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Novos telefones da ONU são vulneráveis a grampos

Foto: Reprodução
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Nações Unidas, 30/8/2013 – Em meio à polêmica nos Estados Unidos pela vigilância que o governo exerce sobre as conversas telefônicas de seus cidadãos, a Organização das Nações Unidas (ONU) se equipou com um novo sistema que registra os dados de todas as chamadas feitas em sua sede de Nova York. O fórum mundial embarcou em um programa quinquenal de US$ 2,1 bilhões para modernizar seu edifício central de 39 andares.

Como parte do processo, a companhia Cisco Systems equipou a Secretaria Geral com uma sofisticada rede telefônica, que teria a capacidade de registrar os dados e rastrear todas as chamadas feitas e recebidas pelo pessoal e pelos diplomatas em qualquer parte do prédio. “Se a administração da ONU quiser interceptar as comunicações, está capacitada para isso, dessa forma violando a privacidade”, apontou à IPS uma fonte das Nações Unidas familiarizada com a nova rede.

Por sua vez, a presidente do Sindicato do Pessoal das Nações Unidas, Barbara Tavora-Jainchill, afirmou à IPS: “Temos este novo sistema telefônico, mas nunca havíamos ouvido falar que tivesse essa capacidade”. E acrescentou que, “dessa forma, creio que a administração da ONU deveria agir imediatamente para que a informação trocada pelo pessoal e pelos diplomatas, por telefone ou internet, esteja plenamente protegida e mantida em privado”.

Tavora-Jainchill explicou que cada extensão da nova rede telefônica tem um código de acesso personalizado, que deve ser digitado para se realizar uma ligação para fora do prédio. Os membros do pessoal autorizados a fazer ligações de longa distância também devem especificar se a comunicação é por motivo de trabalho ou pessoal. Neste último caso, o funcionário deve pagar pela sua despesa.

Consultado pela IPS, Martin Nesirky, porta-voz da ONU, afirmou: “A Secretaria efetivamente atualizou seu sistema telefônico com uma telefonia IP, com equipamento e tecnologia da Cisco”. O sistema garante convergência de toda a infraestrutura interna de comunicações de voz e dados, economizando dinheiro e integrando a rede telefônica aos sistemas de tecnologias da informação, acrescentou.

Nesirky insistiu que esta nova rede não inclui nenhum método de “monitoramento” que não existisse no anterior sistema análogo, e tampouco prevê uma função para “vigiar o tráfego na internet”. Porém, admitiu que “a Secretaria já registra os dados de ligações que entram e saem, para calcular a despesa, resolver problemas, realizar diagnósticos e análises estatísticas, além de otimizar o rendimento”. Essa vigilância, afirmou, ocorre segundo um memorando de 2004, do então secretário-geral Kofi Annan, intitulado “Uso de informação, recursos de tecnologia da informação e dados”.

A investigação da IPS fez o tema chegar a uma entrevista coletiva na sede da ONU, no dia 27, mas os representantes da Secretaria Geral evitaram dar mais informações, mantendo-se nas já apresentadas por Nesirky. A fonte vinculada com o novo sistema de telefonia disse à IPS que os dados registrados são um verdadeiro tesouro, pois incluem o histórico detalhado de todas as ligações feitas e recebidas no prédio.

Com esta nova rede, averiguar a atividade telefônica de uma pessoa em particular é fácil. A fonte também disse ignorar quem tem acesso a esses registros e qual o nível de confidencialidade aplicada. “É fácil assumir que todas as chamadas são monitoradas e que quem deseja privacidade em suas ligações é melhor não usar esses telefones e sim o próprio celular ou o Skype” (programa de chamadas via internet), indicou.

O site do jornal alemão Der Spiegel informou, na semana passada, que técnicos da Agência de Segurança Nacional (NSA) dos Estados Unidos decifraram o acesso ao sistema interno de videoconferências da ONU como parte de um programa de espionagem sobre o fórum mundial. Segundo o jornal, a agência também interceptou comunicações internas do escritório da União Europeia nos Estados Unidos. Em seu artigo Como os Estados Unidos Espionam a Europa e a ONU, o Der Spiegel diz que nas três semanas que duraram esses grampos o número de comunicações interceptadas pela NSA aumentou de 12 para 485.

Por outro lado, foram divulgadas informações de que hackers também invadiram equipamentos da Cisco System em outros escritórios. Um artigo publicado em janeiro por Dan Goodin, editor do site sobre tecnologia e informação Ars Technica, revelou que os telefones de internet vendidos pela Cisco System são vulneráveis à ação de hackers, que podem convertê-los em dispositivos remotos de espionagem para ouvir telefonemas particulares e conversas próximas.

A empresa constatou tal vulnerabilidade quase duas semanas após um especialista em segurança demonstrar que qualquer pessoa com acesso físico aos telefones podia executar códigos maliciosos (programa informatizado que se instala em um equipamento mediante engano). A Cisco prevê lançar um software para cobrir esta vulnerabilidade, que afeta vários modelos de seu telefone CiscoUnified IP Phone 7900.

Trata-se da última recordação da ameaça à privacidade que representam os novos telefones, computadores e outros dispositivos de comunicações, afirma o artigo do Ars Technica. Por serem suscetíveis à ação de hackers, podem se converter em ferramentas de espionagem, acrescenta. Envolverde/IPS