Sociedade

Crianças precisam ficar mais tempo sozinhas ao ar livre para realmente se conectar com a natureza

por Suzana Camargo, Conexão Planeta – 

Em um mundo cada vez mais conectado, uma das mais importantes e primárias conexões do ser humano ficou de lado: a com a natureza. E isso se reflete em nossas crianças. Pouquíssimas delas têm a oportunidade de conviver do lado de fora, de explorar o mundo que vai muito além das paredes de concreto das nossas casas e cidades. E quem dirá então, fazer isso sozinhas.

“Para criar um vínculo forte com a natureza, você precisa dar às crianças a oportunidade de ficarem sozinhas na natureza ou de vivenciá-la de uma forma que possam se conectar pessoalmente com ela”, diz Kathryn Stevenson, professora do Departamento de Parques, Recreação e Gestão de Turismo da Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos. “Mas você precisa reforçar isso também com experiências sociais com colegas ou adultos ”, completa.

Ao lado de outros pesquisadores, Kathryn é responsável por um estudo, divulgado na publicação científica The Journal of Environmental Education, que enfatiza a importância das crianças passarem mais tempo sozinhas na natureza.

“Percebemos que há diferentes combinações de atividades específicas que podem construir uma forte conexão com a natureza; mas um ponto de partida importante foi estar ao ar livre, em uma atividade mais solitária”, explica.

Para o estudo, foram entrevistadas 1.285 crianças, em idades entre 9 e 12 anos. O foco era analisar que tipo de atividades a ajudavam mais a se conectar com a natureza, ou seja, em momentos durante os quais as crianças curtiam estar ao ar livre e se sentiam confortáveis lá.

Os educadores descobriram que, embora em atividades como a pesca as conexões sejam mais fortes, praticar esportes ou acampar também ajudam a cimentar laços duradouros com o universo natural.
Crianças precisam ficar mais tempo sozinhas ao ar livre para realmente se conectar com a natureza

Acredita-se que esse vínculo com a natureza, caso aconteça logo cedo, pode permanecer pelo resto da vida e não apenas ser benéfico para a saúde mental e física, mas também, para o planeta, já que essas crianças e futuros adultos apresentam uma maior tendência a se engajar pelas causas ambientais, requisito essencial para enfrentar os desafios atuais que vivemos, como a crise climática.

“Quando as pessoas que seguem carreiras com foco no meio ambiente refletem sobre suas vidas, elas descrevem experiências de formação ao ar livre durante a infância, como caminhar em uma trilha favorita ou explorar o riacho perto de casa”, destaca Rachel Szczytko, pesquisadora da Pisces Foundation e principal autora do artigo.

Segundo ela, sabe-se que esse tipo de experiência significativa no começo da vida pode definir o futuro de uma pessoa.

Infelizmente, nos dias de hoje, há uma geração de pais que não enxerga esse potencial cognitivo que o estar ao ar livre traz para seus fihos. Ao invés disso, crianças e adolescentes seguem uma rotina exaustiva – pelo menos antes da pandemia -, de atividades extra-curriculares, como aulas de inglês, robótica, balé e outros esportes.

“Talvez precisemos de programas que permitam que as crianças contemplem mais a natureza ou oportunidades para estabelecer uma conexão pessoal. Algo como sentar em silêncio ou observar o horizonte por conta própria. Pode ser ainda mandar as crianças para o ar livre para fazerem observações por conta própria. Isso não significa que as crianças não devam ser supervisionadas, mas os adultos podem considerar dar um passo para trás e deixar as crianças explorarem por conta própria”, sugere Kathryn Stevenson.

Vale lembrar que no Conexão Planeta, o blog Ser Criança é Natural fala exatamente sobre isso. Juntas, a biólogoa e socióloga Rita Mendonça e a pedagoga Ana Carolina Thomé fazem reflexões sobre a importância da presença e das descobertas dos pequenos no mundo natural.

*Com informações e entrevistas da NC State University

Foto: Drew Gilliam on unsplash

Suzana Camargo
Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.

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