O Dia da Sobrecarga nos lembra que estamos usando mais recursos e produzindo mais carbono do que o planeta é capaz de suportar. Na imagem, a Terra vista da Estação Internacional. Foto: © Nasa
O Dia da Sobrecarga nos lembra que estamos usando mais recursos e produzindo mais carbono do que o planeta é capaz de suportar. Na imagem, a Terra vista da Estação Internacional. Foto: © Nasa

Por Michel de Souza Rodrigues dos Santos*

Hoje é dia 8 de agosto de 2016. Do ponto de vista da capacidade da Terra em regenerar os recursos naturais utilizados pela humanidade, já estamos no final o ano. Eu explico. Chegamos ao Dia de Sobrecarga da Terra (Overshoot Day, em inglês), quando a demanda exercida pelos nossos hábitos de consumo sobre a natureza esgota o que o planeta pode restabelecer no período de um ano.

Mais claro ainda? Entramos no cheque especial do planeta quase cinco meses antes do fim do ano. Os cálculos são feitos pela Global Footprint Network (EFN), organização internacional parceira da Rede WWF e que monitora a Pegada Ecológica das cidades pelo mundo.

Em 2000, o Overshoot Day aconteceu em 5 de outubro. Dez anos depois, já havia se adiantado para 31 de agosto. E agora reduziu mais 18 longos dias. Ele é calculado com base em quatro fatores-chave: o quanto nós consumimos; com qual eficiência os produtos são feitos; qual o tamanho da população do planeta; e o quanto de recursos renováveis os ecossistemas da natureza são capazes de produzir.

No mundo, a Pegada Ecológica (cálculo que avalia os recursos naturais renováveis disponíveis em comparação ao volume utilizado pela população) é de 2,7 hectares globais por habitante – o Brasil tem média um pouco mais alta, de 2,9.

Ou seja, precisaríamos de 1,6 planeta para sustentar o estilo de vida atual.

Caso as projeções moderadas das Nações Unidas para o crescimento da população e consumo se confirmem, necessitaremos da capacidade de dois planetas para suprir nossas demandas em 2030.

A partir de amanhã, e com apenas 2/3 do ano completos, passamos a operar novamente em déficit ecológico, dívida que já se acumula desde meados da década de 1970 e que cobra seu preço nas formas de erosão do solo, desertificação, desflorestamento, extinção massiva de espécies, colapso no estoque de pesca e, obviamente, aumento da concentração de carbono na atmosfera, responsável pelas mudanças no clima.

A boa notícia é que há esperança.

A quantidade de carbono equivalente (a soma dos gases de efeito estufa) emitida representa 60% da Pegada Ecológica da Terra, e cresce em alta velocidade.

Em abril desse ano 195 países, incluindo o Brasil, assinaram o Acordo de Paris, documento aprovado durante a Convenção das Partes das Nações Unidas (COP 21) em dezembro, na capital francesa. Ele limita o aumento médio global da temperatura em 2 graus Celsius baseado nos níveis pré-industriais, com esforços para não ultrapassar a barreira do 1,5 grau C.

No entanto, mesmo que os países cumpram tudo o que está oficialmente prometido para o Acordo de Paris, ainda estaremos longe de alcançar a meta proposta.

Mas não são apenas as nações, enquanto entidades distantes de nossa vida prática, que podem contribuir para o combate às mudanças no clima. Isso deve partir também de você.

Como?

Existem inúmeras maneiras, como cobrar o poder público por mais medidas rumo a uma economia de baixo carbono, se voluntariar em uma ONG que trabalhe com o tema, como o WWF-Brasil, reduzir o uso de automóveis e o desperdício de alimentos, ou separar o lixo de sua casa, entre recicláveis e orgânicos.

Mas você pode começar de um jeito ainda mais simples: com um tuíte, ou um post em suas redes sociais, sobre o Dia de Sobrecarga da Terra. Eu te convido a inundar a internet para falar desse assunto. Vamos juntos? (WWF Brasil/ #Envolverde)

Michel de Souza Rodrigues dos Santos é especialista em Políticas Públicas do WWF-Brasil, trabalha há mais de 10 anos com sustentabilidade.

** Publicado originalmente no site O ECO e retirado do site WWF Brasil