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Cultivos adaptáveis diante da mudança climática

A resistência à seca é uma das principais propriedades que a ciência tenta conseguir na melhoria de hortaliças. Foto: Jorge Luis Baños/IPS

Havana, Cuba, 28/6/2012 – Couve, brócolis, cenoura, cebola e outras hortaliças mais resistentes nascem entre as mãos de pesquisadores de Cuba, que persistem há décadas na busca de plantas adaptáveis às condições tropicais próprias da região do Caribe. “Agora estamos focados em tentar desenvolver novas variedades para a mudança climática”, disse à IPS a especialista Laura Muñoz, que lidera um grupo de melhoria vegetal do Instituto de Pesquisas Fundamentais em Agricultura Tropical Alejandro de Humboldt (Inifat), seguidor da estação experimental fundada em 1904.

Isto implica dedicação extrema e longas jornadas de trabalho. Segundo a espécie, a obtenção de um cultivo de hortaliças pode exigir entre cinco e 15 anos. As novas plantas devem ter “crescimento, resistência e vitalidade”, explicou Muñoz. Enquanto isso, o clima continua mudando. Um informe da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) prevê leves consequências do aquecimento global na região até 2020, mas que aumentarão depois de 2050. Então, “poderão ser maiores com aumento de apenas 1,5 grau da temperatura atual”, diz o documento.

Por isso, aumentarão os eventos extremos, como incêndios florestais, inundações, secas, tempestades e furacões mais intensos. Esse panorama anunciado para o futuro próximo apresenta para países de economia em desenvolvimento, como Cuba, a reconfiguração de todas as esferas da vida para enfrentar esse fenômeno global. Entre outros fatores, o estudo divulgado em 2009 afirma que “a adaptação também representa algumas oportunidades para seguir um desenvolvimento mais sustentável, com melhor infraestrutura, pesquisa e desenvolvimento de variedades de cultivos” para manter a produção de alimentos que as populações caribenha e latino-americana necessitam.

Nesta nação do Caribe já foram dados alguns passos nesse sentido. Desde seu começo nos anos 1960, a equipe liderada por Muñoz identificou, no caso cubano, “cinco épocas para plantar com condições diferentes no ano, o que favoreceu muito o entendimento do problema climático”. E hoje analisam mais de 30 espécies hortícolas de diferentes etapas em busca de variedades. Entre elas destacam-se tomate, cebola, alho e pepino, por estarem entre as mais consumidas pelas famílias cubanas. Também incluem em seus estudos o melão de Castilla, melancia, cenoura, berinjela, alface e feijão.

Graças ao trabalho que desenvolvem, Muñoz assegurou que dispõem “para este momento” de variedades de hortaliças mais resistente a pragas e escassez de água, e que são produtivas fora de temporada. Por essa razão, dirigem seus esforços para conseguir plantas adaptáveis ao clima futuro, quando fará mais calor no verão e no inverno. Boa parte das verduras que chegam à mesa dos cubanos cresce na chamada agricultura urbana e suburbana, que consiste em potencializar o cultivo em quintais e áreas das cidades. Desta forma, são explorados alguns terrenos das cidades e se promove um modelo agropecuário sustentável.

“Entre 40% e 45% da produção vegetal provem da agricultura urbana e suburbana”, onde trabalham mais de 300 mil pessoas, estimou o diretor destes sistemas de pequena escala, Nelson Companioni. O Inifat também coordena o desenvolvimento dessa modalidade agrícola no país, revelou em conversa com a IPS. “Aqueles cultivos que estavam adaptados a épocas em que não chovia e a umidade relativa era baixa, hoje enfrentam um sistema totalmente contrário. Antes eram atacados por fungos, doenças causadas sobretudo pelo excesso de umidade”, afirmou o também secretário-executivo de Agricultura Nacional.

Segundo afirmou, este programa tem como desafio obter “uma adequada estrutura de variedades de cultivos, raças de animais e um método adaptado a cada território levando em conta a disponibilidade de água”. Em áreas do leste do país foram trasladados hidropônicos porque esgotou a fonte de água onde estavam localizados. Nos terrenos urbanos, já se colhe a “marién”, uma couve mais resistente à seca. Doze longos anos demorou para vir à luz esta nova variedade, criada por María Benítez, pesquisadora do Inifat. “Compacta e mais forte ao ataque das pragas”, esta hortaliça foi obtida por fitomelhoramento genético, explicou a especialista.

A marién, que recebeu esse nome em homenagem à pesquisadora, representa também a primeira desta espécie vegetal que pode oferecer sementes no ambiente de Cuba. Até sua introdução no mercado, toda couve colhida nesse país nascia de sementes importadas. Agora o Inifat elabora a semente original da nova couve e camponeses e camponesas das províncias de Ciego de Ávila, Villa Clara e Artemisa produzem a básica, informou a especialista. Anualmente Cuba compra cinco toneladas de sementes de couve e em 2011 conseguiu uma tonelada da variedade marién.

Agora, Benítez tenta o melhoramento da rúcula, pouco conhecida nesta ilha. Enquanto a cebola Caribe 71, obtida por Muñoz, este ano é incluída no plano nacional de economia de importações, uma das prioridades do governo de Raúl Castro. A colheita desta cebola roxa pode ser armazenada a temperatura ambiente por até oito meses, o que permite colocá-la no mercado quando esgotam as de sementes compradas no exterior. Em alguns lugares se cultiva o brócolis Tropical F8, adequado pelo Inifat às condições tropicais e que exige menos quantidade de água. Envolverde/IPS

* Com a colaboração de Patricia Grogg.