ODS2

Fome, desperdício, desigualdade e doenças evitáveis não deveriam caber no mundo pós pandemia

por Liliana Peixinho, especial para a Envolverde – 

Num planeta onde a agricultura é base de vida, e tem área e condições para produzir e alimentar bilhões de humanos e outros seres, por que ainda existem milhões de pessoas com fome, ou subnutridos, ou doentes,  por falta de informações, acesso e segurança alimentar? Não seria um contrassenso tanta falta, em meio a tanta fartura?

Com foco nesse debate, começamos hoje uma série de matérias sobre iniciativas, Brasil e mundo afora, sobre Fome, desperdício, desigualdade,  saúde e vida preventiva.

Nos rastros da desigualdade social, tão importante como urgente, é identificar atores sociais  que trabalham, incansavelmente, para   unir as pontas do desperdício aos que tem dificuldade em garantir o que comer. Nessa linha, vamos investigar quem desperdiça, como, porque e quem está na outra ponta, tentando mudar essa  logística, em sistema econômico, perverso, irracional, desumano, ineficiente, do lucro pelo lucro.

Luciana Quintão, que há 22 anos recolhe e distribui alimentos, em SP, fala sobre a importância do trabalho em redes, contra o desperdício, como a ONG Banco de Alimentos, https://www.facebook.com/bancodealimentos/  o  Sesc  e o Movimento  AMA, https://www.facebook.com/groups/amigosdomeioambiente/que desenvolve, desde 1999, a  campanha “Desperdício Zero = Fome Zero= Lixo Zero”,  Nordeste adentro,  Brasil afora!

A Ong  Banco de Alimentos, na Grande São Paulo, presidida por Luciana Quintão, é exemplo multiplicador desse trabalho, há 22 anos. Agora, em cenário de pandemia, entre os dias 01 e 28 de abri foram doadas 115 mil toneladas de alimentos.

Nessa entrevista, a presidente do Banco de Alimentos, Luciana Quintão, destaca problemas sobre  fome, desperdício , desnutrição,  no mundo,  e em especial  no Brasil, onde regiões como o Nordeste necessita de apoio a  trabalhos como as campanhas históricas do Movimento AMA – Amigos do Meio Ambiente contra desperdícios  :  ”Desperdício Zero =  Lixo  Zero = Fome Zero “.

Questionada sobre o atual cenário por que passa a humanidade, em luta pela vida, Luciana Quintão diz que o que se precisa é mais cooperação no mundo todo. E modelos mais eficientes de gestão e geração de renda, com sustentabilidade na produção. Um novo modelo político e econômico, baseado nos interesses realmente humanos.

PERGUNTAS:

1 –  Luciana, o projeto que você coordena na ONG Banco de Alimentos, reforça o foco sobre um do s maiores desafios humanitários: combater a fome contra o desperdício de alimentos. Poderia historiar, por favor, esse trabalho?

Resposta 1 :  Fundei a o Banco de Alimentos Associação Civil  (ONG Banco de Alimentos , ou OBA) em 1998 para combater a fome, através do combate ao desperdício de alimentos. Naquela data tínhamos 57 milhões de brasileiros que viviam com meio salário mínimo para baixo e já éramos umas das 10 maiores economias do mundo! Por outro lado, 1/3 de tudo que é produzido no mundo vai para o lixo. Intervi nessa dinâmica cruel, passando a recolher alimentos perfeitos para o consumo, com todas as suas características nutricionais intactas, e doá-los às entidades assistidas para o nosso programa, as quais acolhem pessoas em situação onde risco social.

2 – Desde sua origem o Ser Humano está a criar condições para se alimentar. Como observa os processos produtivos no mundo e no Brasil, na perspectiva do alimento como fonte de prevenção de vida em saúde.

Resposta 2:  Acredito que nem todos os processos produtivos tem essa preocupação motriz com o ser humano, pois independente do alimento ser ou não saudável, existe uma discussão primeira que é a se esse alimento chega à boca das pessoas. A resposta é que não chega, e esta conclusão é de fácil compreensão: basta se quantificar o tamanho do desperdício, e das pessoas que vivem em insegurança alimentar no mundo. Só no Brasil são 52 milhões de pessoas. Se o desperdício fosse um país, este seria o terceiro maior emissor de gás estufa do mundo, pela decomposição de restos de alimentos. A articulação para se haver o alimento como fonte de prevenção e de saúde das pessoas, envolve outros agentes da sociedade.

