As pedras do caminho do Maranhão

O senador José Sarney e a filha Roseana, governadora do Maranhão. Foto: Agência Brasil
O senador José Sarney e a filha Roseana, governadora do Maranhão. Foto: Agência Brasil

A família Sarney há décadas está no poder no Maranhão, um dos estados mais desiguais do Brasil. O atual senador por Amapá serviu aos militares, herdou o posto de presidente com a morte de Tancredo Neves e, no PMDB, vem “emprestando” o seu cacife político a todos os mandatários eleitos.

É notório que os Sarney agem, no poder, com um viés narcisista. Não por acaso, dezenas de obras e patrimônios públicos levam o nome de algum membro da família. Como estamos em um regime democrático, o pai, a filha e o filho foram legitimamente eleitos pela população. É provável que parcela dessas pessoas hoje esteja revoltada com os recentes assassinatos no presídio de Pedrinhas, numa ação brutalmente condenável do crime organizado. Mas daqui a pouco, passados os impactos dos acontecimentos, tudo voltará ao “normal”, como vem ocorrendo desde meados dos anos 60.

A estrutura política e a maioria dos políticos do Brasil são reféns de determinadas figuras que agem como coronéis, desprezam os cidadãos, usam dinheiro público para benefícios próprios e criam redes de produtos e serviços privados, por meio dos quais se apropriam, ainda mais, dos recursos que deveriam promover o bem-comum.

Quais serão os trunfos que o Sarney tem nas mãos para ser esse político tão importante, intocável, que nenhum partido ousa contrapor e questionar?, Ao contrário, todos, sem exceção, em algum momento estendem o tapete para “El Bigodon”, que sabe muito bem cobrar e negociar os seus apoios.

O pior é que ele não é o único nessa história. Talvez o Sarney seja o ancião, mas se prestarmos atenção nos “nossos” representantes, uma parcela expressiva tem práticas semelhantes às dos donos do Maranhão. E foram eleitos; serão reeleitos, desviarão dinheiro público por um, dois, três, quatro mandatos, até “construírem” um patrimônio sólido, para vender bem caro os seus apoios a quem precisar.

Embora às vezes tudo isso seja desanimador, o caminho é agir onde e como for possível. Somar, reivindicar, pressionar, fiscalizar, denunciar, escolher bem em quem votar e participar ativamente da vida pública. As cidades, os estados e o Brasil são de todos nós, e não de algumas dezenas de famílias. Talvez demore mudar essa realidade, mas se cada um decidir e partir para a ação desde já, um dia as transformações ocorrerão. Por aqui, fico. Até a próxima.

* Leno F. Silva escreve semanalmente para Envolverde. É sócio-diretor da LENOorb – Negócios para um mundo em transformação e conselheiro do Museu Afro Brasil. É diretor do IBD – Instituto Brasileiro da Diversidade, membro-fundador da Abraps – Associação Brasileira dos Profissionais de Sustentabilidade, e da Kultafro – rede de empreendedores, artistas e produtores de cultura negra. Foi diretor executivo de sustentabilidade da ANEFAC – Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade. Editou 60 Impressões da Terça, 2003, Editora Porto Calendário e 93 Impressões da Terça, 2005, Editora Peirópolis, livros de crônicas.