ODS11

Chuvas intensas na Bahia e Minas Gerais alertam para a importância da drenagem urbana

Soluções práticas e viáveis para evitar essa repetição de erros já existem, como explica o diretor e coordenador da Câmara Técnica de Gestão de Recursos Hídricos da ABES-SP, Luís Eduardo Grisotto. Entre elas, o especialista destaca que a infraestrutura de drenagem e o manejo de águas pluviais urbanas minimizariam os riscos em grande parte das regiões brasileiras.

O mundo está em transformação. Nas últimas décadas, assistimos a um singular aumento de eventos climáticos catastróficos, alertando para uma situação nunca antes percebida. Somente no ano passado, vimos recordes históricos de temperatura elevada no Canadá, inundações na Alemanha, incêndios recorrentes na Califórnia, Europa, Austrália. No Brasil, além dos incêndios, outro fantasma que traz o alerta para a influência das questões do clima na natureza é o de uma nova crise hídrica, que afetou – e ainda afeta – os reservatórios em boa parte do país.

E agora, neste verão, chegou a vez das chuvas torrenciais e contínuas nas regiões Sudeste e Nordeste, especialmente nos estados da Bahia e de Minas Gerais, cujos efeitos têm sido desastrosos para muitas comunidades e, também, para o meio ambiente. Segundo dados do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais – Cemaden, no sul da Bahia algumas cidades registraram quase 770mm de chuva somente em dezembro, o que corresponde a cinco vezes a média histórica para a região.

Mas por que nossas cidades sofrem, cada vez mais intensamente, com as chuvas?

Entre as respostas, Luís Eduardo Grisotto, diretor da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental – ABES (Seção ABES-SP) e coordenador da Câmara Técnica de Gestão de Recursos Hídricos desta seção, explica que, a despeito de um processo planetário de mudanças climáticas aparentemente em curso (e que tem afetado o regime e a intensidade das precipitações), há um conjunto igualmente importante de elementos que ajudam a explicar esse “sofrimento”. “Entre os fatores, podemos ressaltar os problemas ligados ao descontrole do processo de urbanização e as decorrentes mudanças nas condições de uso e ocupação do solo, sobretudo em áreas ambientalmente sensíveis; as ocupações em áreas de espraiamento natural das águas (as chamadas várzeas), muitas delas irregulares; a canalização de cursos d’água ou a deficiência de estruturas de drenagem; a impermeabilização de ruas e calçadas (ou das próprias edificações); o acúmulo de lixo e entulho em áreas urbanas e cursos d´água; ou a remoção da cobertura vegetal das margens dos rios e córregos”.

Segundo Grisotto, esses são exemplos que, reconhecidamente, têm grande importância na redução da infiltração das águas de chuva e, portanto, no aumento do volume e da velocidade do escoamento superficial dessas águas, alterando o regime hidráulico e de drenagem natural (o chamado “hidrograma de cheias”).

O diretor da ABES-SP salienta, ainda, que os efeitos diretos desse processo são bastantes conhecidos, com destaque para as inundações, para o solapamento de margens e o assoreamento de corpos hídricos. “Além disso, o excesso acumulado de chuvas também é responsável por amplificar as instabilidades geotécnicas, aumentando (ou provocando) eventos de deslizamentos e escorregamentos de encostas, que quase sempre se traduzem em grandes tragédias”, aponta.

Embora o estudo desses fenômenos e a identificação de áreas com risco potencial de prejuízos à população sejam imprescindíveis, historicamente, a infraestrutura de drenagem e o manejo de águas pluviais urbanas não têm sido priorizados no Brasil. “Consideramos que eles têm sido os `primos pobres´ do saneamento. A falta de planejamento e de investimentos continuados, somadas às dificuldades dos municípios para a implantação de obras ou para a operação e gestão desses serviços, são fatores que deprimem, há décadas, os sistemas de drenagem urbana”, destaca Grisotto.

O especialista avalia que ainda que a aprovação recente do novo marco legal de saneamento sinalize e inspire mudanças relevantes nesse segmento, a mitigação da maior parte dos problemas com inundações ainda parece distante. “É nesse sentido que a ABES, por meio de suas Câmaras Temáticas de Drenagem e de Recursos Hídricos, busca contribuir e mudar essa realidade”, ressalta, e, acrescenta: “por meio de debates, eventos, notas técnicas e informação qualificada, a entidade reúne especialistas e ideias para ampliar a segurança da população diante de eventos extremos, atuando, também, na discussão de soluções e de programas de investimento, em propostas voltadas à maior resiliência e aprimoramento dos serviços de drenagem, além de fomentar o desenvolvimento tecnológico e a convivência harmônica das cidades com suas águas, contribuindo para a melhoria do clima, da paisagem, da qualidade e disponibilidade hídrica e, claro, da sustentabilidade ambiental e urbana”, pontua Luís Eduardo Grisotto.

Sobre a ABES 

Com 55 anos de atuação, a Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental –ABES é uma associação com fins não econômicos, que reúne no seu corpo associativo cerca de 10.000 profissionais do setor.

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A ABES tem como missão ser propulsora de atividades técnico-científicas, político-institucionais e de gestão que contribuam para o desenvolvimento do saneamento ambiental, visando à melhoria da saúde, do meio ambiente e da qualidade de vida das pessoas.

É a associação brasileira que reúne a diversidade de profissionais e organizações do setor: empresas públicas e privadas, governos, prestadores de serviços, fornecedores, universidades e profissionais de diversas faixas etárias e várias áreas relacionadas ao saneamento, além da engenharia.

ABES, há 55 anos trabalhando pelo saneamento e pela qualidade de vida dos brasileiros. www.abes-dn.org.br.

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