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O Caribe se esforça para adaptar-se a uma estação seca sem fim

Cientistas do Caribe desenvolvem variedades de cultivos resistentes à seca que distribuem a agricultores nos países mais afetados pela mudança climática. Foto: Desmond Brown/IPS
Cientistas do Caribe desenvolvem variedades de cultivos resistentes à seca que distribuem a agricultores nos países mais afetados pela mudança climática. Foto: Desmond Brown/IPS

 

Saint John’s, Antiga e Barbuda, 30/6/2014 – Os esforços do Caribe para garantir sua segurança alimentar estão em risco porque os agricultores não conseguem produzir a quantidade necessária de alimentos básicos, devido à severa seca que atinge a região por causa da mudança climática. Mas os cientistas enfrentam a situação criando uma variedade de sementes tolerantes à falta de água, que são distribuídas entre os agricultores nos países mais prejudicados.

“Nos afeta principalmente a seca”, disse Gregory Robin, representante do Instituto de Desenvolvimento e Pesquisa Agrícola do Caribe (Cardi) e coordenador técnico da Organização de Estados do Caribe Oriental (OECS). O Cardi, com sede em Trinidad e Tobago, “busca métodos de gestão sustentável para a produção usando variedades que toleram as condições secas. Trabalhamos com alguns produtos básicos e fazemos pesquisa aplicada para produzi-los na estação seca”, explicou a IPS.

A organização, que trabalha há mais de 30 anos para fortalecer o setor agrícola dos países membros da Caricom (Comunidade do Caribe), está à frente dessas pesquisas. “Começamos primeiro com os cultivos que foram mais significativamente afetados pela seca. Tomamos, por exemplo, o inhame, que requer muita umidade, e me dedico a ele em São Vicente e Santa Lúcia”, afirmou Robin.

“A validação servirá para Jamaica, Granada, República Dominicana, todas as ilhas que produzem inhame. Às vezes não é rentável fazer atividades em todas as ilhas, por isso em algumas ocasiões o trabalho com batata-doce que se faz aqui é usado em Saint Kits, Barbados e outras ilhas com semelhantes zonas agroecológicas e padrões de chuvas”, acrescentou o especialista.

“O Cardi tem um grupo de profissionais na região, assim, se temos qualquer questão de mudança climática e seca, o Instituto conta com um corpo de cientistas disponível em todas as ilhas da Caricom”, afirmou Robin. O cultivo ao qual se dá especial atenção é a batata-doce. Robin disse que esta é muito importante e básica para a segurança alimentar e também como fonte de divisas.

“Trabalhamos com os cultivos que acreditamos que serão mais afetados. A batata-doce pode aguentar um grande nível de estresse hídrico, mas o inhame e outros que exigem grande quantidade de umidade não suportarão tão bem, por isso primeiro começamos com os que exigem maior quantidade de água”, explicou Robin. Ao afirmar que a irrigação é essencial para a produtividade, o especialista do Cardi ressaltou que “há sete anos trabalho aqui e é a primeira vez que vejo o lugar tão seco, o que destaca a necessidade de olhar para nossos sistemas para coletar água de chuva”.

A mudança climática também obrigou a Guiana, considerada o celeiro do Caribe, a desenvolver novas variedades. “Também plantamos diferentes variedades de cultivos resistentes à água salgada porque um dos impactos da mudança climática é que esta invade a terra, por isso pesquisamos arroz resistente ao sal, por exemplo. Além disso, buscamos cultivos que sejam muito mais resistentes a um clima seco e que possam tolerar períodos de inundações”, disse à IPS o ministro da Agricultura, Leslie Ramsammy. “Fizemos coisas como irrigação por gotejamento, utilizamos tecnologia e métodos, bem como animais e cultivos, que são muito mais resistentes às condições climáticas extremas”, acrescentou.

Além de criar variedades tolerantes à seca, o Cardi também desenvolve novas tecnologias para ajudar os agricultores com a irrigação. “Lembro que quando comecei na agricultura, provavelmente há 20 anos, os produtores costumavam irrigar com baldes”, disse Bradbury Browne à IPS. Mas acrescentou que, com os anos, o Cardi introduziu a tecnologia de irrigação por gotejamento e outros métodos.

“Por exemplo, se quero aplicar três mil galões de água em um acre de batata-doce posso programar o sistema de irrigação para não precisar estar presente para abrir a torneira e não haverá problemas de inundação caso me chamem para uma emergência”, explicou Browne, que agora trabalha com técnico de campo no Cardi.

Por outro lado, o legislador de Antiga e Barbuda, Baldwin Spencer, disse que se prevê que as secas extremas e frequentes se converterão em uma característica do clima do Caribe. Também afirmou que o impacto das condições secas aumentará o estresse calórico, em particular para a população mais vulnerável, como as pessoas idosas.

“Apesar da queda na produção e exportação de importantes produtos básicos do setor agrícola da OECS, a agricultura continua sendo um setor importante no desenvolvimento social e econômico da região do ponto de vista da segurança alimentar, da estabilidade rural e das contribuições a outros setores produtivos”, apontou Spencer, que foi primeiro-ministro de Antiga e Barbuda entre março de 2004 e junho deste ano. “Esses benefícios estão em risco por eventos climáticos, os quais aumentam na medida em que o clima continua mudando”, ressaltou.

Os especialistas projetam que a diminuição na produção de importantes cultivos, combinada com o aumento da demanda por alimentos, representa grandes riscos em todos os aspectos da segurança alimentar no mundo e na região, incluindo o acesso aos alimentos, o aproveitamento e a estabilidade de preços.

O Banco Mundial indicou que a segurança alimentar é considerada de forma consistente um dos principais desafios para as próximas décadas e que, até 2050, o mundo deverá produzir alimento suficiente para atender a demanda superior a dois bilhões de pessoas a mais do que os 7,2 bilhões de agora. Também afirmou que a maioria do crescimento populacional se concentrará nos países em desenvolvimento, o que aumentará as pressões sobre suas necessidades de se desenvolverem.

Segundo o Banco Mundial, para cumprir as demandas alimentares, a produção agrícola precisa aumentar entre 50% e 70%, segundo diferentes estimativas. E isso ocorrerá porque se projeta que o impacto da mudança climática se intensificará, em particular afetando os países mais pobres e vulneráveis. Envolverde/IPS