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Minorias da Alemanha se formam em diversidade e inclusão

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Jovens líderes em inclusão participam de um painel para discutir a criação de uma rede de diversidade e inclusão entre as comunidades minoritárias na Alemanha. Foto: Francesca Dziadek/IPS

 

Berlim, Alemanha, 14/1/2015 – Na Alemanha, uma iniciativa única procura criar uma rede de diversidade e inclusão para futuros líderes das comunidades minoritárias não brancas e com diferentes antecedentes culturais. O projeto Network Inclusion Leaders (Rede de Líderes da Inclusão – Nile) realizou seu segundo painel em dezembro do ano passado, em Rathaus Schöneberg, na capital alemã, onde John F. Kennedy fez seu célebre discurso Ich Bin Ein Berliner (Sou Berlinense) diante de 400 mil pessoas, em 1963.

O painel reuniu 15 talentosos catalisadores com idades entre 18 e 28 anos de diferentes origens – afro-alemães, turcos, curdos, latino-americanos e asiáticos – de todo o país. Os participantes mantiveram intercâmbios com importantes personalidades da Alemanha, Grã-Bretanha e dos Estados Unidos, e conversaram sobre os instrumentos para promover uma agenda contra o racismo e a favor da diversidade e das migrações.

Entre os oradores estiveram Simon Woolley, diretor da Operation Black Vote (Operação Voto Negro), da Grã-Bretanha, Mekonnen Mesghena, diretor de migrações e diversidade da Fundação Heinrich-Böll, com sede em Berlim, e Kwesi Aikins, responsável de políticas do Centro de Assuntos Sociais e Migrações.

Também participaram Nuran Yigit, especialista em iniciativas contra a discriminação e integrante do Conselho de Migrações de Berlim-Brandenburgo, Terri Givens, professora-adjunta da norte-americana Universidade de Austin e especialista em políticas radicais, e o professor Kurt Barling, correspondente especial da rede de rádio e televisão BBC.

O Nile é uma criação de dois alunos da geração 2013 da Rede de Líderes da Inclusão Transatlântica, do Fundo German Marshall: Gabriele Gün Tank, de 35 anos, comissionada para Integração de Berlim, e Daniel Gyamerah, de 28 anos, pesquisador e ativista, além de diretor da organização Each One Teach One (Cada Um Ensina Um – Eato), um projeto de mídia e literatura negra.

“A democracia precisa de minorias fortes e bem relacionadas entre si. Na Alemanha, desde o parlamento, passando pelas mídias, até os setores público e privado, tudo é bastante branco. Há muito trabalho a ser feito”, opinou Tank, em uma recepção a alunos da Fundação.

O Nile é o resultado da colaboração de organizações não governamentais, variadas instituições, tais como ministérios federais, e a assistência da Fundação Heinrich-Böll, vinculada ao Partido Verde, a embaixada dos Estados Unidos e a Eberhard-Schultz-Stiftung (Fundação para Direitos Humanos e Participação).

“Avançamos com a governança inclusiva, incluindo capacitação em empoderamento e em melhores práticas”, pontuou Tank. “É de suma importância, se fechar a lacuna em matéria de migração para uma representação social e política mais justa em todos os níveis”, acrescentou.

Merisha Hadziabdic, de 25 anos, contou que se uniu ao Nile convencida de que a criação de redes e coalizões é fundamental para promover mudanças relevantes para sua geração. Nascida em Sarajevo, ela chegou a Berlim aos três anos como refugiada, quando sua família fugiu do massacre de Prijedor, um dos piores crimes de guerra junto com o genocídio de Srebrenica, cometidos pelas autoridades militares e políticas da Sérvia, e no qual morreram 14 mil civis. Ao usar a cabeça coberta com véu em Berlim, costuma ser confundida com uma mulher turca e os consequentes estereótipos de submissão e baixas expectativas.

Como Soufeina Hamed, de 25 anos, nascida na Tunísia, formada na Universidade de Osnabrük, Merisha sabe muito de internet e integra a equipe de projeto da Juma (Jovem, Ativo e Muçulmano) que oferece formação em gestão, retórica e mídia a jovens alemães muçulmanos. Hamed também tem um papel ativo na Zahnräder Netzwerker, uma incubadora de iniciativas sociais para muçulmanos, onde também está Oznan Keskinkilic, com antecedentes turco-árabes, que cursa mestrado em relações internacionais e tem um papel ativo na Conferência Judia-Muçulmana para o Diálogo Inter-Religioso.

A hostilidade contra os imigrantes e os refugiados se expressa em marchas como a de Dresde, no dia 8 de dezembro, quando 15 mil manifestantes, a maioria da Pegida (Europeus Patrióticos Contra a Islamização do Ocidente), marcharam ao grito de “Wir Sind das Volk” (Somos o Povo), característico de 1989.

Jovens talentosos e ambiciosos, Merisha, Soufeina e Oznan formam parte dos quatro milhões de cidadãos e residentes muçulmanos da Alemanha, aproximadamente 5% dos mais de 80 milhões de habitantes. Desses 5%, 45% têm cidadania alemã.

Segundo a agência de inteligência alemã Verfassungsschutz, cerca de 250 mil muçulmanos vivem em Berlim, 73% dos quais são de origem turca, e um em cada três tem cidadania alemã. Pertencem a um setor da população cuja formação e capacitação elevam a inclusão e as expectativas de integração, que requerem mais espaço de participação.

O Nile pretende canalizar assuntos pessoais relacionados com impactos emocionais causados pelo racismo, a discriminação ou os traumas por escapar de zonas em conflito em processos de empoderamento para objetivos comuns, pessoais e profissionais. As ferramentas de empoderamento e liderança são ensinadas como forma de se envolver com o mundo tal qual é, para compreender que as pessoas não brancas não carecem de poder nem são invisíveis.

“Assuma o controle, desenhe suas narrativas com o novo espaço digital disponível e gere confiança com as autoridades para mudar a forma como os meios classificam e refletem nossas comunidades e nossos temas”, enfatizou Kurt Barling, que relata histórias das comunidades que frequentemente passam despercebidas para a maioria que está de costas para o outro.

Os participantes do painel aprenderam a fazer parte de uma massa crítica para criar coalizões estratégicas e reduzir a marginalização, reformular o debate sobre migrações como valor socioeconômico e desafiar a discriminação e o racismo com instrumentos internacionais.

“A liberdade de expressão acaba com a provocação e a humilhação racial e pode-se levar à justiça. Mesmo a educação em direitos humanos é um direito humano”, afirmou Kwesi Aikins. Os participantes do painel do Nile concordaram que o desafio para os jovens é encontrar seu papel entre as limitações das opções em conflito que oferecem a mescla, a assertiva e a esgotadora luta por uma participação justa. Envolverde/IPS