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Cessar-fogo “parcialmente observado”

Doha, Catar, 13/4/2012 (IPS/Al Jazeera) – O acordo de cessar-fogo na Síria, patrocinado pela comunidade internacional, é apenas “parcialmente observado”, segundo a oposição, enquanto a televisão estatal informou que uma bomba colocada ao lado de uma estrada matou um oficial do exército. Armas pesadas e tropas do governo continuam chegando nas cidades, garantiu ontem o principal bloco opositor, o Conselho Nacional Sírio, horas após a trégua entrar em vigor.

“Não há evidência de uma retirada significativa”, disse o porta-voz do Conselho, Bassma Kodmani. “O cessar-fogo é apenas parcialmente observado. Para nós está claro que a trégua implicava a retirada de todas as armas pesadas das cidades, das áreas povoadas. Isto não ocorreu”, acrescentou. Kodmani afirmou que três pessoas morreram nas localidades de Idlib e Hama.

A trégua, negociada pelo enviado da Organização das Nações Unidas (ONU) e da Liga Árabe, Kofi Annan, entrou em vigor às 6h (hora local) de hoje. Por seu lado, o governo de Bashar al Assad denunciou que “terroristas” tentavam sabotar o plano de paz. Meios de comunicação estatais informaram que uma bomba que explodiu ao lado de uma estrada na cidade de Aleppo, a segunda mais importante do país, matou um oficial do exército.

“Um grupo de terroristas utilizou um artefato explosivo para atacar um ônibus que transportava oficiais e suboficiais à sua unidade militar em Aleppo. Mataram um tenente-coronel e feriram outras 24 pessoas”, às 8h desta manhã, informou a agência de notícias Sana. Por sua vez, ativistas informaram que houve manifestações contra o governo nas universidades de Aleppo (norte), Deraa (sul) e Deir el-Zor (leste). Também houve uma marcha na aldeia de Tamanaa, no norte do país.

A China, que apoiou a Síria durante os últimos 13 meses de crise, apoiou a trégua, e disse esperar que o regime de Assad continue “apresentando ações concretas para apoiar e cooperar com os esforços de mediação de Annan”. Líderes ocidentais expressaram suas dúvidas quanto a Damasco respeitar o acordo, e chamaram outras nações a tomarem medidas adicionais no Conselho de Segurança da ONU.

A Sana informou que as forças armadas sírias deram formalmente por encerrada sua missão na manhã de ontem, e declararam que a campanha militar contra os “atos criminosos de grupos terroristas” teve “êxito”. Mas a agência, citando uma fonte do Ministério da Defesa, acrescentou que os militares permaneciam em alerta.

Desde que em março de 2011 começaram os protestos contra o regime de Assad, inspirados na Primavera Árabe, o governo reprimiu brutalmente a oposição, matando mais de nove mil pessoas, segundo estimativa da ONU, e provocando uma reação armada. No entanto, os combatentes da oposição, pouco conectados entre as diferentes províncias do país, não contam com uma cadeia de comando fixa e, assim, crescem as dúvidas quanto a respeitarem efetivamente a trégua.

Anita McNaught, correspondente da Al Jazeera na Turquia, informou que comandantes do opositor Exército Sírio Livre declararam sua intenção de respeitar a trégua. Por sua vez, Rula Amin, correspondente em Beirute, explicou que Annan, na realidade, “não esperava um completo fim da violência”, mas que pretendia garantir as condições necessárias para a chegada da ajuda humanitária.

Saif, ativista na conflitiva cidade de Homs, no centro do país, disse à Al Jazeera estar convencido de que o bombardeio sobre a população recomeçaria em poucas horas. “Todos os comércios estão fechados há mais de dois meses. Ninguém pode ir trabalhar, todas as comunicações, exceto os telefones, estão desligadas na maioria das áreas, e também as escolas estão fechadas. Há muitas dificuldades”, afirmou.

Abu Rami, outro ativista de Homs, informou que horas antes de entrar em vigor a trégua houve bombardeios e ataques contra cidades que mataram “dezenas de pessoas”, mas que ontem não houve nem tiroteio nem bombardeio. No entanto, soldados e veículos armados ainda estavam estacionados nos postos de vigilância, acrescentou. “Creio que muitas pessoas irão às ruas e continuarão protestando para conseguir seu objetivo: a renúncia do regime”, ressaltou.

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, se comunicaram por telefone na quarta-feira e concordaram quanto à necessidade de uma ação “mais decidida” do Conselho de Segurança da ONU em relação à Síria, informou a Casa Branca.

“O presidente e a chefe de governo alemã compartilham a preocupação de que o governo de Assad não cumpra os termos do acordo negociado por Annan e continue agindo brutalmente contra seu próprio povo. Concordaram que isto revelava a necessidade de o Conselho de Segurança atuar unido e tomar uma ação mais decidida”, afirmou a Casa Branca. Envolverde/IPS

* Publicado sob acordo com a Al Jazeera.