Sociedade

12 tendências pós-pandemia (incluindo 2 oportunidades de trabalho) – Parte 1

por Juliana Zellauy Feres*, especial para a Envolverde 

Fazer previsões, como bem sabem os metereologistas, é sempre um ato de coragem. No entanto, baseado nas evidências que temos até o momento, gostaria de compartilhar o meu ponto de vista a respeito do que será o nosso mundo pós-pandemia, incluindo oportunidades que estão se abrindo neste momento para quem busca outras alternativas de trabalho e geração de renda. Lembrando claro que este é o meu ponto de vista e que necessitamos de visões a partir de vários pontos para nos aproximar do que pode ser a realidade. Convido então você a refletirmos juntos:

 

  1. Impacto sem precedentes do trabalho remoto – O trabalho remoto já é uma realidade hoje e cada vez mais. Até aqui, sem novidades. O que chama a atenção, no entanto, é o impacto que este novo modo laboral terá em diversas outras áreas:
    • Grandes centros empresariais começam a perder a sua função – Não que eles deixarão de existir, mas seu número deverá cair significativamente. Mesmo que a empresa opte por permitir o home-office um único dia da semana para cada um dos seus funcionários, a estimativa é de uma queda nos custos de 30%. Isso devido não apenas à economia com água e eletricidade, mas também limpeza, segurança e aluguel do espaço, além de outros recursos necessários para manter as instalações funcionando adequadamente. Além disso, comprovadamente, o trabalho em casa aumenta a produtividade dos funcionários ao invés de diminuir. A próxima questão é: o que será feito então com estes grandes edifícios?
    • Intensificação da migração – Algo que não vi sendo discutido e que certamente acontecerá devido à adesão maciça ao trabalho remoto é a intensificação da migração. As cidades que se sairão melhor aqui não são necessariamente as maiores, mas sim as que oferecem maior qualidade de vida. Note que isso terá um impacto também na tomada de decisão do poder público em relação à investimentos e priorização de políticas públicas. Cidades com menor qualidade de vida serão muito menos atrativas e perderão contribuintes. Assim, seja uma mudança para dentro do próprio país ou para o exterior, o trabalho remoto abre possibilidades sem precedentes. Posso trabalhar e ganhar meu dinheiro de qualquer lugar do mundo, isso inclui até mesmo morar em um barco, em um motorhome ou mudar de cidade a cada mês.
    • Redução do consumo de combustíveis fósseis e suas consequências – Com mais pessoas trabalhando em casa e utilizando serviços online (desde consultas, cursos, compras, etc), a redução do consumo de combustíveis é definitiva. A qualidade do ar melhora e o processo de adaptação das empresas petrolíferas se acelera. Muitas já haviam começado a investir pesadamente em fonte renováveis e agora deverão priorizar estes novos investimentos para manterem-se no mercado.

 

  1. Educação à distância (EAD) – O que antes era o “plano B” virou o “plano A”. A educação precisa continuar e, neste sentido, a EAD veio para preencher este vácuo. Além disso, para muito além do ensino básico, as pessoas tem dado mais credibilidade e mais valor à educação contínua. Independente da sua área de atuação, é preciso estudar sempre para manter-se atualizado e não ficar para trás. Sem mencionar, é claro, o quanto é prazeroso o desenvolvimento pessoal e intelectual. Ademais, assim como o trabalho remoto, este novo cenário tem mostrado na prática os benefícios da EAD, sendo algum deles: uso mais eficiente do seu tempo (por que perder horas no trânsito para se descolar até a instituição de ensino?), possibilidade de personalização da rotina de aprendizado ao dia-a-dia de cada um, preços mais acessíveis.

 

  1. Expansão de serviços digitais – Oportunidades à vista! – Com a tendência de pessoas ficando mais em casa, a busca por serviços online tem crescido de forma estrondosa. Seja uma consulta (médica, terapia, mentoria, coaching), cursos de qualquer área, desenvolvimento de softwares e aplicativos, varejo online ou oferta de entretenimento (inclusive com o uso de realidade aumentada). Apenas para citar um exemplo concreto, eu que antes da crise já estava migrando todos os meus serviços para o online, observei nas últimas semanas a demanda pelos nossos cursos, mentorias e conteúdos mais do que dobrar de um mês para o outro e continuar em franco crescimento. Além da tendência pela maior busca por serviços online este crescimento também está relacionado a tendência descrita no próximo item.

