A miscigenação é o maior valor do Brasil

 

racismoNa semana passada circulou pelo Facebook uma entrevista do Chico Buarque sobre racismo. Sem titubear o cantor e escritor declara que “Não existe brancos no Brasil” e, com humor, arrisca dizer que apenas para a Xuxa e o Taffarel possamos garantir que são puramente brancos.

Além do fato de mais de 50% da população deste país autodeclarar-se negra ou parda, basta circular por aí para perceber que os traços das raízes africanas estão contidos na maioria da nossa população. Segundo o autor de “A banda”, se fossemos verificar as árvores genealógicas dos ditos brancos tupiniquins, a presença do sangue negro na constituição dessas relações familiares atingiria praticamente todos os casos analisados.

Para ele a miscigenação é o grande valor desse país. Essa constatação é óbvia. Entretanto, infelizmente a hipocrisia faz com que parcela considerável da nossa sociedade ainda defenda e manifeste atitudes racistas e preconceituosas contra negros, índios e tantas outras características socioculturais desses cidadãos que com trabalho, talento e dedicação vem contribuindo há muitos séculos para o desenvolvimento desta nação.

Essa mistura de traços, expressões, gestos e culturas é que faz o Brasil ser único no cenário mundial. E se soubermos valorizar, reconhecer e oferecer oportunidades de desenvolvimento para todos, e sem qualquer tipo de discriminação, seremos uma potência não apenas no futebol e na música. Teremos a possibilidade concreta de atingir reconhecimentos por acabar com a pobreza, a miséria, a violência e conquistar vários campeonatos de distribuição de renda, inovação, empregabilidade para jovens, educação infantil, saúde universal, preservação dos recursos naturais e referência em cuidar dos mais velhos.

Isso pode parecer inatingível, mas não é. Temos todas as condições de promover essas transformações, desde que cada um de nós assuma essa responsabilidade e a coloque em prática. Apenas para citar um exemplo, no último domingo, na Sala Adoniran Barbosa do Centro Cultural São Paulo, durante a realização da Pílula de Cultura organizada pela Feira Preta, Bukassa Kabengele, com o seu show Pé na África, fez uma plateia calorosa, formada por negros, brancos, amarelos e tantas outras cores cantar com alegria e dançar com espontaneidade, numa grande celebração e num encontro que só as diversidades podem proporcionar.

Desses pontos de mutação distintos, os quais se espalham pelos quatro cantos do país, reverberam a energia que precisamos para construir o presente nosso de cada dia, unindo sabedorias, aprendizados e percebendo que cada um de nós é essencial para todos. E diferente do que disse o Chico Buarque na sua famosa canção, ninguém está à toa na vida. Por aqui, fico. Até a próxima.

* Leno F. Silva escreve semanalmente para Envolverde. É sócio-diretor da LENOorb – Negócios para um mundo em transformação e conselheiro do Museu Afro Brasil. É diretor do IBD – Instituto Brasileiro da Diversidade, membro-fundador da Abraps – Associação Brasileira dos Profissionais de Sustentabilidade, e da Kultafro – rede de empreendedores, artistas e produtores de cultura negra. Foi diretor executivo de sustentabilidade da ANEFAC – Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade. Editou 60 Impressões da Terça, 2003, Editora Porto Calendário e 93 Impressões da Terça, 2005, Editora Peirópolis, livros de crônicas.