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Salem, Palestina, 1/11/2012 – Fixado em um grande bloco de concreto, o enferrujado portão cinza que permite aos agricultores palestinos desta aldeia da Cisjordânia terem acesso às suas oliveiras foi aberto por apenas quatro dias este ano. “A estrada sempre está fechada por este portão, à exceção de duas vezes ao ano”, disse Adley Shteyeh, membro do comitê local de Salem.
Os moradores da parte oriental da aldeia possuem cerca de mil hectares de terra, aos quais só podem chegar com autorização emitida pelas autoridades militares israelenses, e após cruzar o portão e uma estrada que circunda um assentamento israelense. “Normalmente, precisamos de dez dias ou mais para fazer nosso trabalho do outro lado” dessa estrada, disse Shteyeh, enquanto mais atrás se podia ver vários aldeões cortando os galhos de suas árvores para obter todas as azeitonas possíveis antes que suas autorizações expirem.
Na semana passada, dois agricultores palestinos de Salem tentaram cruzar a estrada em um trator até as oliveiras. Antes que conseguissem, um veículo militar israelense fechou sua passagem. Momentos depois, a IPS presenciou a chegada de outros dois automóveis. Em seguida, cerca de uma dezena de soldados de Israel retiveram um grupo de ativistas palestinos e estrangeiros que percorriam a aldeia, e também moradores do lugar, sob suspeita de que jovens haviam atirado pedras contra os colonos das proximidades. Meia hora depois, finalmente deixaram o grupo partir e permitiram que os agricultores chegassem às suas oliveiras.
“Se alguém tenta cruzar esta estrada sem autorização, ou apanha ou é assediado pelos colonos, ou pelo exército de Israel”, contou Shteyeh. “Os colonos chegam vandalizando terras, e também pegam pessoas dentro da aldeia”, acrescentou. Segundo o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação dos Assuntos Humanitários (OCAH) nos territórios palestinos ocupados, na Cisjordânia há 73 portões deste tipo. Estão fechados o ano todo, e as autoridades israelenses só os abrem por períodos limitados durante a safra de azeitonas. A OCAH estima que, desde o começo de outubro deste ano, os colonos israelenses vandalizaram ou destruíram aproximadamente mil oliveiras pertencentes a palestinos na Cisjordânia.
Esta destruição prejudica a viabilidade econômica da indústria do óleo de oliva nos territórios palestinos ocupados, que representa 14% da renda agrícola da área e o sustento de aproximadamente 80 mil famílias palestinas. “Toda perda relacionada com a violência dos colonos ou as atuais restrições ao acesso dos agricultores às suas oliveiras ao longo do ano tem impacto na economia local”, disse por e-mail à IPS o diretor da OCAH na Palestina, Ramesh Rajasingham.
“O triste é que, em muitos destes casos, se retira o meio de sustento de uma família que antes podia se manter sozinha, e, portanto, passa repentinamente a depender do apoio de organizações humanitárias e doadores. Esta dependência de ajuda, por sua vez, aprofunda a crise de dignidade. Esta situação é inteiramente evitável”, afirmou Rajasingham.
Entretanto, colher azeitonas é mais do que um meio econômico para muitos palestinos. “Nossas vidas estão vinculadas às oliveiras”, disse à IPS o agricultor Jamal Abu Hijji. Este homem de 48 anos, pai de quatro filhos, passou uma ensolarada tarde da semana passada com seus dois irmãos, cunhadas e sobrinhos em suas terras na aldeia de Deir Istiya, na área de Naplusa.
Juntos, usando escadas e pequenos rastelos de plástico, revisaram cada galho e foram jogando as azeitonas sobre lonas de plástico instaladas sob as árvores. Abu Hijji explicou que durante a temporada de colheita trabalha das 6h às 16h cada dia durante um mês, em quase 300 árvores. Mas, além de colher,deve trabalhar em uma prensa local de azeitonas para atender as necessidades de suas famílias.
“O resultado é modesto para ganhar a vida, mas é importante para nós, já que vivemos aqui e herdamos as terras e as árvores de nossos pais e avós”, afirmou Hijji. “Não só têm grande valor material, seu significado está mais em seu valor moral, nas tradições e na terra. Sou palestino e quero proteger minha terra”, enfatizou. Envolverde/IPS