Entenda o que é lábio leporino e fissura labiopalatal

À primeira vista, pode causar impacto e angústia para a mãe, mas as consequências do lábio leporino para o bebê não são graves quando iniciado tratamento imediato. “O importante é tranquilizar os pais, principalmente a mãe, indicando que o bebê pode mamar normalmente, apenas deve-se orientar quanto à postura na amamentação”, explica a fonoaudióloga Ana Maria Hernandez, do Hospital Santa Catarina.

O lábio leporino é uma fissura no lábio superior – entre a boca e o nariz – que pode estender-se ou não até o palato (céu da boca). Nestes casos é chamado de fissura labiopalatal e ocorre quando o palato não se fecha completamente. Tem graus diferentes, podendo ser unilateral ou bilateral, que vão desde a falta de fusão no chamado palato mole até a fenda completa do céu da boca.

Quando uma criança nasce com esta condição, existem duas opções que variam conforme a equipe médica que acompanha o caso. “Alguns fazem a operação da fissura labial logo após o parto; outros, apenas após três meses. Além da equipe médica, o que vai determinar quando a primeira cirurgia será feita é a condição de saúde da criança. Ela deve ganhar peso, daí a importância da nutrição adequada e os cuidados com a amamentação”, diz Ana Maria.

A amamentação é recomendada tão logo o bebê tenha condições clínicas estáveis e a fissura em si não impede o aleitamento materno. É importante manter o bebê bem elevado e de forma, a diminuir o risco de escape nasal. O apoio da região da fissura na mama pode favorecer o desempenho do bebê na amamentação. Após a cirurgia, a recuperação é rápida: os bebês ficam internados em média de três a cinco dias. Já a cirurgia para correção da fenda palatina demora um pouco mais. O recomendado é que ela seja feita após o primeiro ano de idade, para não comprometer o desenvolvimento da maxila. Geralmente requer duas cirurgias com intervalo de alguns meses entre elas.

Recuperação e tratamento

O atendimento precoce com orientação prévia à cirurgia traz muitos benefícios para o bebê e a família. Cuidados quanto aos hábitos orais e à forma de alimentar antes e depois da cirurgia são importantes para um bom resultado. Após as cirurgias, a criança deve ser acompanhada por diferentes profissionais como pediatra, fonoaudiólogo, nutricionista, ortodontista e psicólogo. Isto porque um fator interfere diretamente no outro, no que diz respeito aos dentes, à fala, à face, às funções alimentares e ao desenvolvimento psicossocial.

Por exemplo, em algumas crianças a voz pode ficar nasalada, e então é indicado o acompanhamento de um fonoaudiólogo. O ortodontista deve monitorar o crescimento do maxilar, dos dentes e o funcionamento da boca em geral. “Feito o tratamento corretamente, a criança tem um desenvolvimento normal”.

Amamentação requer paciência e carinho da mãe

Por ser algo que mexe com o emocional, a principal dificuldade em amamentar uma criança com lábio leporino está na reação da mãe. “Quando identificado durante o ultrassom morfológico, a equipe médica que acompanha o caso pode prepará-la para a amamentação, mas isso vai depender de como ela vai reagir. Em alguns casos, o estresse da situação pode interferir na produção do leite.”

Segundo a fonoaudióloga, em casos mais simples, o próprio seio da mãe veda a fissura, ajudando na sucção. Porém, quando a fissura se estende ao palato, é preciso atenção com o regurgitamento do leite, que passa da cavidade da boca para o nariz. É possível tapar a fissura com uma placa de resina durante a mamada. Existem também bicos com furos maiores de mamadeiras, que visam a facilitar este processo. “Isto vai depender da disposição da mãe e também da adaptação do bebê.”

Causas estão associadas a fatores hereditários e ambientais

A fonoaudióloga explica que as causas de ocorrência do lábio leporino e da fissura do palato são várias, e os fatores hereditários são determinantes. “Há maior probabilidade de nascimento de bebês com fissura em famílias com outros casos. Fatores pré-natais, como a epilepsia materna, a ingestão de anti-inflamatórios nos primeiros meses da gravidez, entre outros fatores ambientais também são determinantes.”

Quando não tratado, o bebê pode sofrer de otite com mais frequência por causa da entrada de líquido no canal do ouvido. “Importante ressaltar que a fissura labial isolada é uma alteração com bom prognóstico, com correção cirúrgica de resultados muito satisfatórios. Vale dizer que uma má formação pode vir acompanhada de outras, com problemas neurológicos associados ou fazendo parte de síndromes genéticas. Por este motivo é preciso ficar atento”, conclui.

* Publicado originalmente no site O que eu tenho.