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A cultura de gênero é o maior desafio para a humanidade

Foto: Thiago Lopes
Foto: Thiago Lopes

Para a professora Márcia Tiburi, da Unicamp, a questão se resume ao que ela explicou: “Ninguém nasce machista; torna-se machista”.

Sob o olhar atento de uma plateia em que os homens podiam ser contados nos dedos das mãos, a Conferência Ethos 360º, iniciada nesta segunda-feira (22), tratou do machismo e da cultura de gênero na palestra “Mulheres Líderes e Desafios Mundiais”. Estavam presentes no debate a jornalista chilena naturalizada nicaraguense Mónica Zalaquett Daher, diretora executiva do Centro de Prevención de La Violencia (Ceprev), e a filósofa, escritora e professora da Unicamp, Márcia Tiburi,

Para Zalaquett, a questão da cultura de gênero é o maior desafio para a humanidade. “A masculinidade está em crise. Estamos vivendo uma condição de troca de papéis e a ascensão do feminino apresenta, como consequência, o aumento da violência”. Ela citou que, no Brasil e na Argentina, 80% dos crimes são cometidos por homens. No México, 90%. Na Nicarágua, país em que coordena o Ceprev, 65%.

Para a professora da Unicamp, Márcia Tiburi, a questão se resume ao que ela explicou: “Ninguém nasce machista; torna-se machista”.

Essa cultura machista traz problemas para toda a sociedade, na opinião de ambas. Os argumentos são embasados em análises e observações nos mais diversos aspectos da vida.

“Os homens vêm sendo aleijados de sua dimensão emocional e afetiva. A dureza de sentimentos agravados por uma condição cultural transforma o homem numa bomba relógio. Uma hora vai explodir. Em muitos lugares do mundo, em especial na América Latina, um homem jovem sem emprego é nada; com uma arma é alguém. A cultura liga a violência à masculinidade”, disse Zalaquett.

Para Tiburi, no Brasil, a questão do gênero vive uma condição de pensamento autoritário contra o democrático.

“O machismo, claro, representa o que é autoritário e replica em todos os segmentos da sociedade, que passam a agir, manifestar e pensar sob condições discriminatórias. Vivemos então uma condição de machismo estrutural, em que as mulheres também participam como vítimas e também como colaboradoras, ao incentivar atitudes machistas na educação e nos relacionamentos. “Vivemos uma espécie de naturalização desses papéis.”

Ela também manifestou sua preocupação com o crescimento das práticas fundamentalistas em questões de gênero, de raça, de religião e econômicas. Para a professora e pesquisadora, essa é mais uma das formas de dominação e abuso: “O crescimento da bancada BBB (Bala, Bebida e Bíblia) no Congresso brasileiro recrudesce as discussões sobre gênero. O Brasil é o país em que mais matam transexuais e travestis no mundo! Temos de reconhecer, sempre, o lugar do outro. Uma palavra que temos de incluir em nosso vocabulário é ‘respeito’”.

Zalaquett crê que o respeito e a tolerância só passarão a existir quando os países incluírem um modelo de educação que contemple as questões de gênero e que separe os atos e os pensamentos violentos da condição masculina. “Esse é o grande desafio mundial, que engloba a família e a escola”. Ela citou que, na Nicarágua, os números da violência caíram nas localidades em que atua o Ceprev, ONG de caráter educativo sobre a violência intrafamiliar e os direitos da mulher. “Ensinar os homens a manifestar seus sentimentos é a saída”. (Ethos/ #Envolverde)

Por Bruno Starnini Jr., da Envolverde, especial para o Instituto Ethos.