melhor. Antigamente, meninos não podiam estudar com as meninas, e as mulheres não podiam servir o Exército. Hoje isso mudou. Acredito que, no futuro, só vai haver um banheiro, e as pessoas vão se respeitar. O importante é o respeito.”

* Publicado originalmente no site Opinião e Notícia.