Sociedade

Escola sem Partido

Por Wolmer Ricardo Tavares*, revista Gestão Universitária – 

Todos que trabalham com a educação sabem que a mesma é uma ação transformadora, por isso não tem como desvencilhá-la da política, pois todo ato de educar é um ato político, entretanto, pode-se politizar sem que a escola seja tendenciosa, isto é, trabalhar educação sem ir para o viés político.

Assim deve ser uma escola sem doutrinação ideológica e sem partido e foi uma das bandeiras levantadas pelo atual governo, inclusive com pedidos dele e de parlamentares que o apoiaram. Estes pediram aos alunos para que filmassem aulas dos professores e denunciassem caso houvesse algo ligado a doutrinação ideológica.

Chega a ser compreensível tal estultice, pois como digo em meus textos, faz parte do repertório político tais imbecilidades, entretanto, pedir para que os diretores filmem os alunos cantando o hino nacional e o lema eleitoral de Bolsonaro nas escolas, isso ultrapassa qualquer sandice.

O ministro Ricardo Vélez Rodriguez ainda faz um o apelo ao povo ao sugerir: `Brasileiros! Vamos saudar o Brasil dos novos tempos e celebrar a educação responsável e de qualidade a ser desenvolvida na nossa escola pelos professores, em benefício de vocês, alunos, que constituem a nova geração. Brasil acima de tudo. Deus acima de todos!`[1].

Chega a ser cômico apesar de ser trágico, pois o Brasil dos novos tempos que sacrifica seu povo com uma aposentadoria que chega a ser chamada em época de campanha como falta de humanidade, e que hoje quer impor esta barbárie.

Um Brasil novo que massacra o povo com ideias de que o mesmo deverá contribuir durante 40 anos com a previdência e obrigar o simples brasileiro a se aposentar aos 62 anos se mulher e 65 anos se for homem, sem poderem sonhar com uma aposentadoria integral, sendo que o próprio presidente se aposentou com 33 anos.

Temos realmente que fazer cortes, mas este atual governo está sendo apenas um catador de feijão. Conforme com o texto A Educação e os Catadores de Feijão, publicado pela Revista Gestão Universitária em agosto de 2015[2], este termo catadores de feijão é usado para pessoas exercendo um posto de comando, tomam atitudes sem pensar nas consequências, sem pensar no bem estar das pessoas, ignorando sua própria boçalidade e por pura nesciosidade e falta de knowrhow, têm atitudes que ultrapassam a ridicularidade, e este mesmo governo e seus comparsas, acreditam e tentam convencer os demais que suas ações são realmente importantes para a coletividade.

O ministro pede para saudar o Brasil dos novos tempos, que tempos são estes? Tempos em que poucos brasileiros conseguirão gozar de sua aposentadoria e com dignidade? Tempos estes em que viúvas e filhas de militares continuam recebendo expressivos salários oriundos de pensões? É sabido de casos em que mulheres, filhas de militares não se casam para não perderem este privilégio oferecido pelo governo e o mesmo quer impor esta reforma da previdência que a pensão do falecido trabalhador não poderá passar de 60% de seu salário e 10% por dependentes, o que vale aqui lembrar que mais de 70% dos trabalhadores aposentados ganham salário mínimo.

Novos tempos estes que os parlamentares continuam usufruindo de auxílio moradia, auxílio paletó, auxílio saúde extensivo a todos os familiares, viagens pagas com dinheiro público, dentre outras formas que os parlamentarem encontram de usurpar a nação.

Os novos tempos também contam com os benefícios do judiciário que são outros absurdos, ou seja, mexendo na aposentadoria do povo, realmente o Brasil terá o novo rumo, o novo rumo para o aumento das diferenças sociais e o abismo para a miséria de toda uma nação.

O ministro como se não bastasse, vai além e justifica nesta insana carta que tudo isso é para uma educação responsável e de qualidade.

Caro ministro, a educação somente será de qualidade quando os professores forem realmente valorizados, quando o governo e parlamentares perceberem que não existem gastos na educação e sim investimento.

Quando perceberem que a educação de qualidade só será alcançada quando fugirmos a esta domesticação que o ministro está impondo nas escolas.

Quando realmente conseguirmos fazer nossos alunos pensarem e perceberem o quão manipulados estão sendo.

Com esta fala do ministro, dá para perceber que o discurso de escola sem partido nunca existiu, pois de acordo com Carlos Eduardo Gomes Callado Moraes, especialista em direito administrativo e professor da EPD (Escola Paulista de Direito), o uso do slogan de campanha na carta pode ser considerado um ato de improbidade administrativa, ou seja, incompetência de gestão e falta de conhecimento.

Para o professor, o `Segundo o artigo 37 da Constituição Federal, a administração pública deve obedecer ao princípio da impessoalidade, ou seja, não pode atender a interesses pessoais. O parágrafo 1º do mesmo artigo diz ainda que a divulgação de atos de governo deve ter `caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos`.

Sendo assim, não queremos este novo rumo que o ministro sugere. Queremos apenas um país mais humano e que este governo dê ao povo o que ele tanto espera, uma reforma política, extinguindo a máquina corruptora e dando orgulho ao povo e prazer em ser cidadão de em um país que poderá um dia, sonhar em ser novamente uma nação.

*Wolmer Ricardo Tavares -Mestre em educação e sociedade, escritor, palestrante, articulista, colunista, docente, consultor de projetos educacionais e gestão

(#Envolverde)