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Ativistas ganham terreno no mundo virtual

Manifestações populares, em julho de 2011 contra o governo pela deterioração da economia e a má governança. Foto: Katie Lin/IPS

Blantyre, Malawi, 18/4/2012 – A comunidade da internet em Malawi, em expansão desde os protestos contra o governo, no ano passado, agora comemora a repentina chegada à Presidência de Joyce Banda, primeira mulher a ocupar esse cargo na África austral. Dois dias antes da confirmação oficial da morte do presidente Bingu wa Mutharika, no dia 5, o boato já circulava na rede social Facebook.

A consequente designação da vice-presidente Banda como nova chefe de Estado contribuiu para amplificar a atividade nas redes sociais da internet, como Facebook e Twitter, com mensagens de apoio e otimismo. Agora que a mandatária começou a purgar o governo de funcionários corruptos e a atrair doadores internacionais em uma tentativa de aliviar as dificuldades econômicas que o país sofre, a atividade nas redes sociais continua aumentando.

A comunidade da internet começou a se mobilizar com os protestos contra o governo que começaram em 20 de julho de 2011, em todo o país, devido à deterioração da economia e à má gestão política. Os distúrbios duraram dois dias e deixaram 20 pessoas mortas. A permanente falta de combustível e a escassez de divisas pioraram o descontentamento da população. Quando a Autoridade de Regulação das Comunicações de Malawi (Macra) fechou temporariamente canais privados e bloqueou populares sites de notícias, as pessoas se voltaram às redes sociais em busca de informação.

“Há uma tendência das autoridades para controlar o fluxo da informação”, afirmou Arnold Munthali, editor da empresa de comunicação Blantyre Newspapers Limited (BNL). “Porém, os meios sociais criaram uma população socialmente livre e politicamente mais consciente, que foge ao controle do governo”, acrescentou.

Segundo o portal de estatísticas da mídia, Socialbakers, há 132.580 usuários de Facebook no Malawi. Embora representem menos de 1% dos 15 milhões de habitantes, a quantidade mais do que dobrou entre março de 2011 e o mesmo mês deste ano. Tal crescimento em um período de agitação social mostra que as redes sociais têm lugar de destaque em Malawi, apesar da baixa penetração da internet.

Em 2010, a União Internacional de Telecomunicações estimou que 4,5% da população de Malawi usava internet. O acesso está limitado principalmente pela má infraestrutura das comunicações. Em plena crise social e política, a população compartilhou no Facebook fotografias de manifestantes feridos e propriedades danificadas. Pelo Twitter, se alertava sobre as áreas mais problemáticas e denunciava a localização de policiais. Também foram publicados no YouTube vídeos gravados com telefone celular mostrando o caos que reinava nas ruas.

Rogers Siula, planejador de mídia de 28 anos que participou dos protestos de julho passado nesta cidade do Malawi, optou por se expressar por meio de um blog: “Vivemos em um contexto no qual, os jovens, que têm um incrível potencial de florescer e converter o Malawi em um país dinâmico, fresco e forte, são oprimidos pela esquerda, pela direita e pelo centro. Na atual conjuntura política de tensão, plataformas como Facebook, Twitter e blogs são seguras”, afirmou.

Pode ter mudado o ano-calendário, mas a tensão permanece gerando novas controvérsias. A detenção arbitrária do conhecido advogado defensor dos direitos humanos, Ralph Kasambara, em fevereiro atraiu a atenção internacional graças ao surgimento de grupos de apoio no Facebook. Oito dias depois de sua detenção, foi solto sob fiança. Kasambara reconheceu o papel desempenhado pelas redes sociais.

Em pequena escala, as redes sociais também ajudam os cidadãos a enfrentar batalhas cotidianas, como a busca do escasso combustível. Frederick Bvalani é um dos fundadores do Malawi Fuel Watch (MFW), um grupo no Facabook com cerca de 7.400 membros que compartilham informação sobre onde encontrar combustível e seu preço. “O relativo baixo custo das comunicações via internet e a disponibilidade de pessoas em um fórum como o Facebook é ideal para promover a mudança e conectar as pessoas que querem ver um Malawi diferente e melhor”, destacou Bvalani.

Para Billy Ngoma, de 27 anos, os benefícios do MFW são óbvios. “Podemos passar entre seis e oito horas fazendo uma longa fila para conseguir 25 litros de combustível. O grupo ajuda os usuários das redes sociais a saberem qual posto tem para vender”, ressaltou. Da organização dos protestos de julho passado até os boatos sobre a morte de Mutharika, parece que as redes sociais ganham maior relevância. No entanto, o crescente uso dessas plataformas para compartilhar informação de forma rápida deixa a descoberto seus usos incorretos, pois também servem para propagar boatos e conteúdo errôneo.

Por meio dos meios tradicionais de comunicação, Munthali explicou que a BNL simplesmente não estava preparada para responder à comunidade da internet quando surgiu a necessidade durante os distúrbios de julho do ano passado. Mas esses problemas não bastam para que a mídia se afaste das redes, assim como a perseguição da censura. “Como os meios tradicionais se veem acossados por leis antipáticas promulgadas pelo governo, tentamos melhorar nossa presença na internet interagindo mais com nosso público”, acrescentou.

Desde 2009, a Macra lança centros de tecnologia de informação e comunicação em todo o país. Essa iniciativa, juntamente com a instalação de cabos de fibra ótica nas cidades pela Malawi Telecommunications Limited e o aumento do uso de celulares, sem dúvida tem impacto no uso da internet e, portanto, na circulação de conteúdo tanto em áreas urbanas quanto nas rurais. Seja qual for o curso dos acontecimentos durante a presidência de Banda, é muito cedo para saber as consequências dessas mudanças, e, sem dúvida, a sociedade estará falando delas pelas redes sociais. Envolverde/IPS