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Licença social para operar. Temor ou valor?

Por Liliane Rocha*

A licença social para operar (LSO) não é prevista em lei, não está escrita em um papel e não prevê penalidades legais. Diferente das Licença Prévia, Licença de Instalação e Licença de Operação, antigas conhecidas do mundo empresarial, a Licença Social muitas vezes é esquecida pelas empresas, justamente por não fazer parte de um rito formal, normatizado.

No contexto empresarial, por vezes regido por questões exclusivamente monetárias e pautadas em custo versus benefício, a licença social que não está explicitada pelos cálculos mais óbvios e evidentes é comumente esquecida. Contudo, em um mundo cada vez mais interconectado, interligado e intercomunicado, as empresas tem sido pegas de surpresa. De repente, a comunidade bate à porta e quando menos se espera anos de investimento está em risco.

O assunto em si não é novo. Há 3 décadas o especialista Ian Thomson estuda a LSO.  Certa vez mencionou que “Além de obter licença legal para operar, é preciso conseguir no mínimo a anuência da comunidade que deve estar “de acordo” para sua empresa praticar atividades nas vizinhanças.  O ideal é que a pessoas vejam a atividade como vantajosa para elas.  A partir desse momento, elas começam a se referir ao projeto como “nossa mina” ou “nossa fábrica”.  Eles se sentem donos também.”.

Na última década, atuando por meio de empresas junto a comunidades no Brasil, Peru e Colômbia, pude comprovar as palavras de Thomson na prática. As empresas em geral passam anos se preocupando com os trâmites para a obtenção das licenças prévias, de instalação e de operação, mas cada vez mais o momento da inauguração que deveria ser uma grande alegria, se converte em pesadelo.E a licença social que, a priori, parece não ter custo, coloca todo o investimento realizado em risco.

Afinal, quanto custa uma unidade fabril pronta para operar que venha a ser parada pela comunidade? Qual o custo diário em termos de produtos? E o custo para reputação?

Este risco ocorre porqueas empresas ao fazer a lição de casa passam anos estudando e avaliando aspectos práticos relacionados ao negócio, mas se esquecem taxativamente de dialogar com a comunidade. Conhecer as interfaces, compreender suas demandas, expectativas, anseios, vocações.

Não há mal que não possa ser desfeito. Contudo, quase sempre o empenho e esforço necessários quando as empresas já estão em operação e esqueceram de inserir a comunidade no planejamento, se tornam maior. O diálogo que inicialmente seria de construção conjunta, passa a ser um diálogo de auto defesa.

Por isso, fica a dica. Tão importante quanto os aspectos considerados inerentes ao negócio, tais como, viabilidade de recursos naturais, logística, aspectos legais, entre outros, é o diálogo que permite a construção de uma perspectiva de valor compartilhado de curto, médio e longo prazo com as comunidades. Entender as relações locais que envolvem poder público, organizações sociais e sociedade civil. Mergulhar na cultura, valores e história é imprescindível.

Este é o caminho certo para criar valor! Para assegurar, após anos de investimento na etapa de projetos que a operação será exitosa. Não isoladamente, mas em parceria, somando forças à comunidade. Que verá a sua empresa como parte integrante da comunidade e de suas transformações positivas. (#Envolverde)

* Liliane Rocha é diretora Executiva da empresa Gestão Kairós  (www.gestaokairos.com.br), mestranda em Políticas Públicas pela Fundação Getúlio Vargas, MBA Executivo em Gestão da Sustentabilidade na FGV, Extensão de Gestão Responsável para Sustentabilidade pela Fundação Dom Cabral, graduada em Relações Públicas na Cásper Líbero. Gestora com 11 anos de experiência na área de Responsabilidade Social tendo trabalhado em empresas de grande porte – tais como Philips, Banco Real-Santander, Walmart e Grupo Votorantim. Escreve mensalmente para Envolverde sobre Diversidade e Sustentabilidade.