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Nos EUA, comunidade LGBT tem seu reduto no Congresso

Dos 331,5 milhões de norte-americanos, 5% se reconhecem parte da comunidade de lésbicas, gays, bissexuais e transexuais, segundo Jared Polis, congressista pelo Estado do Colorado. Foto: Jeffrey Beall/cc by 2.0

Atlanta, Estados Unidos, 28/3/2013 – Enquanto o debate sobre casamento entre pessoas do mesmo sexo persiste nos Estados Unidos, a comunidade de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros (LGBT) espera contar com renovado impulso a partir deste ano graças à voz que ganhou no Congresso. A mudança chegou inexoravelmente aos corredores do poder: um recorde de sete políticos abertamente homossexuais ou bissexuais integram a nova assembleia legislativa.

Embora ainda pequeno, o número representa significativo aumento em relação à legislatura anterior, quando havia apenas quatro. “Em 2012, quase duplicamos o número de membros do Congresso que eram LGBT, incluindo o primeiro senador, por isso foi um ano realmente importante”, destacou à IPS Denis Dison, vice-presidente de comunicações da Victory Fund, organização que coleta fundos para candidatos abertamente homossexuais.

Os quatro congressistas LGBT da legislatura anterior foram os representantes Barney Frank, de Massachusetts, Tammy Baldwin, de Wisconsin, Jared Polis, do Colorado e David Cicilline, de Rhode Island. A situação para a comunidade LGBT se complicou no ano passado quando Frank, legislador progressista que esteve no Congresso desde 1980, decidiu se retirar, e Baldwin optou por abandonar sua cadeira e se candidatar ao Senado. Isto deixava Polis e Cicilline como as únicas vozes da minoria gay na Câmara de Representantes.

Entretanto, depois foram eleitos outros três políticos abertamente homossexuais: Sean Patrick Maloney, de Nova York, Mark Pocan, de Wisconsin, e Mark Takano, da Califórnia. Também ocupou uma vaga Kyrsten Sinema, do Arizona, primeira congressista a se declarar abertamente bissexual. Portanto, os atuais sete congressistas da comunidade LGBT são: Cicilline, Maloney, Pocan, Polis, Sinema e Takano na Câmara de Representantes, e Baldwin no Senado.

Polis disse se sentir muito entusiasmado com esta presença recorde no Congresso de membros da comunidade LGBT. “Embora não reflita a proporção na população geral, pelo menos é um movimento na direção correta”, disse à IPS, e explicou que cerca de 5% dos 331,5 milhões de norte-americanos se reconhecem como parte dessa comunidade. “Teria que haver entre 20% e 30% de legisladores da comunidade LGBT”, de um total de 435 membros do Congresso, afirmou Polis. “Tampouco temos uma justa representação de mulheres. Fazemos progressos, mas ainda estamos em dívida com outros grupos minoritários”, destacou.

Segundo Dison, “para ser claro, nosso Congresso nunca reflete como são realmente os Estados Unidos”. E acrescentou que “as mulheres nunca estiveram adequadamente representadas, nem os negros. Os homens brancos e heterossexuais têm uma representação absolutamente exagerada na política, e terão por muitos e muitos anos”, ressaltou.

O primeiro congressista abertamente homossexual, Gerry Studds, de Massachusetts, foi obrigado a abandonar a vaga em 1983 devido a um escândalo por causa de uma relação com um adolescente de 17 anos. Barney Frank foi eleito pela  primeira vez em 1980, mas se passaram sete anos para que “saísse do armário”. Porém, os tempos mudaram. Baldwin se converteu na primeira pessoa abertamente homossexual a ter acesso a uma cadeira quando foi eleita para a Câmara de Representantes em 1998. Ela declarou sua homossexualidade aos 21 anos e seus pais a apoiaram com entusiasmo, disse à revista Metro Weekly em 2009.

Por sua vez, Polis já havia se declarado homossexual quando trabalhava como empresário. Ajudou a abrir várias escolas subsidiadas no Colorado antes de se candidatar ao Congresso. Ele e seu companheiro, Marlon Reis, têm um filho, Caspian Julios, nascido em 2011. Ambos se negaram a informar se a criança foi adotada ou nasceu de barriga de aluguel.

Polis disse à IPS que desde que chegou ao Congresso não sofreu aberta discriminação nem homofobia de outros legisladores. “Nunca houve problemas. Todos entendem que cada um foi eleito como corresponde”, afirmou. “A questão é que ainda não temos benefícios suficientes para nossos companheiros. Esta é uma grande frustração”, acrescentou. Baldwin apresentou um projeto de lei para estender os benefícios do Estado aos casais de funcionários federais, incluindo os membros do Congresso, mas o texto parou na Câmara de Representantes.

Porém, isso pode mudar. “Ter seis membros permite à nossa comunidade estar presente em diversos comitês. Acontece uma discussão diferente quando há uma pessoa LGBT na sala”, disse Polis. O Congresso “funciona melhor quando o país está representado como um todo, os tipos de trabalho que as pessoas têm, os tipos de famílias que existem, sua origem étnica e sua fé”, acrescentou.

“Também é possível ver membros do LGBT do Congresso interessados em outros temas de discriminação, seja racial ou de gênero, e participando de coalizões, já que são parte da experiência compartilhada de serem minoria”, disse, por sua vez, Dison. Todos os atuais congressistas homossexuais ou bissexuais pertencem ao governante Partido Democrata. Mas, no passado houve dois legisladores homossexuais do agora opositor Partido Republicano: Jim Kolbe, do Arizona, e Steve Gunderson, de Wisconsin.

A crescente abertura dos Estados Unidos para uma representação mais diversa na política talvez tenha ficado melhor exemplificada no discurso de campanha de Mazie Hirono, do Havaí, eleita no ano passado para o Senado. “Trago quádrupla diversidade ao Senado”, declarou em um comício: “Sou mulher. Serei a primeira mulher asiática eleita para o Senado. Sou imigrante. Sou budista. Quando digo isto em minhas reuniões, alguns me dizem, ‘sim, mas você é gay?’ E eu respondo que ninguém é perfeito”. Envolverde/IPS