3 –  Ao longo da História da Humanidade foram diversos os processos entre produção, consumo e descarte, até chegarmos a modelos de Mercados que hoje chamamos de commodities agrícolas, agronegócio, monocultura, produção em larga escala. Como observa o caminho percorrido pelo alimento, do campo à mesa?

Resposta 3:  Do campo a mesa? Bom alguém produz e alguém, se pode, compra.  Nesta relação existe inúmeras variações de tamanho do produtor, com seu poder de ditar preços e ter lucros. Até um pequeno agricultor que luta para sobreviver.  Fora os intermediários. Do campo à mesa, ocorre um longo caminho de perdas e desperdício de alimentos, seja no armazenamento , seja no transporte, seja no comércio, assim como na própria casa do consumidor mais abastado.

4 – Observamos um engendrado sistema no processo de plantio, uso de solos, controle de produção, técnicas de colheita, logística de escoamento, até as prateleiras e consumidores.  Nesse cenário, como observa a qualidade da alimentação brasileira?

Resposta 4 :   A alimentação brasileira é precária para todos? Não!  No entanto, para grandíssima parte da população brasileira é, já que não tem acesso aos alimentos. Outro ponto importante é que pessoas de baixa renda  geralmente se alimentam mal, com grande quantidade de alimentos não saudáveis, inclusive com obesos desnutridos. Outra parte mais aquinhoada, também se alimenta com excessos, e tem doenças provenientes da má alimentação. Sobre a qualidade da oferta de alimentos, pelos processos citados na pergunta, temos qualidade na produção do campo, porém, somos o país campeão de uso de agrotóxicos  e isso não  faz bem à  saúde , como é do conhecimento geral.

5- Segundo dados da FAO, 95% das perdas de alimentos nos países em desenvolvimento ocorrem nos estágios iniciais da produção, principalmente por conta das limitações financeiras e técnicas. Além das dificuldades para armazenamento, infraestrutura e transporte, que também contribuem para o desperdício, cujas perdas é da ordem de 30 a 40 por cento de tudo o que se produz. Como gestora entre a ponta do desperdício e o combate a fome, especialmente no Brasil, país de tradição de fartura, por um lado, mas com muita falta, por outro, onde está o erro desse desequilíbrio em distribuição e acesso?         

Resposta 5 : A questão principal da falta de acesso aos alimentos é de renda. Este é o erro, ou o X da questão. Equipamentos e programas sociais também são importantes para suprir a carência de acesso aos alimentos assim como suporte ao pequeno            agricultor.

6-Que sugestões o Banco de Alimentos apresenta na cadeia de desperdício de alimentos quando vemos a contradição entre um mundo que produz muito, desperdiça bastante e peca em qualidade alimentar saudável, preventiva e adequada ao bem-estar de uma  humanidade, que, de forma geral, está muito doente?

Resposta 6 : Eu sugiro um choque de realidade. Que a sociedade entenda o que está fazendo e se repense. Informação é muito importante, direção política e econômica também e muita, muita consciência individual e coletiva, assim como boa dose de empatia e solidariedade, inclusive com o meio ambiente, que também vem sendo castigado impiedosamente.

7- A capacidade de produzirmos alimentos em praticamente todas as regiões do planeta  deveria ser indicativo  contra a existência da fome. Mas, a realidade de países da África e mesmo de outros lugares, como o  Brasil, acentua essa contradição. O que instituições internacionais e brasileiras planejam em fazer para garantir esse direito tão básico, como o do bem se alimentar?

Resposta 7 : Não sei o que as instituições mundiais e do Brasil vão fazer. Existem as Metas do Milênio que grandes países insistem em não praticar a contento, enquanto outros fazem a sua parte, No Brasil, crescem os bancos de alimentos de prefeituras e existe o bolsa família O que se precisa mesmo é ter mais cooperação no mundo todo e modelos muito mais eficientes de gestão e geração de renda com sustentabilidade na produção. Basicamente um novo modelo político e econômico, baseado nos interesses realmente humanos.

8 – O planeta foi surpreendido, em pouco tempo, com uma pandemia, ( a COVID  19 )cuja explicação para a sua origem, no coronavírus,  estaria no desequilíbrio entre a exploração humana da Natureza, e seus modos de consumo, inclusive com alimentação de animais exóticos,  como morcego,  manipulado em ambientes com problemas sanitários. Como observa o mundo pós pandemia em cenários de saúde e carência alimentar?

