Política Pública

Inpe de São José cria aplicativo para identificar nuvens com raios

Por Júlio Ottoboni*

Um  aplicativo desenvolvido no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), de São José dos Campos, poderá indicar a previsão de raios durantes tempestades. O novo modelo está sendo testado em Campinas e será um adicional no projeto “SOS – Chuva App”, que pode ser baixado gratuitamente em smartphones e tablets. O novo item estará funcional ainda neste verão. O Brasil é o campeão de raios em todo mundo e as descargas elétricas atmosféricas têm causado prejuízos superiores a R$ 1 bilhão, além de várias mortes.

O território nacional tem uma incidência entre 50 a 75 milhões de raios por ano. Um sistema inédito já em funcionamento consegue  prever com antecedência de 24 horas a queda de raios em todo país. A ferramenta também desenvolvida pelo Inpe antecipa a informação sobre descargas elétricas de uma maneira preventiva, com intenção de se evitar prejuízos materiais e inclusive a ocorrência de mortes resultantes do fenômeno natural.

Junto com o aplicativo para telefones celulares, esse sistema tomou cinco anos de estudos do Grupo de Eletricidade Atmosférica (Elat), coordenado pelo pesquisador Osmar Pinto Júnior. Esse monitoramento público dos raios está disponível no site do instituto e é mais um instrumento para se ter maior amplitude na previsão do tempo.

Já o aplicativo é resultado prático do Projeto Temático Previsão, que tem por objetivo a indicação imediata de tempestades intensas e para se alcançar uma maior compreensão dos processos físicos no interior das nuvens de cúmulo-nimbo (CB).

O teste do aplicativo dos raios é feito hoje por um radar polarimétrico instalado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A ferramenta, ainda em fase de modelagem, possibilitará a estimativa com antecedência de meia hora se nuvens detectadas pelos radares meteorológicos gerarão relâmpagos.

Essas pesquisas empregaram uma rede de sensores, capaz de detectar relâmpago em três dimensões, algo que dá uma nova perspectiva de estudo aos cientistas. Além das latitudes e das longitudes da ocorrência da descarga, também são medidas a altura de cada parte do relâmpago no interior da CB. As avaliações foram feitas nos testes ocorridos no SOS-Chuva no Vale do Paraíba.

A atual rede LMA, que é a sigla em inglês para Lightning Mapping Array foi usada pela primeira vez utilizada no país. Ela é formada por 12 sensores situados na região metropolitana de São Paulo. O projeto tem hoje participação de entidades internacionais, como a Administração Nacional de Oceânica e Atmosférica ( Noaa) e da Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço (Nasa), dos Estados Unidos, além da Universidade de São Paulo.

Os pesquisadores chegaram a conclusão que as nuvens com alta probabilidade de ocorrência de relâmpagos apresentam bastante gelo na faixa onde se encontram temperaturas que variam de zero a 15 graus negativos. Nesta área da nuvem também se encontra muitos cristais de gelo e água líquida super-resfriada.

Essa mistura dentro das nuvens, associada às correntes de ar verticais intensas, criam um zona de maior choque entre as partículas. A consequência deste processo de colisão com extrema velocidade e frequência é a formação de cargas elétricas altamente carregadas, que criam as descargas elétricas atmosféricas no topo da CB, onde as temperaturas são abaixo de 40 graus negativos. (#Envolverde)