Internacional

A pesquisa e o futuro dos alimentos

Agricultores da Tanzânia. Foto: KizitoMakoye/IPS
Agricultores da Tanzânia. Foto: KizitoMakoye/IPS

Cientistas de todo o mundo dedicados à segurança alimentar se reuniram em Johannesburgo, África do Sul, com a finalidade de transformar a agricultura em um motor para o crescimento do Sul em desenvolvimento.

Por Kwesi Atta-Krah, da IPS – 

Johannesburgo, África do Sul, 20/4/2016 – A Terceira Conferência Mundial sobre Pesquisa Agrícola para o Desenvolvimento (GCARD3), realizada entre os dias 5 e 8 deste mês, também foi uma oportunidade para analisar o quanto os produtores necessitam para prosperar diante dos desafios sociais e ambientais.

Uma preocupação recorrente na conferência, que foi o resultado de um processo de consulta de dois anos com entidades nacionais e regionais, é a de que “ninguém seja excluído” da revolução agrícola em andamento, e que a pesquisa continue “com foco no futuro”.Sabemos que os desastres naturais e as pragas podem paralisar a produção agrícola. Basta ver o impacto que a seca induzida pelo fenômeno climático El Niño exerce nos agricultores da África austral.

Portanto, devemos investir em programas que ajudem a população a se preparar para esse tipo de eventos. Porém, os investigadores não devem pensar apenas sobre as comunidades, mas na necessidade de que estas participem da concepção do futuro que desejam, considerando a mudança climática e outros cenários.

Na África, a rede mundial de centros de pesquisa do Grupo Consultivo para a Pesquisa Agrícola Internacional (CGIAR) já trabalha para que isso aconteça. Por exemplo, um projeto na Nigéria procura mapear os padrões de inundação para orientar a tomada de decisões futuras com relação à resposta às inundações. Melhorar o acesso à informação climática também será fundamental como ajuda para que os agricultores mantenham a produtividade diante dos erráticos padrões climáticos.

Em colaboração como Agrhymet – um instituto especializado do Comitê Permanente Interestatal para a Luta Contra a Seca no Sahel, integrado por nove países – e os serviços meteorológicos nacionais de Etiópia, Madagascar, Ruanda, Tanzânia e outros países, o CGIAR canaliza a informação climática diretamente paraos produtores rurais.

Mediante a combinação de conhecimentos tradicionais e científicos, os prognósticos específicos para cada localidade são adaptados para atender as necessidades dos agricultores, e transmitidos por programas de rádio e telefone celular. Os produtores se beneficiam com a informação sobre o que e quando plantar, fertilizar e colher, e são capacitados para interpretar e aplicar os prognósticos em suas tarefas diárias.

Kwesi Atta-Krah. Foto: Cortesia do autor
Kwesi Atta-Krah. Foto: Cortesia do autor

A Conferência também reconheceu o potencial dos jovens para levar a cabo o desenvolvimento agrícola e também para proporcionar empregos a si mesmos e a outros. Dois oradores da organização Jovens Profissionais pelo Desenvolvimento Agrícola (Ypard) e da Empreendimentos Agrícolas de Makolobane pediram ao público que deixe de se referir aos jovens como os “líderes do amanhã” e reconheçam seu papel como “líderes de hoje”.

A África tem cerca de 200 milhões de jovens com necessidade de emprego, e seus mercados de alimentos e bebidas terão valor potencial de US$ 1 trilhão até 2030. Os jovens devem estar capacitados para participar desse mercado crescente. É necessário um importante investimento em capacitação e equipamentos para que a produção local, o processamento e a comercialização desses alimentos sejam uma opção atraente para os jovens empresários.

Em seu discurso, a jovem diretora-geral da Empreendimentos Agrícolas de Makolobane, DimakatsoSekhoto, destacou a necessidade de que os mais jovens tenham acesso a financiamento como apoio para suas empresas.A capacitação dos jovens nas áreas de habilidades empresariais, espírito empresarial, liderança e desenvolvimento pessoal é um fator essencial, segundo vários presentes à Gcard3. Um exemplo é a formação na elaboração de planos de negócios para que os jovens empresários possam solicitar créditos nos bancos, com apoio adequado na parte burocrática e no planejamento.

Muitas iniciativas procuram apoiar a juventude na agricultura, como a iniciativa Ypard implantada pelo Fórum Mundial sobre Pesquisa Agrícola (GFAR) em vários países. Em 2012, o Instituto Internacional de Agricultura Tropical (IITA), localizado em Ibadan, na Nigéria, também colocou em marcha a iniciativa IITA Agroempresários Jovens (IYA).

Esse programa busca expor aos jovens as oportunidades que a agricultura oferece para a criação de emprego em áreas como especialização e produção de sementes de qualidade, agregar valor mediante o processamento, pesca e produção de animais reprodutores, e a comercialização e o uso das tecnologias de informação e comunicação no setor agroalimentar.

No IITA investimos com energia nesse tipo de preparação para que os agroempresários jovens ingressem no mercado. A iniciativa IYA foi replicada na República Democrática do Congo (RDC), Quênia, Tanzânia, Uganda e Zâmbia. Muitos outros países estão no horizonte.Na RDC os integrantes da organização IITA-Kalmabo de Jovens Agropecuários (Ikya) pretendem criar suas próprias empresas agroindustriais para que sirvam como modelos para outros jovens. O grupo, criado em abril de 2014, conta atualmente com 32 sócios de 25 a 32 anos.

Suas atividades incluem as cadeias de valor de diferentes cultivos, como mandioca, milho e soja. O grupo participa de diferentes empresas agrícolas comerciais, incluída a produção e venda de matérias-primas agrícolas, processamento da mandioca e do milho, produção de farinha de milho de alta qualidade e de farinha de mandioca e amido, bem como a pesca.

Além desses programas, vários centros do CGIAR contam com plataformas de incubação de empresas que desenvolvem métodos de fabricação eficientes, que o setor privado pode replicar. Um exemplo é a Afri Banana ProductsLtd, de Uganda, que formou 39 empresários, comercializou seis tecnologias e ajudou a gerar emprego para mais de 420 pessoas.

Estão sendo testadas novas tecnologias que reduzem a monotonia do processamento agrícola e melhoram a eficiência, como uma debulhadora mecânica que pode processar 18 vezes mais amendoim em uma hora do que o trabalho manual, e processadores que podem converter a casca da mandioca em alimento de alta qualidade para animais.

A Plataforma de Incubação de Empresas do IITA na Nigéria instalou miniplantas para a produção de insumos agrícolas essenciais como modelos para a participação do setor privado.

Um produto importante dessa plataforma é o aflasafeTM para combater o problema da contaminação por aflotoxinas nos cereais e em outros cultivos.A unidade de aflasafeTM produz até 40 toneladas desse produto por dia e o principal objetivo da plataforma é conseguir que os interessados invistam na construção de mais plantas e laboratórios em todo o continente africano. Envolverde/IPS

*Kwesi Atta-Krah é diretor do Programa de Pesquisa do CGIAR sobre Sistemas Integrados do Trópico Úmido, dirigido pelo Instituto Internacional de Agricultura Tropical (IITA).