ODS7

7 tendências de inovação e sustentabilidade determinantes para o setor de Energia

por Juliana Zellauy, especial para a Envolverde

Inovação é uma mudança positiva de médio ou longo prazos que impacta sem volta a sociedade ou comunidade em que está inserida. Ou seja, no campo corporativo inovação não é apenas uma “novidade”, ou simplesmente uma mudança para a organização em si, mesmo que elas ajudem a manter a competitividade da companhia ao longo do tempo. Inovação trata-se de algo que dita novos parâmetros, cria produtos inteiramente diferentes dos pré-existentes ou estabelece novos modelos de negócios para os quais muitas vezes ainda não existe sequer legislação pertinente.

No mundo contemporâneo investir em inovação significa não apenas a sobrevivência do negócio, na medida em que este acompanha as movimentações do mercado, mas também a possibilidade de liderar um setor, expandir operações para novos nichos, desenvolver novos produtos e soluções e encontrar novas formas de diferenciação perante a concorrência.

Mas como inovação se relaciona com Sustentabilidade? Sustentabilidade pressupõe um olhar para o futuro, logo, para tendências, riscos e oportunidades. Desta forma, não basta olhar apenas para o presente, as melhores práticas atuais, mas para garantir a perenidade da organização no longo prazo é preciso estar atento, identificar as conjunturas, incluindo a influência das mudanças climáticas, dos novos padrões de consumo, da escassez de recursos, enfim, preparar-se para as mudanças e inovar.

Neste sentido, um interessante estudo de caso é o setor de Energia. Atualmente este setor passa por mudanças tão significativas que a empresa que não estiver preparada e disposta a realizar as mudanças necessárias simplesmente não sobreviverá.

Dentre estas mudanças, 7 delas se destacam por influenciar drasticamente e de forma determinante os seus negócios, vamos a elas:

  1. Aumento robusto da demanda por energias renováveis tanto por empresas que buscam tornar suas fontes de energia mais limpas (de acordo com a pesquisa Deloitte´s 2017 Resources Study 50% das entrevistadas afirmaram que estão trabalhando para a aquisição de eletricidade de fontes renováveis), quanto por prefeitos de diversas cidades do mundo e pelos consumidores finais. De maneira geral é uma tendência no setor elétrico ter clientes cada vez mais exigentes, atentos aos seus direitos e aos impactos socioambientais negativos gerados pelas empresas, passando inclusive a influenciar o regulador na definição de regras e políticas para o setor. Grandes corporações como a Google, Apple e Microsoft, por exemplo, assumiram desde 2016 compromissos significativos com as fontes de energias renováveis, liderando o caminho para outras grandes corporações.
  2. Redução de custos de geração das renováveis em diversos países. De acordo com o relatório 2016 do Fórum Econômico Mundial, as energias solar e eólica tem agora o mesmo preço ou são mais baratas do que combustíveis fósseis em mais de 30 países. Ao mesmo tempo, especialistas do setor de energia acreditam que o carvão não irá se recuperar deste cenário. À medida que os custos eólicos e solares caem para mínimos sem precedentes em países como o Chile, a Índia e os Emirados Árabes Unidos, as renováveis tornam-se a forma mais barata de geração de energia em mercados-chave, tendo os governos locais impulsionado a sua implantação.
  • Demanda por descarbonização, já que um número crescente de serviços de energia elétrica está anunciando planos para apoiar ativamente a descarbonização de grandes setores da economia, eletrificando-os e alimentando-os através de fontes de energia zero carbono, como o transporte (carros elétricos), aquecimento e resfriamento, setor de construção, além de processos industriais. Adicionalmente, em geral, os serviços públicos são motivados pela perspectiva de impulsionar o crescimento da demanda de eletricidade, ao mesmo tempo em que respondem às preferências dos clientes e dos acionistas quanto à administração ambiental. Em países emergentes como o Brasil, a descarbonização e a queda dos preços também parecem estar impulsionando a demanda por fontes renováveis, já que a demanda por eletricidade está se expandindo rapidamente com o crescimento da população e o aumento do consumo doméstico.
  1. Geração Distribuída e a influência dos “prosumers”. Geração Distribuída (GD) é a geração de energia pelos próprios consumidores adotada em vários países e também no Brasil por meio da Resolução Normativa ANEEL nº 482/2012. Esta norma cria o sistema de compensação de energia elétrica, que permite ao consumidor instalar pequenos geradores de fonte renovável em sua unidade e trocar energia com a distribuidora local, ganhando créditos em sua conta toda vez que gera mais do que consome energia. A GD fortalece a atuação dos “prosumers” (do inglês producer + consumer), isto é, indivíduos ou empresas que além de serem consumidores, também são produtores, no caso, de energia. Além de terem autonomia energética, em um futuro não muito distante, é possível que eles detenham o poder de escolher a quem vender sua energia e por quanto.
  2. A digitalização e a disseminação cada vez mais intensa dos medidores inteligentes permitem gerir a demanda pela variação do preço da energia, informada em tempo real, como já realizado nos EUA pela Exelon. A digitalização também permite que produtos sejam programados para o consumo de energia em horários em que o recurso está mais barato ou que podem ser desligados automaticamente em momentos de pico de consumo como já é realizado pela norte-americana NextEra. A empresa implementou a tecnologia de medidores inteligentes na maioria dos seus clientes, permitindo o desenvolvimento do programa On Call, que possui mais de 780.000 consumidores inscritos voluntariamente para participar e receber créditos em sua conta mensal quando concordam em permitir o desligamento de aparelhos selecionados por curtos períodos de tempo. O programa gerencia remotamente os aparelhos dos clientes desligando-os durante períodos de alta utilização de energia, como aparelhos de ar condicionado, aquecimento central, aquecimento de água e bombas de piscina.
  3. Migração do mercado cativo para o mercado livre. No Brasil, a forte tendência de migração do mercado cativo para o mercado livre, vem se confirmando nos últimos anos. Enquanto no Mercado Cativo o consumidor não pode escolher quem será seu fornecedor de energia, no Mercado Livre o consumidor pode comprar montantes de energia de comercializadores e/ou geradores em condições livremente pactuadas entre as partes, mas que hoje está limitado a consumidores especiais que demandam mais de 500kW de energia. Atualmente, mais de 60% da energia consumida no país pelas indústrias é proveniente de negociações no Mercado Livre. Alguns países da Europa e os Estados Unidos já possuem um sistema em que as residências podem optar por obter sua energia pelo Mercado Livre. Essa resolução também já tramita no Brasil na Câmara dos Deputados pelo Projeto de Lei 1917/2015e no Senado pelo Projeto de Lei 232/2016.

