Sociedade

Alheia à pandemia, venda de carros elétricos no mundo cresce 41% em 2020

por Robson Rodrigues, especial para a Envolverde – 

No total, cerca de 3 milhões de veículos foram vendidos. Sem uma política industrial para carros elétricos, Brasil fica de fora das projeções

As vendas globais de carros elétricos tiveram alta de 41% em 2020, de acordo com o relatório Global EV Outlook 2021, divulgado pela Agência Internacional de Energia (AIE). O número de veículos elétricos comercializados no período chegou a 3 milhões, enquanto o mercado global de veículos convencionais teve uma retração de 16% nas vendas provocada pela pandemia.

Pela primeira vez, a Europa ultrapassou a China e se tornou o maior mercado de veículos elétricos do planeta. O forte crescimento das vendas nessas regiões foi impulsionado pelo maior rigor das medidas de redução de emissões de gases de efeito estufa e subsídios governamentais. E neste primeiro trimestre de 2021, as vendas continuam aceleradas com 1,1 milhão de unidades vendidas no mundo.

O documento prevê ainda “uma grande expansão na adoção de veículos elétricos nesta década”.  No cenário mais conservador, as projeções da Agência indicam que até 2030 serão 145 milhões de veículos circulando no mundo, isso.

No entanto, ele detalha que para alcançar esse crescimento é importante que os governos implementem incentivos para a aquisição desse tipo de carro.

Sem perspectivas para o Brasil

O documento não menciona o Brasil, diz apenas que em relação à América Latina, o Chile e Colômbia estabeleceram metas de eletrificação das frotas de ônibus.

Para Adalberto Maluf, presidente da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE) e diretor de Marketing e Sustentabilidade da BYD, o parque produtivo do Brasil está obsoleto e pode morrer porque o país não debate uma política industrial para elétricos, não há um programa nacional e não existem metas ambientais para redução de CO2 para o setor de transportes.

“No ano passado, o Brasil vendeu 50% a menos de carros elétricos a bateria do que a Colômbia que tem um mercado 10 vezes menor”.

O executivo alerta que o país precisa urgentemente de uma política industrial que priorize a inovação e as novas tecnologias. “Em 2020, a América Latina chegou à marca de mais de 2 mil ônibus elétricos e esse ano a previsão é dobrar. Infelizmente o Brasil está fora dessas estatísticas”.

No caminho certo

A resiliência das vendas de carros elétricos frente à pandemia foi motivada pela estrutura regulatória de muitos países que estão fortalecendo políticas de redução de emissões de CO2, por subsídios e incentivos adicionais de governos e pela queda no custo da bateria.

Para o pesquisador do núcleo interdisciplinar de planejamento energético da Unicamp, Ennio Peres da Silva, a redução de custos obtidos com os avanços tecnológicos associada à pressão pela descarbonização da economia dará impulso para que a oferta de elétricos se popularize.

“É uma hipótese possível que até 2030 os veículos elétricos tenham preços tão competitivos quanto os veículos a combustão interna. Há uma curva descendente dos custos dos carros elétricos, da mesma forma que o uso dos combustíveis fósseis deverá encarecer o uso dos veículos convencionais”, diz Ennio.

Robson Rodrigues é jornalista e formado em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (USP). Trabalha como repórter em jornais, revistas e internet em temas relacionados a meio ambiente, energia e desenvolvimento sustentável.

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