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Antiga e Barbuda se prepara para a mudança climática

Uma parte da praia Jabberwock, na costa nordeste de Antiga, afetada pela erosão marinha. Foto: Desmond Brown/IPS
Uma parte da praia Jabberwock, na costa nordeste de Antiga, afetada pela erosão marinha. Foto: Desmond Brown/IPS

 

St. John’s, Antiga, 16/4/2015 – O quilômetro e meio de areias brancas da praia Jabberwock a converte em uma das favoritas dos visitantes e moradores locais na costa nordeste de Antiga e Barbuda. Mas Freeston Williams, um morador que frequenta a região com fins recreativos, se preocupa com ao desaparecimento gradual da praia.

“Viajo por toda a área de Jabberwock no lado norte da ilha e vejo que a margem se aproxima cada vez mais da estrada, o que significa que a área que usamos para o exercício diminui. Não estou certo de estarmos causando com exatidão tudo isto, mas cedo ou tarde vamos ficar sem praia”, disse à IPS.

A diretora de ambiente de Antiga e Barbuda, Diann Black-Layne, confirmou que o nível do mar está aumentando. Ela está mobilizando legisladores e moradores da pequena nação insular caribenha para que se adaptem à mudança climática mediante a implantação de atividades nacionais pertinentes. “Nos últimos dez anos sofremos três secas em Antiga. A temperatura do Mar do Caribe terá níveis de verão todo o tempo. Isso significa que a temporada de furacões estará vigorando o ano todo”, apontou Black-Layne à IPS.

A funcionária afirmou que as tempestades, inundações costeiras e elevação do nível do mar alterarão os meios de vida nas zonas costeiras e nos pequenos Estados insulares em desenvolvimento, ao comentar as consequências de um aumento de dois graus Celsius na temperatura média do planeta, causada pelas emissões de gases-estufa, como indica o Quinto Informe de Avaliação do Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre Mudança Climática (IPCC). Black-Layne disse que, “para as pessoas que vivem nos trópicos, será calor em demasia. Cada edifício terá que ter ar-condicionado: escolas, igrejas, clínicas, prisões”.

Black-Layne previu que “também haverá falhas na infraestutura, como estradas, portos, aeroportos e edifícios. Plantas e animais, incluindo os humanos, morrerão durante os períodos de calor extremo. Haverá um colapso dos sistemas agrícolas, o que elevará o preço dos alimentos. Haverá um acesso insuficiente à água potável e de irrigação e uma redução da produtividade agrícola. As espécies tropicais de peixes se deslocarão para águas mais frias, reduzindo a pesca no Caribe”.

O turismo é o pilar da economia de Antiga e Barbuda, a principal fonte de emprego e de geração de divisas. Mas o cenário dos arrecifes, que são uma grande atração turística, também é sombrio. Com aumento da temperatura em torno de 1,5 grau, 89% dos arrecifes de coral sofrerão importante descoloração. Com dois graus serão afetados 100% dos corais até 2050, e com quatro graus todos os corais sofrerão uma grave descoloração anual.

Com a assinatura do Acordo de Copenhague em 2009, os líderes mundiais acordaram manter o aumento da temperatura em menos de dois graus. Segundo o IPCC, as temperaturas superficiais médias mundiais subiram cerca de 0,85 grau desde 1900 e as emissões acumuladas de dióxido de carbono (CO2) determinarão em grande parte o aquecimento global superficial até o final desse século e depois.

Para que haja 66% de probabilidades de o aquecimento causado por emissão de CO2 se manter abaixo dos dois graus, é necessário limitar o total das novas emissões de gases-estufa entre 370 e 540 gigatoneladas de carbono, segundo o IPCC.

No ritmo atual de emissões de CO2, cerca de 9,5 gigatoneladas por ano, o mundo superará a meta dos dois graus centígrados em menos de 50 anos. E essa análise supõe, de forma conservadora, que a taxa das emissões não continuará com sua atual trajetória ascendente de 3% anuais.

A fim de sensibilizar a população sobre a mudança climática, a Organização de Estados do Caribe Oriental (Oeco) realizou um painel nos dias 14 e 15, no contexto de seu projeto Convocando a Região à Ação sobre a Mudança Climática, financiado pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional.

Um funcionário da Oeco disse que foi informado aos participantes, procedentes dos setores mais afetados pela mudança climática, sobre os níveis de conscientização existentes em Antiga e Barbuda e foram debatidas as formas de reforçá-los.

O painel procurou “analisar a campanha de adaptação climática em curso, incluídos os resultados da pesquisa de Conhecimentos, Atitudes e Práticas sobre sensibilidade à mudança climática na Oeco”, explicou a especialista em comunicação da organização, Tecla Fontenard.

“Temos dados mostrando os níveis de conscientização que as pessoas têm e onde estão as brechas, e também temos dados de Antiga. O painel também determinará as prioridades para um plano de ação de comunicação que considere aspectos fundamentais da mudança climática em quatro setores principais, com agricultura, turismo marinho e costeiro, bem como o setor da água”, destacou Fontenard.

Antiga e outros países da Oeco têm maior vulnerabilidade a muitas das pressões econômicas e ambientais que surgem no mundo. Essa situação, junto com a fragilidade de seus recursos naturais e culturais e seus desafios sociais, apresenta uma urgência especial para os objetivos de desenvolvimento sustentável da região.

Black-Layne disse que a administração do primeiro-ministro Gaston Browne terá que desenvolver estratégias de adaptação, durante os dois períodos de governo seguintes, para abordar vários problemas, como aumento do nível do mar e invasão da água salgada nos poços de água potável. Cerca de “100% da água potável terá que surgir da dessalinização. A acidificação do oceano prejudicará a indústria da concha e os pescadores terão que se adaptar e mudar para outras áreas de trabalho”, afirmou.

A funcionária acrescentou que nem tudo está perdido. “Pela perspectiva da Divisão de Meio Ambiente, quando se ouve os pronunciamentos e os impactos previstos da mudança climática em nosso país, não é muito animador. De fato, é bastante deprimente e a tentação seria dizer qual é o ponto de fazer o que estamos fazendo”, reconheceu. “Mas acreditamos que sempre existe um ponto de redenção e não creio que tenhamos superado esse ponto”, ressaltou. Envolverde/IPS