Sistemas off-grid (fora da rede). Como pode não ser rentável para os serviços públicos ou os governos expandirem redes elétricas para áreas rurais remotas, alguns países emergentes, como o Brasil, estão se voltando para sistemas de energia fora da rede (off-grid) com base em energia eólica, solar, pequenas centrais hidrelétricas ou biomassa para fornecer eletricidade de forma mais acessível e sustentável.

O que todas estas tendências significam na prática? Em um cenário conservador, imagine a possibilidade de escolher o seu fornecedor de energia, seja considerando o custo, a base energética renovável e/ou a qualidade do serviço prestado. Inclua aí a disseminação em larga escala de serviços digitalizados e medidores inteligentes, onde a concessionária realiza a gestão da energia da sua casa ou empresa remotamente de maneira a torná-la energeticamente mais eficiente. Por outro lado, em um cenário mais disruptivo, mas realista, imagine o preço das energias renováveis cada vez mais acessível, a geração de energia pelos próprios consumidores residenciais ou corporativos amplamente disseminada e realizada fora da rede (off-grid), em última instância tornando a necessidade de geração de energia pelas concessionárias desnecessária. Qual será o impacto disso para o setor? O mercado energético está preparado para navegar neste novo contexto?

Isso sem mencionar a possibilidade da disseminação da prática de Energia na Nuvem, ou seja, a energia adicional gerada em uma residência ou empresa será lançada em rede e, portanto, poderá ser consumida por seu proprietário em qualquer lugar – um shopping center ou uma praça pública, por exemplo.

Estas alterações no modelo de negócios do setor de energia são tão disruptivas que em reportagem veiculada pela Agência CanalEnergia em março de 2017, as empresas brasileiras confirmaram que a tendência para o futuro é de que o seu negócio mude de perfil: as companhias deverão passar a ser prestadoras de serviços em poucos anos. Globalmente a tendência também se confirma. Na avaliação da diretora executiva de Transmissão e Distribuição da Accenture, Stephanie Jamison, a combinação da energia solar fotovoltaica com opções mais econômicas de armazenamento em bateria é uma solução para a demanda de eficiência energética que dará aos consumidores mais poder e exigirá maior flexibilidade e diferentes tipos de serviços das concessionárias de distribuição. Para a executiva, apesar dos desafios que a integração dessas novas tecnologias representa, é essencial que as concessionárias se posicionem em modelos de negócios baseados em serviços, que possam gerar novas receitas e garantir sua sustentabilidade.

Neste sentido, para que a mudança do modelo de negócio aconteça, serão necessários investimentos expressivos em infraestrutura e novas tecnologias em toda a cadeia envolvida na geração e distribuição de energia, do governo aos consumidores, passando pelas companhias que atuam no setor, que precisarão, em maior ou menor grau, atualizar e ampliar suas estruturas, além de desenvolver e difundir soluções tecnológicas mantendo sempre seu radar apontado para o futuro.

Os investimentos de tempo, recursos e dedicação para encontrar soluções serão expressivos, no entanto, neste contexto, não há saída. Para ser sustentável, perene, é inovar ou perecer.

(#Envolverde)