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Centros de recuperação na RDC rendem bons frutos

A pobreza generalizada na RDC torna difícil de custear escola. Foto: Einberger/argum/EED/IPS

 

Kikwit, República Democrática do Congo, 29/6/2012 – A criação de centros para ajudar meninas e meninos desfavorecidos a terem ensino gratuito e capacitação profissional começa a render frutos na República Democrática do Congo. Os CRS (sua sigla em francês) oferecem um programa especial acelerado para menores de nove a 11 anos que por qualquer motivo foram obrigados a deixar a escola. “Os educadores do CRS realizam uma capacitação de três meses para aprender os métodos especiais aplicados nestes centros”, informou Mutshio Lumbwe, especialista em educação não formal.

“É meu terceiro ano aqui”, contou Evodie Masenga, de 11 anos, parada fora de um dos CRS que há na cidade de Kikwit. “Posso lidar com matemática e ler correntemente. Também aprendi sobre comércio, que pode me ajudar no futuro”, explicou. Evodie está entre os 20 mil meninos e meninas atendidos pelos CRS que passaram no exame para concluir os seis anos de primário na RDC.

A pobreza generalizada faz com que muitos não possam pagar escola para seus filhos. Segundo o informe de 2008 do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), 70% da população deste país vivem com menos de US$ 1 por dia.

Fabien Elameji Tshibanda é um agente comercial desempregado de Mbuji-Mayi, cidade do centro do país, que costuma se dedicar à agricultura para ganhar a vida. “É difícil mandar meus oito filhos à escola”, disse. “Dois se formaram no CRS há quatro anos, e não tive que pagar nada. A menina agora aprende confecção e trabalha em uma loja, e o rapaz quer ser carpinteiro”, acrescentou.

Robert Makonda, especialista em educação não formal, disse que 83,5% das crianças da RDC não vão à escola. “Também há uma quantidade maior de crianças que abandonam a escola por não poderem pagar”, disse à IPS. É uma das taxas de matrículas mais baixas do mundo. Segundo o fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), a Somália, também afetada por décadas de guerra civil, tem uma taxa de 20% de matrículas.

“As 20 mil crianças que passaram no Tenafep (Teste Nacional de Final de Estudos Primários) este ano procedem de 840 CRS, quase sete mil a mais do que os registrados em 700 centros do ano passado”, detalhou Alberto Ketho, diretor-geral de educação não formal do Ministério de Assuntos Sociais. Porém, acrescentou, a ajuda econômica e os materiais entregues por sócios como Unicef, Organização das Nações Unidas para a Educação e a Cultura (Unesco) e a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid) não cobrem as necessidades dos centros de ensino.

“Com US$ 15 milhões poderíamos ensinar 900 mil crianças por ano. E os US$ 300 mil que os sócios entregam não são suficientes para o trabalho do sistema de CRS na RDC”, indicou Ketho. O próprio governo congolês destinou US$ 125 mil, menos de 0,01% de seu orçamento de 2011, a essas instituições de ensino, destacou. “Estes centros simplesmente respeitam o direito à educação que todas as crianças devem ter. Estão em sintonia com vários instrumentos internacionais para a proteção da infância ratificados pela RDC”, afirmou Joseph Lukubu, coordenador da Rede de Formação Internacional em Direitos Humanos para o Desenvolvimento Sustentável na África, uma organização com sede em Kikwit.

O ativista Arséne Ngondo quer que sejam abertos mais CRS nas áreas rurais. “Por que há mais centros nas cidades, quando há milhares de crianças no campo que não têm as mesmas vantagens?”, questionou. Envolverde/IPS