Economia

CEO com Propósito: Startups brasileiras aceleram a agenda de Sustentabilidade

por Juliana Zellauy, especial para a parceria Ideia Sustentável/Envolverde – 

Nesta terça-feira (24/10) foi realizado em São Paulo o evento CEO com Propósito promovido pela Plataforma Liderança Sustentável que trouxe algumas iniciativas inspiradoras de organizações que vêm construindo soluções para o cumprimento dos ODS – Objetivos do Desenvolvimento Sustentável.

No evento foram apresentados um total de 10 casos de sucesso, sendo que ao longo das apresentações o papel das startups para a promoção do desenvolvimento sustentável ficou ainda mais nítido para mim, que tenho estado mergulhada e fascinada pelo tema.

Veja, os desafios socioambientais têm se tornado cada vez maiores e mais urgentes demandando soluções rápidas e inovadoras, no entanto, grande parte dos modelos de negócios tradicionais não tem sido capazes de atender a esta demanda na velocidade necessária. Neste cenário, começaram a surgir as startups, que além de estarem redefinindo a forma de fazer negócios, têm se mostrado uma importante ferramenta no desenvolvimento de soluções para problemas socioambientais complexos da atualidade.

Por definição startups são um grupo de pessoas que se reúne em busca de um novo modelo de negócios, repetível e escalável que soluciona um problema ou dificuldade enfrentada por seu público-alvo. Se observarmos a definição de Valor Compartilhado dos economistas Michael Porter e Mark Kramer, considerando o cenário de mudanças e desafios que vivemos hoje, as empresas deveriam atuar trabalhando para a geração de valor econômico de forma a criar também valor para a sociedade por meio do enfrentamento de suas necessidades e desafios. Em outras palavras, trata-se da necessidade de trazer a perspectiva social para a estratégia central do negócio.

Neste sentido, as startups têm largado na frente no atendimento a estes desafios e na geração de valor para a sociedade por, entre outros temas, buscarem soluções para questões atuais como de mobilidade, conectividade, saúde e bem-estar, ascensão social, inclusão tecnológica, educação e escassez de recursos. Além disso, estas organizações possuem maior liberdade de atuação, já que operando em um novo modelo de negócios não têm um market share para defender, nem precisam se preocupar com ativos, processos ou regulações pré-existentes como as organizações tradicionais. Como resultado positivo, esta liberdade de criação potencializa a criatividade e possibilita o desenvolvimento de caminhos nunca antes trilhados, potencializando soluções inclusive na área socioambiental.

Ademais, devido a sua característica essencial de promover soluções que atinjam um grande número de pessoas a baixo custo, elas tem contribuído enormemente para lidar com esta agenda de forma rápida e escalável, elementos essenciais para atacar grande parte das problemas socioambientais que atingem bilhões ao redor do mundo, sendo a maioria de baixa renda.

Finalmente, startups fazem do clichê “transformar desafios em oportunidades” uma realidade. Assim, problemas ambientais e sociais importantes que aguardam há anos vontade política para serem solucionados, nas mãos das startups se transformam em alavancas de negócios garantindo não só a solução que a sociedade necessita, mas também a sustentabilidade financeira destas organizações.

Exemplos desta atuação felizmente são muitos e alguns deles foram apresentados durante o evento. A Boomera, por exemplo, atua com os conceitos de economia circular e engenharia reversa transformando resíduos em matérias-primas de novos processos produtivos. Para citar apenas duas entre várias outras iniciativas interessantes é deles o projeto de reciclagem das cápsulas de café Dolce Gusto além da solução inédita de reciclagem de fraldas pós-consumo. Isso mesmo, pós-consumo.

Na área de agricultura, a CEO Mariana Vasconcelos da Agrosmart apresentou as soluções promovidas pela startup que utiliza tecnologias de monitoramento inteligente para o cultivo mais eficiente das lavouras. Como consequência o produtor ganha em produtividade, na redução de custos com energia elétrica, com o combustível e no tempo em campo, além de economizar em até 60% no consumo de água. Lembrando que 70% da água utilizada em nosso país é destinada à agricultura, e que metade deste volume é perdido pela ineficiência dos processos. Fundada em 2014 e tendo obtido apoio de instituições como a Singularity University (USA), Google e NASA a empresa apresenta crescimento exponencial e já opera em 9 países.

Já a Newat apresenta uma solução que utiliza sensores baseados em tecnologia das coisas para detalhar o consumo de energia em instalações residenciais, comerciais ou industriais. Assim, você consegue identificar exatamente qual aparelho, equipamento ou setor consome mais energia para que então seja feita uma atuação precisa sobre o consumo excessivo. Tudo isso por meio de um dispositivo sem fio, sem bateria (já que utiliza a própria energia da rede), que cabe no bolso e é conectado diretamente no quadro de distribuição.

Como pode-se ver, por serem um espaço de liberdade criativa, agilidade e rapidez e por trabalharem com foco nas dificuldades enfrentadas pela sociedade com baixo custo e escalabilidade, as startups são um terreno fértil para o desenvolvimento de ideias disruptivas que tratem questões tão urgentes da maneira necessária, ou seja, com a abrangência, a inovação e a velocidade necessárias para garantir a qualidade de vida para a presente e as futuras gerações.

Nas palavras de Muhammad Yunus, citadas durante o evento por Luciano Gurgel (CEO da organização Yunus Brasil): “os negócios são uma ferramenta poderosa para combater os problemas sociais”. Querido Yunus, os ambientais também. (Ideia Sustentável/Envolverde)

*Juliana Zellauy Feres é executiva da área de sustentabilidade, com passagens por diversas organizações e empresas