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Direito à educação: Malala se forma em Oxford e comemoração ultrapassa fronteiras

Por Sucena Shkrada Resk* – 
#midiasambientais
A ativista paquistanesa, que luta pelo direito do acesso à educação, em especial, feminino, marca mais um capítulo em sua trajetória inspiradora

A jovem ativista paquistanesa Malala Yousafzai, 22 anos, se formou em Política, Economia e Filosofia, pela Universidade de Oxford, nesta semana. Comemoração que tem um significado especial não só para ela e seus familiares, mas para milhares de pessoas no mundo. O que seria uma conquista de foro íntimo se tornou uma conquista coletiva simbólica principalmente a meninas e jovens de ambos os sexos que não têm acesso à educação e sofrem pressões de regimes, culturas mais restritivas ou se encontram em situação socioeconômica vulnerável, como em países mais pobres e em situação de guerra ou desastres.

A causa sobre o direito à educação se tornou uma bandeira permanente em todo o planeta. Segundo o relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), de 2018, mais de 303 milhões de crianças e adolescentes de 5 a 17 anos (de ambos os sexos) estão fora da escola em todo o mundo, sendo que 104 milhões em países afetados por conflitos e desastres. Neste total, cerca de 132 milhões são meninas; 75% adolescentes.

De acordo com o Banco Mundial, estes cerceamentos à educação de meninas, que as impedem de completar 12 anos de escolaridade, custam aos países entre US$ 15 trilhões e US$ 30 trilhões em perda de produtividade e renda ao longo da vida.

Resiliência e obstinação

A então jovem de 17 anos, que ganhou o Prêmio Nobel da Paz no ano de 2014, depois de enfrentar o desafio de superar um atentado em 2012 em seu país, por defender este direito, tem escrito sua história com autonomia, demonstrando resiliência e obstinação. É um exemplo proativo de empoderamento feminino na sociedade contemporânea. Ela sobreviveu após ser alvejada por um atirador mascarado na perua escolar, que atingiu seu crânio e pescoço. Médicos britânicos a socorreram e levaram para o Reino Unido, onde foi operada em um hospital na cidade de Birmingham e se restabeleceu após tratamento. Na Inglaterra se refugiou com a família, onde vive até hoje.

Como Malala destaca em suas memórias, não quer que ninguém viva o que a marcou a partir de janeiro de 2008, quando tinha apenas 11 anos, e teve de se despedir dos seus colegas de classe na região do vale de Suat, sem saber quando, se alguma vez, os veria novamente. A proibição da presença de estudantes do sexo feminino era a determinação do regime Tehrik-i-Taliban. Uma pressão diária que vivenciou deste período em diante, onde estudavam cerca de 50 mil jovens. Em 2009, escreveu um blog para a BBC, com o pseudônimo de Gul Makai, no qual descreveu as experiências de pressão que passava com as demais estudantes.

Arquivo pessoal: Malala YousafzaiAs sequelas da violência que sofreu sob o regime que quase lhe tirou a vida não foram suficientes para subtrair o sonho de ser protagonista e inspiração para adolescentes que aspiram o direito humano de aprender, ir à escola e escolher os rumos de seus futuros. Nesta semana, com direito a bolo, descontração e “sorrisos largos”, dividiu pelas redes sociais a alegria e gratidão com o ‘mundo’. E fazendo parênteses – vale recordar um dos trechos de seu discurso na Assembleia de Jovens da Organização das Nações Unidas (ONU), quando se recuperou do atentado: “Nossos livros e nossos lápis são nossas melhores armas…”.

Como será seu futuro depois desta etapa? Malala disse em entrevista, que ainda não sabe, mas dará uma pausa para prosseguir sua trajetória. Mas permanece com seu discurso – “Acredito que vamos ver toda garota na escola em minha vida”.

Ativismo pela educação

Em 2014, para colocar em prática esta meta, criou o Fundo Malala junto com seu pai, um educador que era dono de uma rede de escola, onde ela estudava, que se mantém por meio de doações. A instituição tem o objetivo de quebrar o estigma que atinge mais de 130 milhões de meninas que estão fora da escola, como descreve no site da organização não governamental (ONG). Entre as iniciativas, está a Rede de Campeões em Educação, com o investimento em educadores e advogados locais em regiões onde a maioria das meninas está perdendo o ensino médio. A ONG também incentiva a incidência política local à internacional para o ingresso das jovens nesta etapa educacional. Para amplificar as vozes dessas personagens, utiliza a publicação digital e boletim Assembly.

Algumas das ações do Fundo Malala são a reconstrução de escolas na Faixa de Gaza e a abertura de instituições educacionais para refugiados sírios na fronteira com o Líbano.

Chegou a voltar em visita oficial ao Paquistão, em 2018, onde se encontrou com o primeiro-ministro do país na tentativa de mostrar ao governo a importância do acesso feminino às escolas. Uma viagem com forte esquema de segurança, que durou quatro dias. Neste mesmo ano, esteve em um evento no Brasil, que propiciou em 2019, o apoio do Fundo a meninas quilombolas da comunidade Mirandiba, no interior pernambucano.

Nos livros, no cinema e no teatro

A jovem paquistanesa escreveu sua biografia em parceria com a jornalista britânica Christina Lamb, em 2013, com o título “I Am Malala: The Girl Who Stood Up for Education and Was Shot by the Taliban”. No ano de 2014, sua vida se transformou em tema do documentário “Malala”, do diretor norte-americano Davis Guggenheim, que foi indicado ao Oscar.

Aqui no Brasil, para saber um pouco mais a respeito da história de Malala, a jornalista brasileira Adriana Carranca escreveu em 2015, o livro-reportagem “Malala, a menina que queria ir para a escola”, com ilustração de Bruna Assis Brasil. Em 2019, esta obra foi para o teatro, com a peça homônima idealizada pela atriz Tatiana Quadros, com direção de Renato Carrera e adaptação de Rafael Souza-Ribeiro, com canções originais de Adriana Calcanhoto.

A sociedade contemporânea deverá ainda ouvir muito sobre esta garota paquistanesa, uma cidadã do mundo. Para segui-la no twitter é só acessar https://twitter.com/malala .

*Sucena Shkrada Resk é jornalista, formada há 28 anos, pela PUC-SP, com especializações lato sensu em Meio Ambiente e Sociedade e em Política Internacional, pela FESPSP, e autora do Blog Cidadãos do Mundo – jornalista Sucena Shkrada Resk (https://www.cidadaosdomundo.webnode.com), desde 2007, voltado às áreas de cidadania, socioambientalismo e sustentabilidade.

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