Diminuem as reservas mundiais de petróleo, mas não aparece o substituto

Risto Isomaki

Helsinque, Finlândia, dezembro/2011 – O geólogo norte-americano Marion King Hubbert previu, já em 1956, que a produção de petróleo alcançaria seu nível máximo aproximadamente quando tivermos extraído a metade das reservas mundiais e daí em diante começaria a decair até ser insuficiente para a demanda global. Disse, ainda, que isso ocorrerá porque os geólogos tendem a explorar primeiro as jazidas maiores e porque quanto mais se extrai dos poços mais difícil e caro fica recuperar o petróleo remanescente.

A produção mundial pode ter chegado ao seu teto em julho de 2008, com 74,66 milhões de barris diários. Portanto, possivelmente já tenhamos passado o temido Pico Petrolífero Máximo, sem que ninguém se desse conta. Isso ocorreu porque a produção de gás natural continua aumentando e crescentes quantidades de gás são transformadas em vários produtos que substituem o petróleo.

A crise se manifestará quando atingirmos o pico global na produção combinada de petróleo e gás, o fornecimento de hidrocarbonos for inferior à demanda e os preços subirem às nuvens.

Isso pode causar uma série de fortes depressões e intermitentes e curtos períodos de recuperação. A produção de alimentos também sofrerá. Oitenta por cento dos alimentos são produzidos com ajuda de fertilizantes nitrogenados, que consomem gás natural.

Os governos e as empresas se tornaram mais conscientes do problema e enormes quantias de dinheiro são investidas em várias soluções alternativas.

Uma opção é tornar mais acessível a extração de gás natural com uma tecnologia conhecida em geologia como fratura hidráulica, ou fracking. Consiste em bombear sob alta pressão dezenas de milhões de litros de água tratada quimicamente dentro de profundas formações de relativamente impermeáveis rochas sedimentares conhecidas pelo nome de xisto. O líquido quebra o xisto ou faz expandir fraturas pré-existentes e isto provoca a liberação de hidrocarbonos de modo que possam fluir para um poço.

Outra opção é um método conhecido como gaseificação do carvão subterrâneo, ou UCG, pelo qual os veios profundos de carvão são convertidos em syngas (gás de síntese), uma mistura de metano, hidrogênio e monóxido de carbono, mediante a injeção de oxidantes na profundidade do solo.

Há apenas limitadas quantidades de carvão próximo à superfície da Terra, enquanto as reservas que se encontram mais profundamente são enormes. Os depósitos profundos de carvão não podem ser economicamente objeto de extração mineradora com a utilização de meios convencionais, mas podem ser transformados em syngas graças ao método UCG.

O lado negativo é que tanto o fracking como o UCG podem ser uma receita para o pior pesadelo ecológico, pois multiplicariam os recursos recuperáveis de combustíveis fósseis e produziriam uma quantidade muito maior de dióxido de carbono do que já se produziu até agora. Isso teria consequências catastróficas para o clima, já que o dióxido de carbono é um potente gás-estufa. Além disso, um terço do dióxido de carbono que produzimos atualmente se dissolve no oceano, como ácido carbônico. Um crescente número de cientistas afirma que a acidificação dos oceanos poderia, no longo prazo, criar problemas ainda mais graves do que o aquecimento global.

Outro perigo é que parte do metano produzido por fracking ou UCG poderia inevitavelmente vazar dos sistemas de coleta e armazenagem para a atmosfera. Se forem considerados tanto os impactos diretos quanto os indiretos, uma molécula de metano esquentaria nosso planeta 33 vezes mais efetivamente do que uma molécula de dióxido de carbono durante os próximos cem anos.

Então, o que podemos fazer para substituir o gás natural e o petróleo?

Uma terceira opção é usar o óleo do xisto e a areia betuminosa como materiais brutos para produtos substitutos do petróleo, mas isso também produziria amplas emissões de dióxido de carbono.

Pelo menos em teoria, os carros elétricos poderiam substituir os movidos a gasolina e diesel. Contudo, até agora se difundem muito lentamente e também seria praticamente impossível fabricar navios de carga ou aviões elétricos.

Isto nos deixa apenas com duas soluções realistas. Parte do problema pode ser resolvida com medidas de economia de energia e melhoria da eficiência energética, mas parece que também precisamos aumentar nossa produção de biocombustíveis.

Os biocombustíveis têm seus próprios problemas. Frequentemente são necessárias fortes doses de fertilizantes nitrogenados, que, por sua vez, produzem óxido nitroso, um potente gás-estufa. A utilização em grande escala de terras agrícolas para obter biocombustível poderia ter consequências catastróficas tanto para a biodiversidade quanto para o clima.

Porém, os biocombustíveis também podem ser produzidos por meios ecológica e socialmente sustentáveis. Temos imensas superfícies de campos seriamente prejudicados pela erosão e terras de pastoreio que perderam a maior parte de seu carbono orgânico e sua fertilidade, que poderiam ser distribuídas a camponeses sem terras e transformadas em hortas familiares produtoras de alimentos e madeira, bem como de materiais brutos para biocombustíveis. Este poderia ser um excelente meio para resolver os problemas relacionados com o pico do petróleo e do gás de uma maneira que também sirva para proporcionar um sustento decente a centenas de milhões de famílias rurais. Envolverde/IPS

* Risto Isomaki é militante ambientalista e novelista finlandês.