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Rádio comunitária faz brotar ecologia

Jacarta, Indonésia, 2/3/2012 – O regresso das aves e de outros animais silvestres e o renascer da floresta no entorno da aldeia montanhosa indonésia de Mandalamekar são obra da cultura de conservação transmitida com insistência pela rádio comunitária local, contou, convencido, Irman Meilandi. “Graças à Rádio Ruyuk, os habitantes de Mandalmenkar aderiram à campanha de recuperação de áreas desmatadas e de conservação da vegetação da mata”, destacou.

A Rádio Ruyuk 107.8, especializada em temas ambientais, transmite em FM a partir dessa aldeia da província de Java Ocidental, enquanto espera pela licença oficial. No ar entre 6h e 23h, sua programação (totalmente no dialeto sondanês local) é dedicada a agricultura orgânica, plantas medicinais e infraestrutura da aldeia. O nome da emissora significa matagal.

“A rádio foi pensada para impulsionar a população local a prestar atenção ao estado em que estão a vegetação e a vida silvestre que rodeiam a aldeia”, disse Meilandi, secretário do Conselho de Radiodifusão Comunitária de Mandalamekar e um dos fundadores da Mitra Alam Munggaran (MAM, Primeiro Sócio da Natureza).

Este movimento nasceu em 2002, da preocupação de uma dezena de aldeões pela diminuição dos recursos hídricos locais. Começou com a organização de debates públicos, distribuição de panfletos e cartazes sobre a proteção da floresta de Mandalamekar, que fica a sete horas de carro de Jacarta. A MAM conseguiu a proibição do cultivo de ratã, da caça e do corte de árvores nas florestas protegidas. Porém, no começo as pessoas não colaboravam. Muitas cortavam e cultivavam em áreas de captação de água.

Um programa ao vivo, transmitido aos domingos das 19h às 21h, trata dos problemas ambientais do povoado de 718 hectares. A maioria dos apresentadores e participantes é de agricultores e pequenos comerciantes, que trabalham de forma voluntária. Costuma-se falar da plantação de árvores e, de vez em quando, ativistas da MAM dão explicações sobre políticas locais ou apresentam a última informação sobre a situação das florestas deste país.

A Indonésia, um dos países de maior densidade florestal, junto com Brasil e República Democrática do Congo, sofreu enorme desmatamento no século passado. Estima-se que a cobertura florestal de 170 milhões de hectares que havia em 1900 tenha caído pela metade cem anos depois. “O programa da MAM pretende estimular um senso de responsabilidade com o meio ambiente”, apontou o chefe da aldeia, Yana Noviadi. “Queríamos que as pessoas fossem conscientes dos riscos do desmatamento e que participassem plantando árvores”, afirmou.

A Rádio Ruyuk iniciou suas transmissões em outubro de 2008 e é administrada pelo Conselho de Radiodifusão Comunitária da aldeia. “No começo a rádio centrou-se em questões ambientais, no vínculo entre a redução do caudal do rio e o desmatamento, bem como em políticas ligadas ao desmatamento local”, explicou Noviadi. Em 2008, um ano após ser eleito chefe do povoado, Noviadi declarou que a conservação florestal seria uma de suas prioridades, o que impulsionou a participação da população no plantio de árvores. No ano passado, foram reflorestados 118 hectares, 40 deles em torno das nascentes, e não demorou muito para aumentar o caudal dos rios próximos ao povoado.

“Arrozais abandonados agora estão irrigados, e os agricultores cultivam o ano todo”, disse Meilandi. A aldeia tem atualmente 34 hectares de arroz com irrigação, destacou. “O mais importante é que já não se ouve histórias de gente obstruindo a irrigação ou brigando pela água”, comemorou Meilandi, enquanto Noviadi afirmou que “agora são histórias engraçadas, mas já foram perturbadoras”. Desde 2008, as autoridades solicitam à cada visitante que plante árvores em certas áreas. “Queremos apoio para nosso programa. Inculcamos neles consciência ambiental para que a apliquem em suas próprias aldeias”, detalhou Noviadi.

A potência das rádios comunitárias é limitada por lei a um raio de 2,5 quilômetros, mas a Ruyuk é sintonizada em seis distritos com uma população superior a dez mil pessoas. “O chefe do distrito vizinho telefonou para perguntar o que devia fazer para conservar as florestas locais. Quando lhe perguntamos de onde ligava, respondeu que estava em um encontro de chefes que aguardavam para nos ouvir na rádio”, contou Noviadi. Os esforços de conservação em Mandalamekar não passaram despercebidos.

Em 2009 e 2010 ganhou o prêmio regional de melhor programa autofinanciado de gestão florestal de uma aldeia. Em 2010, conseguiu o segundo lugar no âmbito provincial. “Pelo que sabemos, o governo regional nunca fez uma avaliação de nossa gestão florestal, mas creio que ouvem a Rádio Ruyuk”, indicou Meilandi. Ele mesmo ganhou o Prêmio Seacology 2011 por seus esforços em preservar o meio ambiente e a cultura de Mandalamekar. “Me disseram que fui escolhido entre candidatos de 46 países. Fiquei orgulhoso.”

A Seacology é uma organização não governamental com sede em Berkeley, na Califórnia, Estados Unidos, dedicada à preservação de ecossistemas e culturas insulares em todo o mundo. “Nunca foi nosso objetivo ganhar prêmios. O que nos orgulha é ter conseguido recuperar áreas desmatadas, com nossos próprios recursos e sem ajuda externa”, ressaltou Meilandi. Envolverde/IPS

* Este artigo foi produzido com apoio da Unesco.