Política Pública

Caribe requer agilidade na ajuda prometida

Por Desmond Brown, da IPS – 

Roseau, Dominica, 3/3/2017 – Quando se aproxima o segundo aniversário da devastação causada pela tempestade tropical Erika na pequena ilha de Dominica, continua sem se concretizar parte da ajuda anunciada para enfrentar seus estragos, que incluíram dezenas de mortes, quase 600 pessoas sem teto e danos materiais avaliados em US$ 1 bilhão.

A situação, recorrente em outras tragédias que assolam os países insulares do Caribe devido ao impacto da mudança climática, levou os governantes da área a pedirem maior agilidade na assistência prometida, como parte da resposta a esses fenômenos. No dia 27 de agosto, caíram 381 milímetros de água nessa ilha montanhosa, causando inundações e deslizamentos de terra, que a fizeram retroceder 20 anos em seu desenvolvimento, segundo o primeiro-ministro, Roosevel Skerrit.

Esse país insular não estava preparado para uma tempestade como a Erika. Muitas estradas e pontes não eram resistentes o suficiente para suportar esse grande volume de água. Pouco depois de passada a tormenta, Skerrit declarou que centenas de casas, pontes e estradas ficaram destruídas e que seria necessária uma ajuda econômica de milhões de dólares para recuperar o país.

“Para voltarmos ao ponto em que estávamos antes da Erika, temos que conseguir pelo menos US$ 88,2 milhões para o setor produtivo, US$ 334,55 milhões para infraestrutura e US$ 60,09 milhões  para o setor social”, detalhou Skerrit. Os vizinhos do Caribe foram os primeiros a ajudar Dominica, oferecendo assistência médica e econômica e engenheiros em telecomunicações, ao que se somou o fornecimento de suprimentos essenciais e mão de obra por parte da Venezuela, bem como médicos e enfermeiras de Cuba.

Dezoito meses depois, Dominica ainda está nas primeiras etapas da recuperação, e Skerrit pede a rápida atuação das agências internacionais para ajudar seu país e seus vizinhos, também atingidos pelas severas tempestades dos últimos anos. “Para nós é particularmente importante o Fundo Verde para o Clima (FVC), criado para ajudar na adaptação e mitigação dos efeitos da mudança climática”, afirmou o primeiro-ministro à IPS. “É fundamental que os que devem receber a assistência tenham um acesso relativamente rápido ao Fundo”, indicou.

Por mais louvável que seja, terá um impacto mínimo se o desembolso for tão lento como o ocorrido com outras instituições e agências de crédito. “As crescentes intensidade e frequência desses eventos climáticos nos obriga a enfrentar a realidade da mudança climática”, pontuou, acrescentando que “dificilmente há na região alguém que não tenha sofrido de alguma forma os efeitos do fenômeno e isso ressalta a necessidade de se implantar as medidas contidas no Acordo de Paris”.


O primeiro-ministro das Bahamas, Perry Christie, afirma que as instituições financeiras precisam ter uma consideração especial das circunstâncias únicas de seu país. Foto: Desmond Brown/IPS

 

O FVC foi criado para impulsionar a meta de manter o aumento da temperatura global abaixo dos dois graus Celsius. Trata-se de uma iniciativa global única para responder à mudança climática, que procura investir em um desenvolvimento com baixas emissões de carbono e resistente ao clima. Criado por 194 governos, procura limitar ou reduzir as emissões de gases-estufa nos países em desenvolvimento e ajudar as comunidades vulneráveis a se adaptarem aos impactos inevitáveis do aquecimento do planeta.

Devido à urgência e seriedade do desafio, o Fundo tem mandato para efetivar uma ambiciosa contribuição para uma resposta global unida à mudança climática. O Centro de Mudança Climática da Comunidade Caribenha (CCCCC), com sede em Belize, foi credenciado como entidade regional de implantação pela junta diretora do FVC em 2015. O diretor executivo do centro, Kenrick Leslie, disse que a instituição reflete o grande calibre do trabalho realizado na região e da força dos sistemas internos da mesma.

“Agora avançaremos com uma série de projetos ambiciosos, que desenvolvemos sob instruções da direção da Comunidade do Caribe” (Caricom), explicou Leslie. Como primeira organização regional credenciada, o CCCCC agora é a interface e a via de financiamento do FVC para os pequenos Estados insulares em desenvolvimento do Caribe. Skerrit, que em fevereiro deixou a Presidência da Caricom, formada por 15 membros, disse que visitou o Haiti e as Bahamas durante seu mandato para constatar a devastação causada pelo furacão Matthew, que açoitou a região em 2016.

O Matthew rapidamente se intensificou, passando de tempestade tropical para furacão ao avançar pelo Mar do Caribe, e atingiu a categoria cinco se convertendo em um dos mais fortes na história da bacia do Atlântico, destruindo grandes áreas de Bahamas, Haiti, Cuba e leste dos Estados Unidos. “A magnitude do dano foi grave”, assegurou Skerrit, acompanhado do secretário-geral da Caricom, embaixador Irwin LaRocque, e do diretor executivo da Agência de Gestão de Emergência de Desastres do Caribe, Ronald Jackson.

O governo do Haiti registrou 500 mortos e 1,5 milhão de pessoas necessitando urgente de assistência humanitária, entre elas 120 mil famílias cujas moradias foram destruídas ou gravemente danificadas, apontou Skerrit. A pior devastação ocorreu no cinturão agrícola, o que afetou a distribuição de alimentos para o resto do país.

“A agricultura e a pesca também foram gravemente afetadas nas Bahamas, além das moradias e da infraestrutura nas três ilhas mais atingidas. Os danos são estimados em mais de US$ 500 milhões. Espero que o processo de recuperação esteja bem encaminhado para reconstruir a vida e as formas de sustento dos prejudicados”, prosseguiu Skerrit.

Por sua vez, o primeiro-ministro das Bahamas, Perry Christie, descreveu como seu governo deve enfrentar danos no valor de US$ 600 milhões, em razão do furacão Joaquín, de categoria três, que atingiu o país em 2015, bem como a intrusão do mar causado pelo Matthew no ano seguinte. Christie destacou que as instituições financeiras precisam fazer uma consideração especial das circunstâncias únicas do país.

“Nossa população está distribuída em cem mil milhas quadradas de oceano e, na medida em que nos modernizamos, começamos a sentir os efeitos de ter pessoas ricas conduzindo nossa economia, e que esta é medida em função da renda por habitante. Nos classificaram de tal forma que não estamos qualificados para empréstimos em condições favoráveis”, ressaltou Christie.

“O modelo que agrupa todos os países não considera o desenvolvimento desigual. As pessoas que vivem na ilha de Providência são totalmente diferentes das de outras ilhas mais afastadas. Nos julgam com dureza”, lamentou Christie. “Quando temos um furacão que deixa danos de US$ 600 milhões e precisamos enfrentar a intrusão do mar, derivada do Matthew, o país deve suportar as consequências, mas logo rebaixam o país de categoria porque não há garantias de que terá renda. Esses são os desafios que enfrentam os países da região”, ressaltou. Envolverde/IPS