 

  1. Cuidados com saúde e bem-estar mental em alta – Oportunidades à vista 2 – É um fato que o atual cenário tem disparado sentimentos de medo, ansiedade, angústia, solidão. Em casos mais graves tem mesmo gerado problemas mentais mais sérios como síndrome do pânico, transtornos de ansiedade, entre outros. Assim, nas últimas semanas tenho observado um aumento significativo na busca pelos nossos cursos de Inteligência Emocional, Mindfulness, Psicologia Positiva, além das nossas práticas meditativas gratuitas oferecidas pelo aplicativo Insight Timer, entre outros temas que oferecem as ferramentas necessárias para que as pessoas possam ser mais resilientes e enfrentar com confiança estes momentos incertos. Amigos psicólogos, coachs, mentores e terapeutas em geral também relataram um aumento colossal na demanda por atendimentos, estando hoje trabalhando mais do nunca. Nas últimas décadas as pessoas tem tido mais consciência sobre a necessidade de cuidar do seu corpo, nutrindo-se com alimentos mais saudáveis e praticando atividades físicas. Agora, finalmente as pessoas começam a despertar para fazer o mesmo com a sua saúde mental, compreendendo melhor a importância de nutrir-se com conteúdos mais positivos e exercitar a sua mente, como por exemplo, por meio das práticas meditativas.

 

  1. Aprofundamento da nossa percepção de interdependência – Para quem ainda não percebeu, fica aqui a lição número 1 desta crise. Cada vez mais fica claro o quanto somos interdependentes e o quanto precisamos que o outro fique bem para ficarmos bem. Ninguém vive em uma bolha, nem mesmo uma cidade vive em uma bolha. Para que você esteja bem o outro precisa estar bem. Isso vale para questões tão importantes e amplas como o combate a corrupção, às desigualdades sociais e necessidade da inclusão digital, quanto para o dia-a-dia miúdo, onde se o seu vizinho ficar doente ele pode transmitir a doença para você e sua família, então não adianta ficar olhando apenas para o próprio umbigo. Enquanto a divisão nos enfraquece, as crises fortalecem alguns valores como a resiliência, a coragem e a união, já que nos obrigam a trabalhar junto para superar um desafio maior. Afinal, especialmente agora, trabalho coletivo não é apenas uma questão de empatia, mas de sobrevivência, como veremos no item a seguir.

 

 

  1. Trabalho coletivo é questão de sobrevivência (muito além do poder público) – Todos nós temos visto iniciativas de solidariedade impressionantes acontecendo. Afinal trata-se, sem exageros, de uma questão de sobrevivência. Na comunidade Paraisópolis em São Paulo/SP, por exemplo, foi estabelecido um sistema de monitoramento de 21 mil residências que são observadas por 420 presidentes de rua. Estes presidentes tem a função de acompanhar os casos em no mínimo 50 casas na região sob sua responsabilidade, sendo priorizadas as casas com famílias mais carentes. Nas palavras de Gilson Rodrigues, líder comunitário, a ação foi pensada a partir do dia 19 março porque “a gente percebeu que o negócio seria grande e que as políticas públicas não chegariam às favelas. Então decidimos criar a nossa própria.” Além disso, a comunidade se organizou para contratar 3 ambulâncias, sendo duas básicas e uma UTI, que ficam em tempo integral no local para atender quem for preciso. Rapidamente eles perceberam que não dava para esperar a boa vontade ou atuação do poder público e tomaram as providências necessárias. Isso diz muito sobre como a nossa liderança política tem atuado (ou não) e como tem sido vista pela nação. Com isso, não só estamos aprendendo uma dura lição que poderá ser utilizada em outras situações como o combate às mudanças climáticas, por exemplo, mas que também nos trará consequências muito interessantes para as próximas eleições.

Para apoiar o projeto da Paraisópolis acesse: https://www.esolidar.com/br/crowdfunding/detail/3-g10-apoie-paraisopolis-a-combater-o-corona-virus?lang=br

Estas são as 6 primeiras tendências que gostaria de compartilhar com você. Na segunda parte deste artigo abordarei outras 6 tendências pós-pandemia, entre elas relacionadas à atuação empresarial, hábitos de consumo, impactos ambientais e comportamentais (individuais e políticos). Até lá, adoraria conhecer o seu ponto de vista sobre o que estamos vivendo hoje e como você acredita que o mundo estará amanhã. Um grande abraço!

*Especialista em Sustentabilidade, Neurociências e Comportamento

#Envolverde