CEO da Burburinho Cultural, Priscila Seixas participou, na última quinta-feira (15), do 11° Congresso da Associação Brasileira de Pesquisadores em Comunicação e Política (Compolítica), realizado entre os dias 14 e 16, na Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), em Recife. Na oportunidade, Priscila falou um pouco sobre letramento digital e tecnológico, com base em seu artigo: “O lugar da alfabetização digital no desenvolvimento crítico-informacional: teoria e prática no caso Criar Jogos” – um dos projetos de acesso ao conhecimento desenvolvidos pela Burburinho.
“Neste ano de 2025, por meio de um termo de cooperação com o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT), vamos desenvolver um laboratório alinhado ao Projeto da Escola Nacional de Informação (ENACIN), acrescentando um novo módulo ao curso sobre a Integridade da Informação”, antecipa Priscila, em relação ao conteúdo de sua fala no Compolítica: “são mais de 28 polos do “Criar Jogos” inaugurados pelo Brasil nesses quatro anos de projeto, e a gente vem em um processo constante de aprimoramento por meio de uma metodologia de design”, completa.
Ainda de acordo com Priscila: “A questão principal é: como é possível alinhar as reflexões sobre a integridade da informação, na teoria, com a realidade de estudantes de escolas públicas periféricas brasileiras, levando em consideração a experiência de uma organização civil?”. A executiva e gestora cultural aproveitou sua participação no evento em Recife para lançar seu livro “Método Burburinho de Produzir Cultura”, focado nos projetos desenvolvidos pela Burburinho ao longo dos seus 15 anos de trabalho, escrito em parceria com Thiago Ramires, diretor da Burburinho.
O evento, que trouxe como tema central “Ciência Aberta, Humanidades Digitais e Monetização de Dados: Desafios Democráticos e Epistomológicos para a Pesquisa em Comunicação e Política”, provocou o debate sobre educação crítica e acesso à alfabetização digital. E é neste ponto que entra o projeto “Criar Jogos”, com objetivo de democratizar o acesso de jovens ao mundo dos jogos digitais, sendo uma iniciativa socioeducativa que leva a linguagem da programação à periferia.
“O projeto é um curso gratuito para a formação em desenvolvimento de jogos eletrônicos para jovens entre 12 e 29 anos. Oferecido tanto presencialmente — por meio de laboratórios instalados em instituições de ensino, na maioria das vezes escolas públicas de regiões periféricas das cidades — quanto on-line”, pontua Priscila. O curso é organizado como uma plataforma online em um percurso gamificado. A iniciativa está em consonância, também, ao que está instituído na Política Nacional de Educação Digital. O Plano é uma maneira de estruturação e articulação de ações que visam potencializar o acesso ao mundo digital, principalmente de populações mais vulnerabilizadas.
Sobre o livro
O livro “Método Burburinho de Produzir Cultura” (Ed. Casa Editorial, 91 págs, R$ 49) é um documento incomum do setor da Educação e Cultura, por constituir memória de projetos realizados em teatros, ao ar livre, em periferias ou no centro, em equipamentos culturais ou no espaço público. A obra é, também, rara publicação a desmistificar, através de acertos ou não, a realidade de quem trabalha com leis de incentivo e recursos públicos. Como fio condutor, o público fica a par de atividades que ampliam saberes na sociedade brasileira. A Burburinho Cultural conquistou o Prêmio Atitude Carioca, em 2022, com o projeto Casa Escola de Arte e Tecnologia CEAT, e o Prêmio Rio Sociocultural, em 2011, com o projeto “Cordel com a Corda Toda”.
Fatos históricos das duas últimas décadas do século XX e das duas primeiras do século XXI, por si só, já justificariam a ideia e o argumento: editar em livro uma metodologia de trabalho praticada no território da produção cultural no Brasil. Ora, a inconstância de investimentos em patrocínio continuado, e editais de fomento público à Economia da Cultura/Indústria Criativa é instigante o suficiente para demonstrar ao público em geral e ao profissional de Gestão Cultural como torna-se possível a construção do caminho que materializa exposições, escolas de educação digital, centros de saberes diversos, sempre à serviço da sociedade.
Sobre a Burburinho Cultural
Fundada em 2006, a Burburinho é uma empresa vocacionada e especializada em criação, planejamento, gestão e realização de projetos culturais por meio de recursos públicos, diretos ou indiretos. O livro faz o percurso cronológico da produtora a partir de seu momento inaugural, o ciclo de debates “Marginais e Heróis: 50 anos do manifesto neoconcreto no Brasil”, realizado em 2009 no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB-RJ). A construção da Burburinho entrecruza caminhos, todos convergindo para Niterói, onde está a histórica Universidade Federal Fluminense, que detém o pioneirismo de fundar o primeiro curso de Bacharelado em Produção Cultural em 1995, com a primeira turma a partir de 1996.
O cenário mundial impulsiona a energia dos universitários reunidos no início dos anos 2000. É que em 2006 a Coreia do Norte anunciava seu primeiro teste nuclear; no Iraque, Saddam Hussein era condenado à morte; favorita para o hexa, a Seleção Brasileira perdia a Copa da Alemanha para a França; o presidente Lula disputava e conquistava a reeleição; a Lei Maria da Penha promove histórica mudança de paradigma ao criminalizar a violência contra a mulher. “É neste contexto que um grupo de amigos, universitários de Produção Cultural da UFF decide empreender. Cada um com a própria visão do fazer cultural com sonhos e projetos únicos”, descrevem os autores na introdução.
Ao longo do tempo de trabalho até agora, a Burburinho Cultural geriu equipamentos públicos, dirigindo a programação da Sala Sidnei Müller e Sala Guiomar Novaes, do Teatro Cacilda Becker e da Sala Baden Powell. Além de sempre estar às voltas com projetos no espaço público. O Festival Internacional de Danças Urbanas do Rio de Janeiro (Rio H2K) ocorreu em 2011 e 2012. A Burburinho realizou o primeiro “kemps” de danças urbanas da América Latina, tendo como referência os festivais de danças urbanas que acontecem em todo o mundo, com ênfase na Europa. A ideia partiu do dançarino carioca Bruno Bastos: fazer um festival de dança de rua no Rio de Janeiro, em que os participantes acampassem no lugar onde aulões e batalhas de hip hop fossem acontecer, em outras palavras, os “kemps”.
A Burburinho deu os contornos da iniciativa que teve como parceiros instituições de cultura pública e também parceiros da iniciativa privada. Outro marco foi Multidança Big Dance Rio, de 2012, integrado às Olimpíadas Culturais e aos Jogos Paralímpicos, ocorrendo simultaneamente em Londres, sede dos Jogos Olímpicos de 2012, Pequim, sede das Olimpíadas de 2008 e no Rio de Janeiro, palco do maior evento desportivo do planeta em 2016. A Big Dance, grande dança coreografada por multidões em lugares como museus, shoppings, estações de ônibus e trens, reuniu os coreógrafos Renato Vieira (diretor artístico), Alex Neoral e Renato Cruz no projeto Multidança. Mais de 500 pessoas participaram da iniciativa que ocorreu na Praça Tiradentes. O vídeo foi exibido na abertura dos Jogos Olímpicos de 2012. “Neste ponto do livro mostramos como a Produção Cultural e a Articulação Internacional se relacionam apresentando sempre, em cada capítulo, uma lista de prós e contras. Nossa relação triangula com artistas e patrocinadores, estamos sempre, desde o início, atentos à democratização, descentralização e transformação a cada projeto”, define Thiago Ramires.