Resposta 8: A alimentação é o primeiro remédio, já dizia Hipócrates, corpo bem nutrido é mais resistente a doenças.  Portanto, todos deveriam comer em condições saudáveis de higiene e do alimento em si. Acredito que a pandemia irá trazer uma grande reflexão com medidas práticas, até porque todas as economias do mundo sofreram com esta questão.

9-A  Ong Banco de Alimentos divulga, em suas Redes Sociais. uma campanha com alta adesão pública de doação de alimentos para distribuição a pessoas com dificuldade de acesso a alimentos. Desde quando a equipe Banco de Alimentos, faz esse trabalho e como é a  relação entre demanda e atendimento,  e a logística do trabalho?  

Resposta 9:  Certamente a demanda é muito maior do   que conseguimos doar. Posso te dar os números do mês de abrill, quando doamos 115 mil toneladas. Isso é maravilhoso e é uma resposta da sociedade neste momento de contração social ampliada Nós fazemos esse trabalho há 22 anos, antes de nós, o  Betinho .Existe o programa do Sesc, também Parece que, agora, a sociedade acordou para este grave problema.  Um belo exemplo é o que acontece em São Paulo capital. e em várias outras cidades. Mas, sabemos que a demanda é muito grande pelo Brasil todo, principalmente e historicamente, no Nordeste.

10- Qual a área geográfica de atuação da ONG Banco de Alimentos, como é a gestão para  captação e aplicação dos recursos/produtos e a qual o perfil médio  do doador?

RESPOSTA 10: Grande São Paulo. A gestão é de uma empresa comum, mas sem lucros.. Temos uma equipe com funções definidas e que orientada pelos gestores. Hoje, nossos maiores parceiros são empresas que trabalham com marketing relacionado à causa. Somos auditados, o que gera confiança nos doadores.

11 – Regiões como o Nordeste do Brasil, historicamente em dificuldades de acesso a recursos como água- base de toda a agricultura- e com altos índices de desperdício em frutas, legumes, hortaliças, orgânicos de quintais,  tem recebido apoio informativo,educativo , de mobilização e articulação socioambiental, através de diversas ações como imersões jornalísticas  comunitárias, in loco, de coletivos como  Movimento AMA- Amigos do Meio  Ambiente, Mídia Orgânica , Reaja- Rede Ativista de Jornalismo Ambiental . Como a Banco de Alimentos observa esses trabalhos , com demandas  históricas, também, em outros lugares do pais, e  iniciativas  como a de  Movimentos como o  AMA  , que desde 1999, desenvolve a campanha , permanente e itinerante : “ Desperdício Zero = Lixo Zero = Fome Zero = Saneamento 10 ”?

Resposta 11)  Consideramos magnífico os trabalhos desses coletivos !!! Percebo que esses movimentos, a sociedade civil, a qual me incluo, faz um excelente trabalho. Esses  coletivos como o Movimento AMA, trabalham em conceitos avançados, inteligentes e urgentes sobre o que o mundo estar a nos requerer. . Observo que o lema desses  trabalhos  vai direto ao ponto de um sistema inteligente e básico, para gerir recursos com eficiência, proteger o meio ambiente, e dar às pessoas o que é de direito das mesmas,

12 Tem experiências de práticas  lixo zero? Poderia  compartilhar informações ?

Resposta 12) Temos sim ! Através da prática de consumo integral dos alimentos, usando as sementes, os talos e as cascas, produz-se lixo zero na cozinha. Fora as embalagens.

Entrevista  exclusiva à Jornalista, ativista, Liliana Peixinho- Especializada em Jornalismo Científico, Meio Ambiente e Tecnologia. Autora da Campanha (lançada em 1999) “Desperdício Zero = Lixo Zero = Fome Zero = Saneamento 10”.  

 Fundadora/Coordenadora de Movimentos e Mídias especializadas em Comunicação, Meio Ambiente, Direitos Humanos, a exemplo da  REAJA – Rede Ativista de  Jornalismo e Ambiente/ Mídia Orgânica/Movimento AMA – Amigos do Meio Ambiente. Colaboradora Envolverde/Carta Capital, Agência de Ciência e Cultura UFBa,  RBJC – Rede Brasileira de Jornalismo Cientifico, RBJA – Rede Brasileira de Jornalismo Ambiental.  Prêmio Shift – Transformadores Sociais. Autora da Campanha, permanente e itinerante, criada em 1999: DESPERDICIO ZERO = LIXO ZERO = FOME ZERO= SANEAMENTO 10

Liliana Peixinho -DRT 1430

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