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Cúpula do Brics, centro de negócios

Nkoana-Mashabane elogiou a China por seu papel decisivo para a entrada da África do Sul no Brics. Foto: John Fraser/IPS

 

Johannesburgo, África do Sul, 18/2/2013 – A África do Sul quer aproveitar a próxima cúpula do grupo Brics de economias emergentes para melhorar sua dinâmica comercial com o bloco e com outras nações africanas. Os líderes do Brics, integrado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, se reunirão nos dias 26 e 27 de março, na cidade sul-africana de Durban. “As economias emergentes e em desenvolvimento já desempenham um papel importante na economia global”, disse o executivo-chefe do First National Bank da África do Sul, Michael Jordaan.

“A economia chinesa já é a segunda maior do mundo, com produto interno bruto (PIB) nominal de US$ 7 bilhões, crescendo entre 7% e 8% ao ano”, ressaltou Jordaan. Segundo ele, “também há várias economias emergentes com níveis de PIB superiores ao bilhão de dólares, como Brasil, Rússia, Índia e México. Em contraste, a perspectiva para as economias avançadas (do Norte industrial) é medíocre, pois é preciso considerar que têm grandes cargas de dívida”.

Jordaan afirmou que a cúpula de Durban oferece oportunidades para promover alguns inovadores serviços bancários desenvolvidos pela África do Sul. “Por exemplo, serviços como o banco por telefone celular têm grande potencial na África e em países em desenvolvimento (de outros continentes). E esta tecnologia se aplica melhor em mercados emergentes”, destacou.

Os preparativos para a cúpula estão acelerados: o chanceler da Rússia, Sergey Lavrov, viajou a Pretória na semana passada e se reuniu com a ministra de Relações Internacionais e Cooperação da África do Sul, Maite Nkoana-Mashabane. Ambos afirmaram que existem vários temas globais importantes nos quais o Brics deveria cooperar, como as iniciativas de reforma na Organização das Nações Unidas (ONU), no Fundo Monetário Internacional (FMI) e em outras instituições multilaterais.

Nesta semana, seu colega da China, Yang Jiechi, também visitará a África do Sul em preparação para a cúpula. Nkoana-Mashabane elogiou Pequim por seu papel decisivo para a entrada da África do Sul no Brics. “Creio que o principal papel da China em garantir o ingresso da África do Sul foi a iniciativa correta para criar uma ligação entre a África do Sul e o Brics. A África do Sul está profundamente grata pelo papel que a China desempenhou neste aspecto”, pontuou.

Em Durban, cada um dos líderes do Brics estará acompanhado por uma importante delegação empresarial, e já há muito trabalho fora dos holofotes para garantir um produtivo diálogo de negócios. Um grande desafio para o presidente sul-africano, Jacob Zuma, e outros líderes é convencer empresários como Jordaan a centrarem mais os seus esforços nas economias emergentes.

Os ministros de Comércio realizarão uma sessão conjunta especial com delegações empresariais antes da cúpula, e depois desta será lançado o Conselho de Negócios do grupo, que “será um mecanismo permanente para a interação empresarial”, explicou à IPS o subdiretor-geral do Departamento de Comércio e Indústria da África do Sul, Xavier Carim. Entretanto, na África do Sul a preocupação é que muitos membros das delegações empresariais, que no passado acompanharam Zuma nas reuniões do Brics, foram escolhidos por serem partidários do governo, e não necessariamente porque sua presença fosse útil para forjar novos laços econômicos.

O assessor de negócios e diretor executivo da consultoria Beijing Axis, Kobus van der Wath, participou de duas cúpulas do Brics e disse não estar certo de que nelas se tenha reconhecido o valor da presença empresarial. Os encontros empresariais realizados à margem das cúpulas anteriores nem sempre foram bem preparados. “Espero que possamos organizá-los bem, para permitir a criação de uma rede adequada, com uma base de dados digital dos que estarão presentes, de forma que se possa aproveitar”, detalhou à IPS.

Jordaan afirmou que seu banco e sua instituição associada, o Rand Merchant Bank, já estão envolvidos na Índia e na China, e que a presença da África do Sul no Brics poderá fortalecer esses laços. “Acreditamos que a presença sul-africana no grupo é importante e que nos beneficiaremos de nossas crescentes operações nesses países. Apoiamos as iniciativas dos governos para criar novas vias de crescimento por meio de associações no Brics”, acrescentou.

Entretanto, Jordaan destacou que, apesar de o Brics ser importante, a África do Sul continuará sendo sua grande prioridade. “Estamos muito focados nas oportunidades de crescimento em toda a África, com principal estratégia para a expansão de nossos serviços bancários”, afirmou.

Van der Wath sugeriu que as atividades de China e África do Sul seguirão além dos acordos, concretizados ou não, o Brics. “A China tem certos objetivos em mercados globais em termos de investimentos, comércio e alianças, e os investimentos que temos visto até agora na África não estão relacionados com o Brics”, indicou Van der Wath. “Entretanto o Brics é útil em estabelecer redes e vínculos de governo a governo”, destacou.

Segundo especialistas, a cúpula de Durban será julgada por seu sucesso ou fracasso em fortalecer os vínculos entre o Brics e a África. Porém, os políticos não poderão capitalizar plenamente os resultados, a menos que também possam dar uma dimensão prática às relações, trazendo para bordo os empresários do Brics, algo no qual trabalham duramente os organizadores da cúpula. Envolverde/IPS