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Sul disperso na batalha pela presidência do Banco Mundial

Que sejam respeitadas as regras do jogo baseadas no mérito dos candidatos e não no poder de voto, pede José Antonio Ocampo, candidato à presidência do Banco Mundial. Foto: José Antonio Ocampo CC BY-SA 3.0

Cidade do México, México, 3/4/2012 – O mundo em desenvolvimento tem a ocasião de aproveitar o processo sucessório da presidência do Banco Mundial para ganhar maior peso nesse organismo multilateral e promover mudanças em seu funcionamento interno. Três candidatos competem pelo cargo ocupado pelo norte-americano Robert Zoellick desde julho de 2007, que ficará vago em junho deste ano.

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, propôs o médico Jim Yong Kim, sul-coreano nacionalizado norte-americano, enquanto o Brasil tem como candidato o economista colombiano José Antonio Ocampo. Nigéria, Angola e África do Sul indicaram a ministra nigeriana das Finanças, Ngozi Okonjo-Iweala. O vencedor será conhecido antes do início, no dia 20 de abril, das reuniões de primavera do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI).

“A escolha é uma prova de fogo para a transparência do Banco. Veremos se é aberta e transparente. É importante que sejam respeitadas as regras do jogo de que a escolha se baseará nos méritos dos candidatos e não no poder de voto” que os países têm dentro da instituição, disse à IPS o colombiano Ocampo, professor na Escola de Assuntos Internacionais e Públicos da Universidade de Colúmbia, nos Estados Unidos.

Este economista de 59 anos foi ministro da Agricultura entre 1993 e 1994 e da Fazenda, entre 1996 e 1998, quando assumiu a Secretaria Executiva da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal). Entre 2003 e 2007, ocupou o cargo de secretário-geral adjunto para Assuntos Econômicos e Sociais da Organização das Nações Unidas (ONU).

“O crescente peso das economias emergentes é um tema fundamental a ser considerado em todos os níveis de governança mundial. O princípio básico é que todos os membros têm direito a apresentar candidaturas. A cooperação para o desenvolvimento pode ser um critério para ter mais voz e voto nos organismos”, propôs Ocampo.

E um acordo tácito, Estados Unidos e União Europeia dividem as chefias do Banco Mundial e do FMI. Desde a criação do Banco, em 1944, todos seus presidentes foram norte-americanos, e o processo atual não seria a exceção. A América Latina tem o precedente de 2011, quando o mexicano Agustín Carstens competiu pela direção do FMI, que ficou nas mãos da francesa Christine Lagarde.

Obama quebrou a tradição de indicar um político ou um banqueiro, pois Kim é médico e antropólogo e diretor da universidade norte-americana Dartmouth College. “É hora de o Banco Mundial ser dirigido por alguém com uma visão diferente, que possa estar mais preocupado com os problemas reais do mundo em desenvolvimento”, declarou à IPS o professor Clemente Ruiz, da Faculdade de Economia da Universidade Nacional Autônoma do México.

Ruiz também criticou o fato de os países em desenvolvimento não terem buscado um consenso para conseguir maior peso no Banco. “Isto é uma fraqueza neste processo. É preciso formar coalizões e somar apoios, e vejo que esse trabalho prévio não foi feito”, afirmou.

O Convênio Constitutivo do Banco, cujo objetivo é reduzir a pobreza, estipula que o Diretório Executivo escolhe o presidente do Banco e seja formado por 25 representantes dos 187 países-membros. Os cinco países com maior quantidade de ações designam cinco diretores executivos, enquanto os demais elegem os outros 20. Alemanha, Arábia Saudita, China, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Índia, Itália, Japão e Rússia concentram quase metade do poder de voto. Uma reforma em 2011 ampliou as ações e, portanto, os votos de Brasil, China, Coreia do Sul, México e Turquia.

Nesse contexto, a competição pela presidência se mostra intensa e a existência de três candidaturas denota que os países que tomam empréstimos não se centram enfaticamente na direção do Banco ou se dividem diante de uma postulação em particular. Também são evidentes os interesses divergentes de potências emergentes, como Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (Brics), que adiaram para 2013 a decisão de criar seu próprio banco de desenvolvimento.

Seja qual for o presidente “eleito, será necessário um entendimento sobre a necessidade de mudança econômica, social e ambiental e de governança democrática”, afirmou à IPS uma fonte do não governamental Bank Information Center (BIC), com sede em Washington. Esta organização e outras 12 do continente americano defendem desde 2010 mudanças na estratégia do Banco para que em suas políticas e nos projetos que apoia sejam considerados os direitos das comunidades, as energias verdes e a transparência na elaboração, execução e prestação de contas.

Além disso, essas organizações defendem que o Banco Mundial priorize o acesso energético equitativo e sustentável e avalie os efeitos históricos, atuais e futuros, de seu financiamento no meio ambiente, no clima e nas comunidades que sofrem as intervenções. “O Banco Mundial precisa ser guiado por uma estratégia energética de baixo carbono que aumente o acesso a energia pelos mais pobres, fortes padrões ambientais e sociais que promovam a sustentabilidade e evitem projetos daninhos, e maior participação comunitária”, pede o BIC.

Para Ocampo, o Banco Mundial “tem uma grande quantidade de desafios de curto e longo prazos. É preciso repensá-los, há uma boa oportunidade para colocá-lo na direção apropriada”. Paradoxalmente, Ocampo não tem apoio do governo da Colômbia, cujo presidente, Juan Manuel Santos, prefere promover o vice-presidente, Angelino Garzón, para a secretaria-geral da Organização Internacional do Trabalho. Além disso, outro colombiano, Luis Alberto Moreno, já preside uma instituição financeira multilateral, o Banco Interamericano de Desenvolvimento.

“Viveremos em um mundo onde o comércio internacional será menos dinâmico e que obrigará a pensar na inovação em todos os níveis. Como podem os países desenvolvidos investir em inovação para aumentar a produtividade e a competitividade? Como aumentar o emprego se a economia não é reativada?”, questiona Ocampo.

Para Ruiz, “há uma agenda internacional do desenvolvimento, então o Banco Mundial teria que pensar em apoiar e impulsionar de maneira ampla esse objetivo. Não tenhamos muitas agendas, façamos algo pragmático em torno de um tema com o qual todos estão de acordo e nos comprometamos com que as coisas aconteçam”. Um dos aspectos relevantes da gestão de Zoelick foi a transformação da Política de Acesso a Informação, que aplicou mecanismos de solicitação mais claros e ampliou o fluxo de informação difundida. Envolverde/IPS