Clima

Na Cúpula do Clima, mais do mesmo! A difícil missão de convencer sem mudar

Por Reinaldo Canto, especial para a Envolverde – 

Era uma vez um grande e respeitado país do lado de baixo do Equador que ocupava um lugar de destaque mundial nas questões ambientais.

Falar de Brasil era falar do gigante admirado por sua seriedade ainda que sempre passível de críticas, mas acima de tudo como se diz na seara internacional, um player absolutamente fundamental.

Eis que um belo dia de sol rapidamente se transformou para que o céu ocupasse nuvens negras e ameaçadoras. A admiração e o respeito deram lugar ao temor pelas ações tresloucadas, a descrença e mesmo o escárnio.

Faço essa pequena introdução parodiando alguns dos muitos bons livros infanto-juvenis com fantasias típicas da literatura, para dizer que mesmo cometendo esses óbvios exageros esta não deixa de ser o que o nosso amado país vive neste momento da história.

A Cúpula do Clima iniciada nesta quinta-feira, 22 de abril no Dia da Terra é o retrato desse triste cenário que colocou o Brasil nessa situação vexatória. Organizada pelo governo de Joe Biden o tema das mudanças climáticas voltou ao protagonismo necessário após a era Trump. E, todos sabem que o Brasil não pode estar de fora pela potência ambiental que é independentemente do governo de plantão.

De qualquer maneira em outros tempos a posição do país seria de destaque o que definitivamente não foi o caso durante a abertura da Cúpula quando Bolsonaro discursou bem depois de muitos líderes e com a ausência (proposital?) do presidente Biden e de sua vice Kamala Harris que, simplesmente deixaram a sala durante a fala do presidente brasileiro.

O descrédito sobre as intenções do Brasil em se engajar de verdade aos combates globais às mudanças climáticas parecem fazer muito sentido. Mesmo que Bolsonaro tenha dito que irá enfrentar o desmatamento ilegal; neutralizar a emissão dos gases de efeito estufa do país até 2050 (a proposta anterior do governo era 2060) não há razões factuais para acreditar nessas boas intenções.

Pois, entre os inúmeros motivos que levam à desconfiança, se destacam as ações cotidianas e sem trégua do ministro do meio ambiente, Ricardo Salles em destruir e/ou boicotar a legislação ambiental. Um claro exemplo, no começo da semana, 400 funcionários do Ibama divulgaram uma carta denunciando que as atividades de fiscalização estão paralisadas por causa de uma instrução normativa emitida por Salles. Os servidores também acusam a chefia do Ibama de não ter interesse em proteger o meio ambiente.

Segundo James N. Green, National Co-coordinator of the US Network for Democracy in Brazil (USNDB), “o desmantelamento dos órgãos de fiscalização ambiental — que tinham se desenvolvido durante o processo de redemocratização —, aliado ao desrespeito às leis ambientais representam uma brecha democrática hoje no Brasil. O país reduziu o desmatamento em 80% de 2004 a 2012, devido a políticas de liderança governamental, fortalecimento do Ibama e ICMBio, respeito às leis ambientais e implementação de ações ousadas. Os problemas atuais do Brasil podem ser resolvidos, mas não sob o governo de Bolsonaro.”

Ainda podemos acrescentar a enorme repercussão da recente exoneração do então Superintendente da Polícia Federal do Amazonas, Alexandre Saraiva, responsável pela maior apreensão de madeira da história (Confira a entrevista exclusiva de Saraiva nos DIÁLOGOS ENVOLVERDE, clique aqui. ) Ao mesmo tempo a organização Imazon – Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia – divulgou que o desmatamento na Amazônia brasileira atingiu o maior nível em mais de dez anos neste último mês de março.

Para Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, após o discurso de Bolsonaro, “o Brasil sai da cúpula dos líderes como entrou: desacreditado. Bolsonaro passou metade de sua fala pedindo ao mundo dinheiro por conquistas ambientais anteriores, que seu governo tenta destruir desde o dia da posse.”

Vamos ter que aguardar para saber se efetivamente o mundo conseguirá convencer os negacionistas do clima e com visão de desenvolvimento dos anos 50 do século passado serão efetivamente obrigados a mudar de posição. Por enquanto isso não foi possível. Talvez seja preciso desenhar… quem sabe.

#Envolverde

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