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Mulheres são essenciais em projetos rurais da Ásia

Uma imagem habitual na zona rural do Sri Lanka. Foto: Amantha Perera/IPS

 

Polonnaruwa, Sri Lanka, 21/1/2013 – Durante a temporada de seca, quando as poeirentas ruas racham devido ao calor, a imagem de mulheres caminhando longos quilômetros com baldes de água sobre suas cabeças é comum no Sri Lanka rural. Enquanto os homens vão trabalhar nos arrozais, as mulheres assumem a árdua tarefa de coletar água para uso doméstico. São responsáveis por cada gota consumida ou desperdiçada, e, portanto, são fundamentais em qualquer projeto hídrico.

Talpothta é uma típica aldeia agrícola na zona seca cingalesa, cujo ciclo de vida depende completamente das chuvas, que se tornaram extremamente erráticas nos últimos anos. Em 2006, a aldeia foi escolhida como uma das beneficiárias de um projeto no valor de US$ 263 milhões do Banco Asiático de Desenvolvimento (BAsD), criado para fornecer água potável a 900 mil pessoas nas províncias do norte, centro e leste do país. Entretanto, ao contrário de muitos projetos de desenvolvimento implantados no país, este é liderado principalmente por mulheres, a grande maioria nessa aldeia.

Desde as etapas iniciais, elas foram incluídas nos planos de longo prazo, que incluem a construção de um tanque para armazenar água e a instalação de uma rede de distribuição. As líderes do projeto comunitário cuidam de aconselhar aproximadamente 200 consumidores de água da aldeia, monitoram os pagamentos e, o mais importante, decidem quando e como limitar o consumo na estação seca. Também visitam regularmente as casas da região para controlar o consumo.

Sheila Herath, uma das líderes locais, destacou o importante papel que as mulheres desempenham no projeto. “A mulher é a pessoa do lugar que sabe quanta água se usa e para qual fim. Assim, sabemos quanto se necessita e quando é desnecessária”, afirmou. Os idealizadores do projeto do BAsD conhecem bem este tipo de experiências, não só no Sri Lanka, mas também em outras áreas rurais da Ásia meridional, afirmaram funcionários a IPS.

Metade das pessoas que participaram das reuniões organizadoras e ao menos 25% dos funcionários de governo na Junta de Água são mulheres. Segundo Attanayake Mudiyanse Senevirathana, funcionária pública na localidade de Polonnaruwa, onde trabalha para melhorar o acesso à água potável, as mulheres tradicionalmente têm um papel fundamental neste assunto. “Ainda continua sendo assim. As mulheres também sentem que ganham mais com o êxito de projetos como este”, explicou à IPS.

Graças ao novo projeto, as mulheres em Talpotha contam com mais tempo livre, algo que antes era impossível. Liyadurige Siriyawathi, de 45 anos, retomou o passatempo que abandonou quando se casou há duas décadas: desenhar. Agora ganha cerca de US$ 100 por mês com a venda de seus trabalhos. Outras se dedicam a cultivar jardins e todas têm mais tempo para cuidar dos filhos.

Kusum Athukorale, diretora da Rede de Mulheres Profissionais da Água no Sri Lanka, disse à IPS que uma sexta parte do fornecimento deste país insular deriva de projetos comunitários rurais. E seu sucesso depende da participação das mulheres em todos os níveis, destacou. “São elas que sabem onde estão as fontes de água e quando se precisa dela, e também são elas que caminham vários quilômetros para conseguir água quando há seca”, acrescentou. Athukorale chama essas mulheres de “soldados a pé da adaptação à mudança climática”.

Um relatório do BAsD intitulado Gênero e pobreza urbana na Ásia meridional conclui que o papel das mulheres na administração da água é crucial para a região. “Pesquisas sobre a saúde realizadas em 45 países em desenvolvimento durante o período 2005-2008 concluíram que, em nível mundial, as mulheres suportam a maior carga, como as principais coletoras de água em 64% das famílias, contra 24% no caso dos homens”, detalha o informe.

O estudo alerta que as mulheres, especialmente aquelas das comunidades pobres, correm riscos de sofrer mais devido à falta de acesso à água potável, “pois são as principais consumidoras, fornecedoras e administradoras da água nas famílias, além de responsáveis pela higiene da casa”. O informe também descreve projetos em Bangladesh, Índia, Maldivas e Nepal semelhantes aos de Talpotha, nos quais as mulheres têm um papel preponderante.

Um grupo de mulheres na aldeia de Ramnagara, no Estado indiano de Madhya Pradesh, pressionou as autoridades locais e uma organização não governamental local para que instalassem canalizações perto de suas casas. Como no Sri Lanka, essas tubulações permitiram que as mulheres pudessem dedicar mais tempo a elas mesmas, ao não terem que se dedicar à coleta de água. “Agora, aproveitam o tempo participando de atividades de grupo e explorando outras opções de sustento”, afirma o informe do BAsD.

“Há um acúmulo de evidência demonstrando que, incluindo mulheres na tomada de decisões para um projeto, o êxito é quase instantâneo”, disse à IPS a presidente do Fundo para o Meio Ambiente Mundial (GEF), Naoko Ishii. O GEF é um fundo com participação de governos, instituições internacionais, organizações não governamentais e empresários que apoia projetos relacionados com o desenvolvimento sustentável.

Ishii, que foi vice-ministra de Finanças do Japão e chefe do Banco Mundial no Sri Lanka, destacou o sentido de disciplina das mulheres como fator fundamental, sobretudo nas áreas rurais da África e da Ásia. “Quando as mulheres estão a cargo de um projeto de microfinanças a taxa de reembolso é muito maior”, deu como exemplo. Envolverde/IPS